Um novo momento da pandemia de covid-19 é vivido por profissionais da área da saúde no Rio Grande do Sul. Eles têm notado aumento na procura por imunizantes e estoques de vacinas baixos - ou mesmo vazios - nos últimos dias. As informações da circulação da subvariante BQ.1 no Estado e o crescimento no registro de casos no país são os dois motivos que levaram ao cenário, relatam responsáveis por imunizações em municípios consultados por GZH nesta segunda-feira (21).
Por ser uma demanda inesperada, algumas prefeituras tiveram de suspender a vacinação de adultos até a chegada de um novo lote de imunizantes, aguardado para esta semana. Nesta segunda, outra subvariante entrou no radar das autoridades sanitárias do Estado: foi confirmada, pela primeira vez, a detecção da subvariante BE.9 no Rio Grande do Sul, em uma amostra de um morador de Gramado, na Serra.
As duas subvariantes se espalham no Estado em um momento em que são mais de 600 mil pessoas sem a segunda dose do esquema primário, mais de 3 milhões sem a terceira dose (ou primeiro reforço) e mais de 2 milhões sem a quarta dose (segundo reforço).
Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, é um dos municípios a ter registrado crescimento na busca por imunizantes nas últimas três semanas. Em outubro, os profissionais da prefeitura aplicaram 874 doses. Nos 15 primeiros dias de novembro, a cobertura saltou para 1,4 mil. O interesse da população fez com os estoques terminassem: nesta segunda-feira, o município tinha apenas imunizantes para crianças e adolescentes, segundo Edson Luis da Silva, responsável técnico pelo setor de imunizações de Novo Hamburgo.
— É um claro demostrativo que as pessoas ficaram temorizadas com o aumento de casos e estão em busca da vacina novamente. Os municípios foram pegos de surpresa, nossos estoques estavam com menos vacinas porque não havia procura antes. Com o aumento da demanda, ficamos sem vacina porque não tínhamos essa programação — diz.
Segundo ele, a expectativa é que Novo Hamburgo receba novas doses na quarta-feira (23).
Em São Leopoldo, também Vale do Sinos, as equipes de saúde aplicaram a última dose da CoronaVac nesta segunda, e não há previsão de receber mais lotes do imunizante, afirma Karen Carvalho, coordenadora de imunizações da Vigilância em Saúde do município. Segundo ela, nos últimos meses, era comum serem aplicadas entre 150 e 180 doses por dia. No entanto, o cenário mudou desde o início do mês: apenas no último fim de semana, foram aplicadas 520 doses.
— A procura aumentou bastante quando começou a circular essa nova variante (BQ.1), principalmente na última semana. Por isso, já baixou bastante nosso estoque de doses. Tem muita gente fazendo a segunda dose em atraso, terceira e quarta. Há várias pessoas que se vacinaram há mais de seis meses e que estão retornando para se imunizar. Não tínhamos previsto esse aumento — afirma a coordenadora de imunizações de São Leopoldo.
Por isso, Karen acrescenta, será preciso que o número de imunizantes acompanhe a busca dos moradores no município, que recebe entre 2 mil e 3 mil doses a cada 15 dias. A profissional explica que em outras cidades têm ocorrido o mesmo problema, e que foi preciso, inclusive, "emprestar" vacinas da Pfizer para Esteio, outra cidade a ter problema de baixo estoque de vacinas.
Viamão, na Região Metropolitana, multiplicou por cinco a média diária de doses aplicadas contra a covid-19. Em outubro, as equipes aplicavam cerca de 150 imunizantes a cada dia. O número diário saltou para 750 na última semana, conforme a secretária de saúde do município, Michele Galvão.
— O pessoal começou a correr para procurar a vacina quando anunciaram a chegada da nova variante (BQ.1). Temos bastante vacina da Pfizer e AstraZeneca, não temos tido falta para covid, está tranquilo nesse sentido — comenta.
Conforme a secretária, na última semana de outubro, foram aplicadas 800 doses no município, e 450 na primeira semana de novembro. Na segunda semana deste mês, quando foi informada a circulação da nova variante no Estado, a quantidade de doses aplicadas saltou para 1,5 mil; já na semana passada, foram 1,8 mil pessoas imunizadas. Além da busca por vacinas, a quantidade de testes também aumentou em Viamão: na primeira semana deste mês haviam sido feitas 260 coletas; na última semana, o número pulou para 670.
Mudanças
Segundo Guilherme Ribas, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), o crescimento na busca por imunizantes ocorre em municípios de todo o Estado. Por isso, os responsáveis pelo enfrentamento à pandemia têm discutido reduzir o tempo de distribuição dos imunizantes, que ocorre hoje a cada 15 dias.
— O cenário é conversado semanalmente. Cada novo momento é dialogado pelo governo do Estado, Cosems, com informações dos municípios. Então, com o aumento da procura, está sendo mudada a estratégia para ter a dispensação semanal para facilitar o acesso às vacinas — diz Ribas.
Em nota a GZH, a Secretaria Estadual da Saúde disse que vem "mantendo periodicamente o abastecimento de doses contra a covid-19 aos municípios, conforme o recebimento de lotes do Ministério da Saúde e solicitação por parte das secretarias municipais."
A pasta assegura que, nas últimas semanas, foram cerca de 91 mil doses distribuídas para vacinação de adultos (acima de 18 anos), fora doses específicas para o público adolescente e infantil.
Por fim, a SES afirma que, até o fim desta semana, está programada mais uma distribuição aos municípios, em quantidade ainda a ser definida conforme um lote esperado para ser recebido do Ministério da Saúde.