Relatos de uso do medicamento Ozempic para o tratamento da obesidade e para emagrecimento - com ou sem orientação médica, inclusive por celebridades - vêm se multiplicando nas redes sociais. Preocupadas com a disseminação do tratamento não previsto em bula, a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO) e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) publicaram uma nota conjunta sobre o uso do fármaco na quarta-feira (29), com orientações à população.
Também são cada vez mais comuns relatos de dificuldades de pacientes que utilizam o medicamento Ozempic, nome comercial do remédio que tem como princípio ativo a semaglutida, para o tratamento de diabetes tipo 2 não controlada, para encontrar o remédio nas farmácias brasileiras.
No início de fevereiro, a Novo Nordisk, fabricante do remédio, informou que o desabastecimento é resultado de uma procura muito maior do que a prevista. "Cabe ressaltar que não há problemas de qualidade ou regulatórios com o medicamento." No mesmo mês, a fabricante informou que o reabastecimento de distribuidores, atacadistas e farmácias no país deve ser normalizado durante o segundo trimestre de 2023, com o aumento da capacidade de produção anual da empresa.
Estilo de vida
Por meio do comunicado, as entidades médicas esclarecem que a obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento. Desta forma, nenhuma medicação deve ser usada sem prescrição e acompanhamento médico.
"O tratamento medicamentoso da obesidade, sempre em conjunto com estratégias de estilo de vida, é recomendado em diversas diretrizes de tratamento ao redor do mundo por aumentar a eficácia dessas estratégias. Como qualquer outra doença crônica, a manutenção da eficácia dependerá da manutenção do tratamento e é esperado que a recuperação de peso ocorra caso o tratamento medicamentoso seja abandonado", diz o comunicado.
"A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente, não se baseando apenas no IMC, mas sim em uma ampla gama de aspectos que devem ser tratados em consulta", segue o comunicado.
A semaglutida é uma medicação aprovada para obesidade em diversos países no mundo na dose de 2,4 mg/semana, de acordo com as entidades. No Brasil, apesar de aprovada desde 2 de janeiro, a dose de 2,4 mg ainda não está sendo comercializada. No momento, apenas a formulação para diabetes tipo 2, com dose máxima de 1,0 mg, está disponível no país.
"Assim, embora, a priori, o uso da dose de 1,0 mg seria considerado off-label, o princípio ativo está atualmente aprovado para obesidade. Infelizmente, o alto custo da medicação impede que seja usado pela maior parcela de nossa população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS)", diz ainda o comunicado.
Ainda de acordo com a ABESO e a SBEM, vêm sendo dissiminadas informações que confundem e misturam o que é o tratamento sério da obesidade e o que significa o "desejo social de emagrecer".
"O uso de curto prazo de medicações para fins estéticos (e muitas vezes sem prescrição médica) deve ser tratado de forma muito distinta do que o tratamento sério da obesidade, que tem como objetivo a melhora de saúde e qualidade de vida", acrescentou.
Como qualquer outra medicação, dizem as entidades, a comercialização deve ser feita somente sob prescrição médica. A venda sem esta exigência, destacam, deve ser desencorajada e vetada, e é função do profissional farmacêutico que preste atenção à receita e siga os protocolos padrões da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Veja pontos do esclarecimento:
- Medicamentos para obesidade aprovados pela Anvisa têm sua eficácia e segurança demonstradas e não devem ser condenados, mas sim selecionados individualmente dentro de uma consulta médica e serem vendidos unicamente sob prescrição médica. É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança
- O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumentam o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade. Matérias que pioram esse estigma podem levar pessoas a abandonarem tratamentos bem-sucedidos ou evitar buscar ajuda médica
- A ABESO e a SBEM buscam melhorar o acesso a tratamentos da obesidade para a população geral, seja trabalhando para reduzir o preconceito com terapias para obesidade (medicamentosas ou não), como por buscar, junto ao poder público, que tenhamos opções terapêuticas acessíveis a maior parte da população, ou disponibilizadas pelo SUS, o que ainda não é uma realidade
O comunicado foi assinado por Bruno Halpern, presidente da ABESO, e por Paulo Augusto Carvalho Miranda, presidente da SBEM.
