Nos primeiros sinais de uma nova onda de covid-19 impulsionada por subvariantes do coronavírus, a média de pacientes internados em leitos clínicos disparou 323% no Rio Grande do Sul desde o começo do mês passado.
Em 1º de novembro, a média de doentes com diagnóstico confirmado em enfermarias, calculada com base nos sete dias anteriores, era de 81 pessoas contra um patamar de 343 observado neste domingo (4) nas estatísticas oficiais da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Especialistas recomendam à população retomar cuidados como usar máscara em espaços fechados e completar o esquema vacinal.
Professora de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e uma das referências estaduais no monitoramento da pandemia, Suzi Camey sustenta que já é possível falar em uma nova onda da doença.
– Claramente, temos um movimento de aumento de internações bem forte – alerta a especialista.
O epidemiologista e professor da UFRGS Paulo Petry lembra que a baixa testagem pode levar a uma subnotificação dos novos casos. Por isso, é importante acompanhar o cenário nos hospitais. Petry concorda que os números das últimas semanas voltam a colocar a pandemia em uma tendência ascendente entre os gaúchos:
– Estamos em uma nova onda, pois já havíamos diminuído muito (contaminações e internações) e voltamos a observar altas importantes.
Como essa tendência é recente, os 367 doentes hospitalizados em alas de enfermaria no domingo ainda representam um universo menor do que o pico de pouco mais de 600 pacientes observados em junho e do que os 1,4 mil registrados na onda que começou no final do ano passado e passou a declinar a partir de fevereiro deste ano.
Uma das principais razões para a retomada na circulação da covid é a difusão de subvariantes como a BQ.1, originária da Ômicron e bastante transmissível, combinada à redução de precauções como o uso de máscara em locais fechados ou em pontos de aglomeração.
– Com a circulação dessas novas subvariantes da Ômicron, percebemos, inicialmente, um aumento importante do número de casos. É natural que, com o passar do tempo, como estamos observando desde o início de novembro, que aumente o número de internações e de pessoas que, com o agravamento da doença, precisam de UTI – complementa Petry.
A quantidade de pacientes sob terapia intensiva também vem crescendo, mas em ritmo um pouco mais lento em comparação aos leitos de enfermaria (que recebem doentes menos graves). Isso pode ocorrer em razão da proteção oferecida pela vacina e porque há sempre um intervalo de tempo entre o crescimento na demanda por alas clínicas e na procura por setores para pacientes críticos em razão do curso natural da doença.
A média de ocupação calculada para sete dias nas UTIs gaúchas saltou de 26 doentes graves no começo do mês passado para 49 agora – um salto de quase 90% em pouco mais de um mês. Até o momento, esse impacto ainda não resultou em mudança significativa no nível de óbitos, que vinha oscilando entre uma média de duas a três vítimas diárias e, desde o final de novembro, está em quatro – esses dados são compilados pela data de notificação, o que também pode levar a uma maior demora para se perceber o impacto de taxas de contaminação e internação mais elevadas.
Suzi Camey observa que um estudo recente do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) demonstrou o alto grau de proteção contra óbito oferecido pelos imunizantes disponíveis na rede pública. No caso da faixa etária entre 40 e 59 anos, por exemplo, o índice de mortalidade por cem mil habitantes ficou em 44,9 para aqueles sem esquema vacinal primário completo contra uma cifra de apenas 2,79 por cem mil entre as pessoas com segundo reforço de imunização, de acordo com o documento. Ou seja, o risco de morte para quem não toma as injeções chega a ser 16 vezes mais alto.
– Aumentar a adesão às vacinas e uso de máscaras em ambientes fechados são as principais armas para brecarmos esse avanço (da nova onda do coronavírus) – observa Suzi.
Paulo Petry avalia que gestores públicos deveriam voltar a adotar medidas como a exigência de máscaras no transporte público. Enquanto isso não ocorre de forma generalizada, é prudente que cada um reforce suas próprias precauções para reduzir o risco de contágio, na opinião do especialista.
Evolução da pandemia no RS
Média de pacientes internados em leitos clínicos (calculada para sete dias)
- 1º/11 – 81
- 15/11 – 102
- 1º/12 – 265
- 4/12 – 343
Média de pacientes internados em UTIs (em sete dias)
- 1º/11 – 26
- 15/11 – 24
- 1º/12 – 45
- 4/12 – 49
Média diária de óbitos por data de notificação (em sete dias)
- 1º/11 – 2
- 15/11 – 2
- 1º/12 – 4
- 4/12 – 4
Fontes: SES e Ministério da Saúde