Uma trajetória que chegou a ter o fim anunciado em novembro passado ganhará novo e simbólico capítulo nesta quinta-feira (19), em Porto Alegre. Depois de ser desenganado pelos médicos devido à demora para encontrar um doador compatível, Edelbert Lörsch, 68 anos, conseguiu realizar um transplante bilateral de pulmão e promoverá a assembleia de lançamento da Associação Nacional de Pré e Pós-Transplantados (ANPPT), a partir das 14h, no auditório do Hospital Santa Rita, no complexo da Santa Casa.
O objetivo da ANPPT — que não tem ligação com a Santa Casa — é ser uma entidade representativa de pacientes em lista de espera e transplantados para participar de discussões envolvendo o tema nas esferas dos governos estadual e federal, colaborando para a otimização dos processos. Um grande entrave ainda é a negativa dos familiares da pessoa que tem morte cerebral e se qualifica como possível doadora. Se os parentes não autorizam, a captação dos órgãos não ocorre, mesmo que esse fosse um desejo do paciente.
Natural de São Lourenço do Sul e residente em Pelotas, na Região Sul, onde atuou por mais de quatro décadas na educação para o ensino profissionalizante, Lörsch é mais conhecido na comunidade como professor Krüger (houve uma mudança de sobrenome anos atrás). O aposentado está morando provisoriamente na Capital, onde deve seguir em acompanhamento e reabilitação por mais três ou quatro meses. A doença que culminou com a necessidade do transplante se chama fibrose pulmonar idiopática, condição progressiva e sem cura que torna os tecidos espessos e rígidos, limitando a respiração e capaz de levar à morte.
Em 5 de novembro de 2022, internado em um leito de UTI da Santa Casa, Lörsch recebeu da equipe médica a notícia de que não havia mais saída para o seu caso. O doador compatível não aparecia. O professor chamou a esposa e os filhos, de 23 e 20 anos, para se despedir.
— O pai está entrando em óbito. Doem tudo o que for possível — informou à família, orientando que não queria velório e que desejava ser cremado, com as cinzas posteriormente sendo levadas a Pelotas.
No dia seguinte, despertou com a sensação de estar sendo sacudido.
— Vocês estão me reanimando? Eu já morri? — perguntou aos profissionais de saúde.
— Estamos te acordando porque chegaram seus pulmões — respondeu uma médica.
— A senhora tem certeza, doutora? — questionou o paciente, incrédulo.
Era real.
— Deus esteve presente ali. Não dá para imaginar o que aconteceu naquele momento. Eu vinha usando oxigênio havia 18 meses, não tinha mais mobilidade nenhuma. Foi um renascer — lembra.
Os preparativos para a associação já estavam em curso, e Lörsch fez uma pausa durante o período em que esteve mais debilitado. Escreveu artigos, organizou um jornalzinho divulgado virtualmente para seus contatos, participou de eventos, esforçou-se até ver o movimento crescer, mas a mobilização foi lenta até conseguir um grupo unificado. A ideia é espalhar núcleos da ANPPT pelo país e transformar a associação em organização não governamental (ONG).
A assembleia, ocasião em que serão escolhidos os membros da diretoria, será aberta ao público em geral. O endereço do Hospital Santa Rita é Rua Sarmento Leite, 187, e a entrada também é possível pela Avenida Independência, 75. Interessados podem contar a ANPPT pelo telefone (53) 99982-6660 e pelo e-mail edelbertlorsch@gmail.com.