O bocejo é um movimento considerado muito complexo pelos especialistas. Do ponto de vista evolutivo, ele segue passando de geração em geração em várias espécies. Porém, o bocejo é um padrão de movimento que não é muito estudado. Com isso, a ciência ainda não sabe responder, com certeza, o porquê o ato existe e qual a função dele. Mas ele é contagioso?
Segundo a professora de neurologista da Universidade Feevale Helena Fussiger, uma das principais hipóteses sobre bocejar é que a contração muscular teria como objetivo aumentar o diâmetro da via aérea superior. Quando o corpo começa a ficar sonolento, toda a musculatura do corpo tende a ficar mais relaxada. Quando isso acontece, a via aérea superior relaxa também e diminui de diâmetro, gerando um gatilho para o corpo bocejar e voltar ao seu estado de alerta.
Apesar de ser uma hipótese, não é possível confirmar que a ação aumenta diretamente o nível de oxigenação no cérebro, pois os estudos realizados até então não foram conclusivos. O que se sabe é que o bocejo aumenta o fluxo de ar e, de maneira tardia, eleva a quantidade de oxigênio na região cerebral.
Com o aumento de ventilação no cérebro decorrente do bocejo, o corpo passa de sonolento para um estado de alerta. Ou seja, de acordo com essa teoria, o bocejo não é um aviso de sono, mas sim uma tentativa de manter o corpo acordado.
O bocejo é controlado principalmente por núcleos do tronco encefálico. É nessa região que ficam agrupados a maioria dos neurônios envolvidos nesse movimento motor. Com isso, há outras teorias que dizem que bocejar poderia causar um resfriamento cerebral e essa seria sua função. Porém, conforme a neurologista, essa hipótese não ganha força pela dificuldade fisiológica de provar que o bocejo tenha essa capacidade.
Além de indicar a presença de sono, existem estudos que sugerem que a indução anestésica gera bocejos por colocar o corpo num estado de relaxamento. Ansiedade e fome também podem desencadear gatilhos que geram bocejos em algumas pessoas.
É verdade que posso bocejar vendo alguém fazer o mesmo?
O bocejo é sim contagioso, e isso é um fato para ciência. O que ainda é nebuloso são as razões disso. E mais, bocejar não é só contagioso entre seres humanos, o seu cachorro ou gato também se sente motivado a repetir o movimento quando observa o tutor fazendo.
— O bocejo contagioso parece ser algo mais de comportamento social e de empatia. Existe um estudo que falou que pessoas com traços de psicopatia bocejam menos ao ver outra pessoa bocejando. Por outro lado, as gestantes bocejam bem mais de maneira contagiosa — explica Helena.
Ou seja, os indícios apontam para uma relação emotiva entre ver alguém bocejando e fazer o mesmo. Um dos fatos interessantes sobre o bocejo ser contagioso, é que qualquer sentido pode desencadeá-lo. Portanto, ler ou falar sobre o assunto já é capaz de fazer uma pessoa bocejar. Não se surpreenda ao fazer isso enquanto lê essa matéria.
Também é possível provocar bocejos forçados na tentativa de despertar o corpo. Conforme Helena, basta abrir a mandíbula, colocar a ponta da língua no céu da boca e inspirar devagar repetidas vezes para que a maioria das pessoas bocejem. O movimento simula uma obstrução das vias aéreas e, por isso, é capaz de induzir um bocejo.
Além disso, a média de bocejos para um adulto é de cerca de nove por dia. No entanto, algumas condições neurológicas ou de obstrução respiratória podem interferir nessa quantidade. No entanto, para a quantidade excessiva ser considerada como indicador de algum distúrbio é preciso que ela esteja associada a outros sintomas.
— Dificilmente isso será um sintoma isolado. Na maioria dos casos vai ser acompanhado de um quadro de sintomas e outros sinais — completa a neurologista.
E se você quer passar uma boa impressão evitando bocejos em momentos inapropriados, temos uma má notícia: não é possível interromper um bocejo no meio. Quando o gatilho do movimento é ativado no corpo, é muito difícil que ele seja controlado. Já que o bocejo é despertado quando o corpo relaxa, a melhor forma de evitar o constrangimento é manter um comportamento que estimule os sentidos a ficarem em alerta. E se você bocejar, saiba que a maioria da sala fará o mesmo.
— Por mais que não se entenda o porquê do bocejo, todos os tipos de comportamento que são conservados entre diferentes espécies ao longo do tempo devem ter um motivo fisiológico importante, por mais que a gente não saiba — diz a professora.
Uma das coisas que corroboram a afirmação da neurologista é que fetos, ainda dentro do útero, já bocejam. Mesmo sem serem ensinadas, as crianças já nascem sabendo bocejar e fazendo isso automaticamente.