Aplicada desde fevereiro em Porto Alegre e outros municípios gaúchos, a vacina bivalente contra a covid-19 segue sendo oferecida, com o público avançando de forma escalonada. Aprovado em novembro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o novo imunizante da Pfizer, que promete uma proteção mais completa contra a covid-19, ainda não está disponível para todos os públicos. Tire suas dúvidas sobre o imunizante e a vacinação:
O que é a vacina bivalente?
A vacina bivalente é capaz de imunizar contra mais de uma versão do vírus de uma só vez. Para isso, é usada a tecnologia do mRNA com dois códigos genéticos. No caso da Pfizer, está sendo usado o código da cepa original do coronavírus e o da variante Ômicron, que é a predominante nas infecções recentes no mundo todo.
A infectologista e coordenadora da Comissão de Controle de Infecções Hospitalares do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Caroline Deutschendorf, destaca que a fórmula é a mesma da Pfizer anteriormente aplicada, a monovalente, mas com compostos adicionais que permitem aumentar a proteção.
Diferentemente das imunizações tradicionais, que usavam uma versão morta do vírus para que o corpo pudesse produzir anticorpos, as vacinas de mRNA são uma inovação na forma de fabricar imunizantes. O mRNA tem a função de carregar as informações necessárias para a síntese proteica. Esses dados são captados pelos ribossomos (organelas que, entre outras funções, sintetiza, proteínas dentro das células). A partir disso, o corpo é capaz de produzir uma proteína específica, a proteína S, usada pelo vírus para invadir as células saudáveis.
Assim, os anticorpos e linfócitos T, que fazem parte do sistema imunológico, podem aprender essa informação para combater a proteína de um vírus real. Portanto, é possível imunizar uma pessoa sem que o corpo tenha contato com o vírus, usando apenas um código genético.
Por que é importante tomar a vacina bivalente?
A variante Ômicron do coronavírus é considerada mais contagiosa e já provocou ondas de infecções em várias partes do mundo. Em dezembro, o Estado apresentou crescimento no número de internações em leitos clínicos por causa de subvariantes da Ômicon.
— Cada vez que tem uma nova variante, o sistema imunológico é driblado. Por isso se pensou em fazer uma nova vacina que contemplasse as cepas mais prevalentes da Ômicron. Essa foi a variante que mais teve infecções de pessoas que já tinham sido vacinadas ou que já tinham sido infectadas anteriormente — explica Caroline.
Quem pode tomar a vacina bivalente?
O público está avançando de forma escalonada, sendo ampliado conforme são disponibilizadas doses aos municípios.
Imunocomprometidos estão entre os primeiros que puderam se imunizar. Quem integra o grupo?
Pessoas com transplante de órgão sólido ou medula óssea; pessoas vivendo com HIV; pessoas com doenças inflamatórias imunomediadas; pessoas que usam imunossupressores ou imunobiológicos; pessoas com doença renal crônica em hemodiálise; pacientes oncológicos que fizeram quimioterapia ou radioterapia nos últimos seis meses; pessoas com neoplasias hematológicas.
Se não tomei todas as doses do ciclo vacinal, posso tomar a bivalente?
Se o indivíduo não recebeu dose alguma ou só uma dose da vacina monovalente, a recomendação é completar o esquema de duas doses de monovalente para, posteriormente, receber a dose de bivalente, segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerentologia. Aqueles que receberam duas ou três doses da monovalente estão aptos a receber a injeção de bivalente, desde que respeitado o intervalo mínimo de quatro meses entre as aplicações.
— A vacina bivalente só deve ser utilizada para reforço, não para esquema inicial da vacina — reforça Caroline.
A vacina bivalente pode causar efeitos adversos?
Da mesma forma que os imunizantes já disponíveis, a vacina bivalente também pode causar efeitos adversos. Segundo a infectologista, é comum que o local da vacina fique dolorido ou que a pessoa vacinada sinta febre ou dores musculares, por exemplo. Mas Caroline garante que não são efeitos preocupantes.
Vai ter vacina todo ano?
Não se sabe ainda como serão os esquemas vacinais no futuro. Por enquanto, as pessoas devem tomar a primeira e a segunda dose e mais duas doses de reforço. A bivalente só faz parte do esquema vacinal de quem está no grupo de risco e já está apto a receber o novo imunizante. Médicos e especialistas acreditam que, mesmo depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar o fim da pandemia, o SARS-Cov-2 continuará sendo endêmico. Ou seja, ainda haverão casos de infecção e a imunização seguirá sendo uma estratégia de proteção.
— Com o tempo, pode ser que a vacina contra covid-19 seja que nem a vacina da influenza, aplicada anualmente conforme novas vacinas chegam. Neste momento, a bivalente é a vacina mais recente que temos contra a covid-19 — pontua a infectologista do HCPA.