O Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Santa Catarina passará a coletar duas amostras semanais de água em nove cidades do Estado vizinho. Até então, no verão, a chamada análise de balneabilidade, era feita uma vez por semana nas praias catarinenses. Esse trabalho classifica pontos como próprios ou impróprios para banho. A medida tem um segundo objetivo: realizar testes nos pontos para detectar a presença de vírus na água.
A ampliação dos estudos ocorre por conta do surto de diarreia registrado nas últimas semanas nas áreas litorâneas. Para isso, o governo estadual reuniu órgãos para atuar de forma conjunta: além do IMA, o Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), a Secretaria de Estado da Saúde (SES) e a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) participam da cooperação.
Até 31 de março, 82 pontos terão uma análise semanal da água a mais em Florianópolis, Balneário Camboriú, Bombinhas, Navegantes, Penha, Balneário Piçarras, Porto Belo, Itapema e Itajaí. As demais cidades seguem com amostra única na semana.
A presidente do IMA, Sheila Meirelles, reforça que o instituto segue os critérios da Resolução Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que regulamenta os procedimentos de controle de balneabilidade e exige análises para a mudança do status de qualidade da água.
Segundo ela, um fator que justifica a ampliação de coletas é que as praias que apresentam maior fluxo de banhistas estão sujeitas a variações de qualidade da água, como é o caso dos pontos escolhidos.
— Não houve alteração na metodologia das análises. É que, com o aumento da frequência, conseguiremos ter uma visão mais atualizada e real das condições de balneabilidade das nossas praias — explica.
Balneabilidade
A análise da balneabilidade é um levantamento que indica se as praias são próprias ou impróprias para banho. Para isso, avalia a presença de bactérias nas águas dos pontos. A exemplo do RS, Santa Catarina também faz o trabalho apenas no verão e divulga o resultado uma vez por semana. No último relatório, da sexta-feira (20), o Estado catarinense apresentou 123 locais próprios para banho dos 237 avaliados, o que representa 51,9%. Em Florianópolis, dos 87 pontos analisados, 43 estão adequados para os banhistas (49,43%).
A cooperação fará coletas em todos os 237 pontos do Estado nas segundas-feiras; nas quartas-feiras, os técnicos retornam apenas nos 82 considerados críticos. Com essa nova logística, dois relatórios semanais sobre a balneabilidade das praias serão informados pelo IMA. Segundo a presidente do instituto, a frequência de coleta poderá ser expandida para outros locais em caso de necessidade. Isso é definido conforme análise da equipe técnica:
— É como na covid-19: não adianta fazer um teste por dia porque o resultado não mudaria. Temos que fazer testes em períodos que entendemos que vá ocorrer um tipo de mudança.
Segundo Sheila Meirelles, a ideia é que os pontos com maior fluxo de pessoas em Santa Catarina tenham amostras coletadas três vezes por semana no próximo verão, para testes de balneabilidade.
Estudo viral
A colaboração dos órgãos também incluirá a coleta de água em 30 dos 82 pontos para o estudo da presença de vírus. Esse trabalho é distinto daquele feito para definir se um local é próprio ou impróprio para banho (de balneabilidade), que analisa o volume de bactérias.
A análise viral é um processo mais demorado e normalmente não é feito com as coletas "normais" de balneabilidade. A técnica é empregada quando da necessidade verificada pelas autoridades de saúde, como é a situação sanitária do Estado vizinho no momento. Esse tipo de estudo já tem sido feito no Estado catarinense, mas agora, portanto, será focado nas nove cidades com surtos.
Na última sexta-feira, o governo de Santa Catarina divulgou o resultado do diagnóstico viral de 18 amostras. Foi também verificada a presença de norovírus em nove materiais coletados em Balneário Camboriú, Florianópolis, Bombinhas, Navegantes, Balneário Piçarras, Porto Belo e Itajaí. O mesmo levantamento apontou ocorrência de rotavírus em três exames de Balneário Camboriú.
— Escolhemos pontos que são considerados mais críticos, que estão próximos a embocaduras de rios e locais que já tivemos pesquisa com presença de material orgânico ou contaminação do ambiente — diz Fábio Gaudenz, superintendente de vigilância em saúde de Santa Catarina.
O resultado das amostras para detectar vírus na água ficará pronto em 15 dias; já o da balneabilidade demora 48 horas. Por isso, a análise viral não será informada duas vezes por semana, igual à da balneabilidade das praias de Santa Catarina.
— Para determinar a origem do surto, precisamos ter amostras das pessoas, da água, e vincular com uma vigilância epidemiológica. Esse monitoramento serve para levantar os pontos críticos, com a presença de vírus entéricos, bactérias. A partir daí, os órgãos ambientais vão procurar a fonte da contaminação desse ambiente, para que sejam feitas intervenções — pontua Gaudenz.
Norovírus
O norovírus foi o vírus mais identificado em exames de pacientes em Santa Catarina. Ele pode ser transmitido através da rota fecal-oral com ingestão de alimentos ou bebidas contaminados. Segundo o virologista e professor da Feevale Fernando Spilki, a presença do agente é típica do verão no país.
— São comuns no Brasil em virtude de um saneamento básico deficiente, principalmente nas grandes cidades. Eles têm uma estrutura que permite que permaneçam por grande tempo no ambiente. Os norovírus são eliminados através das fezes e alcançam os recursos hídricos — explica.
Os indivíduos infectados pelo vírus costumam apresentar quadros de vômito intenso, com duração média de três a quatro dias, e diarreia — de seis a oito evacuações diarreicas por dia. Febre, mal-estar e dor muscular são outros dos sinais que acompanham a condição. Segundo Spilki, pessoas saudáveis têm risco limitado durante a contaminação, mas certos grupos precisam ter mais cuidado e, em casos graves, assistência médica.
— Crianças, idosos e indivíduos imunossuprimidos precisam ter atenção. Se essas pessoas não receberem tratamento adequado, de reidratação, para evitar vômitos, perda de sais minerais, pode levar a um quadro de desidratação bastante importante — diz o especialista.
Por isso, em todos os casos, o tratamento ocorre por meio de repouso e ingestão de líquidos. Para evitar contrair a doença, a indicação é não visitar pontos considerados impróprios para banho e ter atenção à água consumida ou utilizada no preparo de alimentos: ela deve ser potável e tratada com processo de desinfecção por cloro ou outra tecnologia.