O termo “cara de Ozempic”, em inglês, “Ozempic face”, tem sido usado na internet nos últimos meses para se referir a um possível reflexo do uso desse medicamento, que deixaria o rosto com aspecto "murcho e caído". Ao jornal The New York Times, uma paciente chegou a relatar que, após tomá-lo, seu corpo "parecia ótimo”, mas seu “rosto aparentava estar exausto e velho”.
No TikTok, usuários já publicaram diversos vídeos mostrando suas experiências, sob a hashtag #ozempicface. Para entender como funciona o medicamento, Donna entrevista a endocrinologista do Hospital Mãe de Deus Melissa Barcellos Azevedo, sócia proprietária da Haux Clinic POA.
Primeiro, é preciso saber que o Ozempic tem como princípio ativo a semaglutida (em dosagem de até 1mg) e está autorizado no Brasil para uso contra diabetes tipo 2, mas que também tem sido usado, de forma off label (uso diferente daquele descrito em bula) para tratar a obesidade. É uma medicação injetável, em formato de caneta, que provoca uma perda de peso intensa em um pequeno intervalo de tempo em muitos casos.
No início deste mês, a fabricante, a farmacêutica Novo Nordisk, divulgou comunicado em que diz que “a companhia não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off label, ou seja, em desacordo com a bula de seus produtos”.
Para uso específico no tratamento da obesidade, a empresa criou uma nova solução, com dosagem maior de semaglutida (de até 2,4mg), chamada Wegovy. Esse medicamento foi aprovado em janeiro deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não tem data definida para ser disponibilizado nas farmácias brasileiras.
— Grande parte dos pacientes diabéticos tem excesso de peso. Portanto, o tratamento também tem como objetivo principal essa redução. Só que, devido à grande efetividade da medicação nesses casos, passaram a estudá-la também para controle da obesidade em pacientes não-diabéticos. A doença é tão grave e tão potencialmente relacionada ao aumento de morbimortalidade, que a dose para controle (2,4mg) é mais alta do que a própria indicação para diabetes (1mg) — observa Melissa.
Na internet, os medicamentos tem ganhado popularidade à medida em que celebridades americanas e brasileiras, como o CEO da Tesla, Elon Musk, a comediante Chelsea Handler e a cantora Jojo Todynho, têm vindo a público revelar que usaram ou usam esses fármacos para perder gordura. Mas o que ocorre no rosto?
Melissa explica que o efeito tem menos a ver com o produto em si e mais com a perda acelerada não só de gordura, mas também de massa magra e de alguns outros nutrientes – o que fica ainda mais grave quando não há orientação médica.
— O problema do emagrecimento rápido e com redução expressiva de peso sem acompanhamento adequado é que ele não leva consigo somente as gorduras e o que há de ruim no organismo. Ele leva também coisas boas, como proteínas, músculos, massa magra, gorduras boas. E isso ocorre de forma ainda mais importante quando é uma pessoa que já está em processo de envelhecimento — explica a médica.
A endocrinologista defende que a “cara de Ozempic” está relacionada também às particularidades da área facial.
— No rosto não temos gordura visceral, temos principalmente gordura subcutânea, em pouca quantidade, e mais músculo. Em um processo de emagrecimento rápido, portanto, ele terá principalmente a perda de tecido muscular. E quando gordura subcutânea e tecido muscular são perdidos, isso fica muito evidente — ressalta.
Ao Estadão, a Novo Nordisk disse que “não reconhece alterações na pele como uma preocupação de segurança ou um efeito colateral resultante do uso de semaglutida injetável, com posologia semanal, para o tratamento do diabetes tipo 2″ e afirmou que fatores como idade, genética, níveis de estrogênio e porcentagem de perda de peso podem contribuir para rugas e flacidez da pele.
Segundo Melissa Barcellos Azevedo, é possível voltar atrás e recuperar a beleza do rosto, restaurando o tecido subcutâneo e a massa magra que foi perdida. Isso se faz através de uma alimentação adequada e com acompanhamento médico.
A médica ressalta ainda que o uso puramente estético por quem não sofre de diabetes ou obesidade não é recomendado e pode trazer mais riscos do que benefícios. Alguns efeitos colaterais podem ser náuseas, vômitos, constipação, diarreia e, em alguns casos mais graves, pancreatite.
Por inibir a vontade de comer e de beber, pode ocorrer ainda sensação de fraqueza e desidratação quando se passa muitas horas em jejum absoluto.