Leia a nota da ABESO e SBEM na íntegra
Nas últimas semanas, diversas matérias têm saído em diferentes setores da imprensa do Brasil acerca do uso do medicamento semaglutida para emagrecimento, inclusive com relatos de uso por celebridades. A ABESO e SBEM vêm por meio desta esclarecer alguns pontos que nem sempre ficam claros em matérias jornalísticas:
1) A obesidade é uma doença crônica, complexa, multicausal e de difícil tratamento. O tratamento medicamentoso da obesidade, sempre em conjunto com estratégias de estilo de vida, é recomendando em diversas diretrizes de tratamento ao redor do mundo por aumentar a eficácia dessas estratégias. Como qualquer outra doença crônica, a manutenção da eficácia dependerá da manutenção do tratamento e é esperado que a recuperação de peso ocorra caso o tratamento medicamentoso seja abandonado. A indicação de um tratamento medicamentoso deve ser feita por médico capacitado, levando em conta indicações, contraindicações, tolerabilidade e expectativas do paciente, não se baseando apenas no IMC, mas,sim, em uma ampla gama de aspectos que devem ser tratados em consulta. Nenhuma medicação deve ser usada sem prescrição e acompanhamento médico.
2) Muitas matérias confundem e misturam o que é o tratamento sério da obesidade e o que é o “desejo social de emagrecer”. O uso de curto prazo de medicações para fins estéticos (e muitas vezes sem prescrição médica) deve ser tratado de forma muito distinta do tratamento sério da obesidade, que tem como objetivo a melhora de saúde e qualidade de vida. Muitas matérias também questionam a necessidade de tratamento medicamentoso, com grande potencial de piorar o estigma da obesidade ao tratar a doença como uma “escolha” e a medicação como uma “via fácil”. Tais matérias não se amparam no que melhor existe de evidências científicas sobre a doença.
3) A semaglutida é uma medicação aprovada para obesidade em diversos países no mundo na dose de 2,4 mg/semana. No Brasil, apesar de aprovada desde o dia 2 de janeiro, a dose de 2,4 mg ainda não está sendo comercializada. No momento, apenas a formulação aprovada para diabetes tipo 2, com dose máxima de 1,0 mg, está disponível no país. Assim, embora, a priori, o uso da dose de 1,0 mg seria considerado “off-label”, o princípio ativo está atualmente aprovado para obesidade. Infelizmente, o alto custo da medicação impede que seja usada pela maior parcela de nossa população, que não tem acesso a medicamentos para obesidade pelo Sistema Único de Saúde. A grande procura e o interesse pela medicação que motivam essas matérias têm por razão a sua alta eficácia diante de outras medicações antiobesidade (embora existam poucos estudos de 1 comparação direta) e bom perfil de segurança. Não obstante, como qualquer outra medicação, deve ser vendida sob prescrição médica. A venda sem prescrição deve ser desencorajada e vetada, e é função do profissional farmacêutico que atente à receita que siga os protocolos padrões da Anvisa.
Assim, diante da popularização do uso da semaglutida por conta própria de forma espontânea sem indicação médica adequada e do grande número de matérias produzidas na mídia a respeito do produto, a ABESO e SBEM vêm a público esclarecer que:
• Medicamentos para obesidade aprovados pela Anvisa têm sua eficácia e segurança demonstradas e não devem ser condenados, mas, sim, selecionados individualmente dentro de uma consulta médica e serem vendidos unicamente sob prescrição médica. É função do médico prescritor acompanhar o paciente e reavaliar periodicamente sua eficácia, tolerabilidade e segurança.
• O mau uso, uso estético ou inadequado de medicações antiobesidade, além de expor pessoas a risco sem indicação de uso, aumenta o estigma do tratamento de quem já sofre com diversos preconceitos em nossa sociedade. Matérias que pioram esse estigma podem levar pessoas a abandonarem tratamentos bem-sucedidos ou evitar buscar ajuda médica.
Como adendo, lembramos que a ABESO e SBEM buscam melhorar o acesso a tratamentos da obesidade para a população geral, seja trabalhando para reduzir o preconceito com terapias para obesidade (medicamentosas ou não), como por buscar, junto ao poder público, que tenhamos opções terapêuticas acessíveis a maior parte da população, ou disponibilizadas pelo SUS, o que ainda não é uma realidade.