Embora todos possam se contaminar, crianças, idosos e imunocomprometidos são os grupos de alerta para os vírus respiratórios que circulam com mais intensidade durante os meses de frio. Além do coronavírus e da influenza, os vírus de resfriado, como o sincicial respiratório (VSR), também podem causar sequelas e, diferentemente dos outros, não têm imunização.
Pneumologista do Hospital Ernesto Dornelles, de Porto Alegre, Maurício Leite explica que esses vírus circulam ao longo de todo o ano. No entanto, os casos têm maior incidência no outono e no inverno, quando as pessoas se aglomeram em ambientes pouco ventilados.
— É o motivo pelo qual nessa época do ano iniciamos a cobertura da influenza, que infelizmente pode matar — acrescenta o médico, lembrando que crianças entre seis meses e seis anos, pessoas com mais de 60 anos e pessoas com comorbidades, entre outros, já podem se vacinar contra a gripe nas unidades básicas de saúde.
Todos os vírus respiratórios causam sintomas semelhantes, como febre, nariz escorrendo, espirros e tosse seca. Graças à imunização, quem pega covid-19 passou a apresentar quadros mais leves, enquanto os graves ficam concentrados nos grupos de risco, como os idosos e pacientes com a imunidade comprometida - além de quem não se vacinou.
A influenza também pode ter manifestação crítica e, nos grupos de risco, possibilidade de levar à morte. Costuma se caracterizar pela febre alta e prostração. Já os vírus respiratórios, como o sincicial, afetam a região da nasofaringe, causando dor de garganta, obstrução do nariz e coriza, mas sem febre e sem deixar de cama.
— Os sintomas das doenças virais são semelhantes nas formas leves, mas, nas formas graves, diferem um pouquinho, especialmente o da influeza, que apresenta quadro febril, dor no corpo, prostração, dificuldade para respirar e comprometimento pulmonar — reforça o médico.
Cuidado com bebês
Segundo a pneumologista Liana Corrêa, do Hospital São Lucas da PUCRS, o sincicial respiratório circula em todas as populações, mas crianças, idosos e imunocomprometidos são mais vulneráveis. Nos pequenos, causa a bronquiolite e pode até gerar sequelas no pulmão.
Quem tem bebê de até três meses deve garantir certo isolamento da criança, evitando o contato físico com desconhecidos, recomenda a médica.
— Se for receber visita em casa assim que o bebê nasceu, pede para a pessoa usar máscara e álcool em gel, além de não beijar a criança. Não temos vacina para o vírus sincicial respiratório e o adulto pode transmitir para crianças e bebês sem imunidade alguma. São públicos muito suscetíveis à infecção.
Prevenir
Para a covid-19 e a influenza, as medidas de prevenção são a imunização, enquanto para os vírus respiratórios é necessário cuidado para não se aglomerar junto de pessoas com sintomas gripais, o que acaba sendo difícil para crianças que frequentam escolas e para idosos em asilos, observa Leite. Nesses casos, a saída é tratar os sintomas.
— O tratamento para os vírus de resfriado é o de sintomas. Usamos remédios para aliviar desconforto da garganta e tratar a obstrução nasal — diz o pneumologista.
Situação das emergências
É necessário avaliar cada caso para levantar a possibilidade de uma ida ao médico. As emergências da Capital têm registrado superlotação. Na tarde desta quinta-feira (20), a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre apresentava o cenário mais dramático no setor adulto, com 60 internados para 24 leitos disponíveis, uma ocupação de 250%. O Hospital de Clínicas vinha em seguida, com 139 pacientes para 56 leitos, ocupação de 248,2%. Também atuavam acima da capacidade o Instituto de Cardiologia (209,5%), o Hospital São Lucas da PUCRS (160%) e o Hospital Nossa Senhora da Conceição (145,3%).
Entre as emergências pediátricas a situação era um pouco mais tranquila, sendo que o local mais cheio, conforme o painel de acompanhamento de leitos da Prefeitura de Porto Alegre, era a pediatria do Clínicas, com 12 internados para nove leitos - mas ainda atuando acima da capacidade, com taxa de 133%. Na pediatria do Conceição, a ocupação era de 118,7%.
Em casos de crianças com febre alta que não cessa, grande prostração e dificuldade para respirar, torna-se urgente a consulta com o pediatra. Idosos que ficam "apagados" também precisa ser encaminhados imediatamente para atendimento.
— O idoso, quando está com infecção grave, às vezes não tem um febrão. Fica prostrado, como se estivesse apagado, mais disperso. Isso é um sinal tão sério quanto a febre — detalha Leite.
Reforçar a importância da vacinação nunca é exagero. Embora a imunização contra a influenza na rede pública seja apenas para grupos prioritários, seria interessante que adultos jovens, ainda que com menor chance de evoluírem para quadros graves de gripe, também procurem fazê-la em clínicas particulares.
— As pessoas mais jovens não adoecem (de forma grave). Acabam perdendo alguns dias de trabalho, mas não internam. Só que mantêm a cadeia de transmissão do vírus, indo para casa e contaminando a avó — exemplifica o pneumologista.