O Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional 2022, divulgado nesta quarta-feira (18), mostra que uma em cada cinco pessoas não tem, atualmente, acesso a uma alimentação saudável na América Latina e no Caribe. Isso significa que 22,5% da população dessa região não consegue comprar e/ou consumir alimentos como verduras, frutas, grãos e cereais. No levantamento mais recente da Organização das Nações Unidas (ONU), são 131 milhões de pessoas nessa situação, 8 milhões a mais do que em 2019. Desse total, 57% estão na América do Sul. No entanto, o país que mais preocupa é o Haiti, seguido de Honduras, Guatemala e El Salvador.
O Panorama 2022 é uma publicação conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida); a Organização Pan-Americana da Saúde-Organização Mundial da Saúde (Opas-OMS); o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP na sigla em inglês) das Nações Unidas.
Segundo a metodologia dessas entidades, quase 30% dos brasileiros se enquadram em algum nível de insegurança alimentar. O estágio mais grave e preocupante é a fome, que, segundo a publicação, atinge quase 8,6 milhões de pessoas no Brasil. Conceitualmente, a fome, segundo a FAO, é o mesmo que subalimentação: quando o consumo habitual de alimentos é incerto e insuficiente para garantir uma vida normal, ativa e saudável.
O relatório também apontou alguns fatores principais, muitos deles interligados, para a piora do cenário nos últimos anos. Por exemplo, a pandemia de covid-19, o empobrecimento das famílias, a inflação, o aumento do preço dos alimentos e os impactos da guerra na Ucrânia.
Entre as autoridades que falaram na apresentação do relatório, ocorrida no Chile, há um consenso: será quase impossível ampliar o acesso a alimentos saudáveis enquanto isso custar caro para a maioria da população. Para reverter a situação, é preciso investir em políticas públicas intersetoriais. Um exemplo é o fortalecimento e a inclusão da agricultura familiar em programas governamentais. Segundo Mario Lubetkin, representante regional para América Latina e o Caribe da FAO, o estudo é uma ferramenta para atualizar os números, mas, principalmente, apontar caminhos de combate à insegurança alimentar:
— Nenhuma política isolada pode fornecer a solução para este problema. É necessário fortalecer os mecanismos de coordenação nacional e regional para responder à fome e à má nutrição. Precisamos vencer o paradoxo de sermos a região que mais produz alimentos e que não consegue vencer a fome.
Uma das sugestões apontadas é investir cada vez mais em programas de alimentação escolar saudável. Segundo o relatório, 78 milhões de crianças na região da América Latina e Caribe a se beneficiam com refeições que incluem alimentos nutritivos, muitos deles produzidos localmente. As compras públicas de agricultores familiares promovem a inclusão de alimentos nutritivos nos cardápios escolares. Vários países da América Latina estão implementando medidas para incluir a produção de agricultores familiares no cardápio das escolas. No Brasil, por exemplo, desde 2009, os municípios brasileiros devem, por lei, comprar pelo menos 30% dos produtos da agricultura familiar para alimentar seus alunos.
Custo da alimentação saudável é o mais caro
O custo médio de uma dieta saudável na América Latina "é estimado em US$ 3,89, o mais alto em comparação com outras regiões do mundo e também superior à média global (US$ 3,54)", acrescenta o relatório.
O alto custo de acesso a alimentos saudáveis e nutritivos "afeta particularmente as populações vulneráveis, pequenos agricultores, mulheres rurais, indígenas e afrodescendentes, que destinam uma porcentagem maior de sua renda para a compra de alimentos", explicou Rossana Polastri, diretora do escritório regional do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida), que também participou do relatório.