A nova onda de covid-19 que avança na Ásia, nos Estados Unidos e na Europa acendeu o alerta entre infectologistas e virologistas no Brasil. Segundo os especialistas, já se observa leve aumento de casos em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Amazonas. No Rio Grande do Sul, entretanto, os números de internações nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e de casos diários seguem estáveis.
Outro indicador de aumento de casos no Brasil são os resultados de laboratórios particulares indicando elevação do número de testes positivos de covid-19 entre 8 e 29 de outubro, segundo levantamento do Instituto Todos pela Saúde. No período, o país saltou de 3% para 17% de novos diagnósticos confirmados para o vírus em relação ao total de testes.
Virologista e infectologistas consultados por GZH dizem que é preciso monitorar o surgimento de variantes e a redução da procura pelo reforço vacinal. Eles ressaltam também que já se esperava uma flutuação na incidência dos casos de covid-19.
O virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, comenta que se o vírus mantiver a mesma sazonalidade e histórico de anos anteriores, a movimentação social que costuma ocorrer nos dois últimos meses do ano pode causar uma elevação de casos ainda em dezembro no Brasil.
— Os índices de positividade de matéria que vai para diagnóstico em Estados como São Paulo e Rio de Janeiro já estão aumentando. Temos notícias de aumento bastante importante no Mato Grosso e vem se vendo um aumento do número de casos no Amazonas. Ainda são aumentos discretos com relação a períodos anteriores, mas estamos iniciando novembro. Então, seguindo padrão de outros anos, pode ter aumento de casos, sim — ressalta Spilki.
Spilki destaca que, neste momento, duas variantes em circulação no exterior estão por trás do aumento de número de casos: a XBB, um recombinante de duas diferentes linhagens de Ômicron, e a BQ.1, uma derivada de Ômicron.
— Nesta semana, tivemos sinais de que podemos ter tido a entrada da variante BQ.1 no Brasil, mas os casos ainda estão em investigação. Elas têm induzido um aumento do número de casos. Não há aumento de internações ou óbitos em indivíduos vacinados, mas há circulação maior de vírus nos países que estão enfrentando aumento. Outras variantes também preocupam, como a BA.5.2, e outras derivadas de BA.5. E um novo ramo de variantes que está ligada à linhagem BE.4, que pode estar associado a alguns surtos no norte do Brasil — explica o virologista.
O médico infectologista Alexandre Zavascki diz que ainda não se sabe se as subvariantes da Ômicron têm poder de causar uma nova onda gigante por onde passarem.
O coronavírus não parou de evoluir, continua se multiplicando e, cada vez que se multiplica, tem a chance de adquirir uma mutação que lhe confira alguma chance de voltar a aumentar o número de casos.
ALEXANDRE ZAVASCKI
Médico infectologista
— O coronavírus não parou de evoluir, continua se multiplicando e, cada vez que se multiplica, tem a chance de adquirir uma mutação que lhe confira alguma chance de voltar a aumentar o número de casos — indica Zavascki.
De acordo com os especialistas, o esquema vacinal completo é a principal medida de proteção para evitar casos graves. Até esta sexta-feira (4), 54,1 % dos residentes no Rio Grande do Sul estavam com o esquema vacinal completo. Nas internações hospitalares, o cenário segue de melhora no RS, ao contrário de Estados do Sudeste, por exemplo. Nesta sexta-feira (4), havia 23 pacientes com coronavírus internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) no Estado, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). Há 10 dias, eram 28. Na mesma data, em outubro, eram 43. Em setembro, 85, e, no pior momento da pandemia, mais de 2,6 mil internados em leitos intensivos.
— Hoje, a vigilância é mais difícil porque há muito autoteste, que acaba não sendo contabilizado. Outros, com sintomas, nem testam. A real incidência é muito difícil de saber. Quando percebemos um aumento, realmente, é preciso considerar que o número de casos reais está muito maior — relata Zavascki.
Presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, o médico Rodrigo Lins percebeu um aumento nos atendimentos e de casos positivados nos dias mais recentes. Ele sugere, neste momento, que as pessoas evitem grandes aglomerações na medida do possível, mantenham a higiene das mãos e, se apresentarem sintomas relacionados à covid, evitem circular e em casos mais graves, busquem auxílio médico.
— As pessoas precisam acompanhar as notícias. Por enquanto, vivemos um momento de relativa tranquilidade na maior parte do país. Mas, à medida que começamos a ter um número mais expressivo de casos, seria interessante ter cuidado e retornar, se necessário, o uso de máscara em ambientes de longa permanência e com ar-condicionado, como o transporte público. E isso dependerá do bom senso das pessoas e de como estão os números. Eu diria que as pessoas fiquem atentas para tomar medidas de proteção individual e de sua família, na medida em que efetivamente vejamos, de fato, que pode estar no horizonte um aumento do número de casos — acrescenta Spilki.