Os pais muitas vezes se preocupam com os impactos negativos dos videogames em seus filhos, desde a saúde mental até problemas sociais e falta de exercícios, mas um grande estudo publicado nesta segunda-feira (24) no Jama Network Open indica que há benefícios cognitivos associados a esse passatempo popular.
O autor principal da pesquisa, Bader Chaarani, professor assistente de psiquiatria na Universidade de Vermont, e seus colegas analisaram dados do extenso estudo em andamento Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD), financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde.
Os pesquisadores se concentraram nas respostas do estudo, nos resultados de testes cognitivos e em imagens cerebrais de cerca de 2 mil crianças de oito a nove anos divididas em dois grupos: aquelas que nunca jogavam videogame e as que jogavam por três horas diárias ou mais.
Cada grupo foi avaliado em duas tarefas. A primeira envolvia ver setas apontando para a direita ou para a esquerda e pedir às crianças que pressionassem a direção de cada seta o mais rapidamente que pudessem. Na segunda tarefa, eram mostradas às crianças rostos de pessoas e perguntava-se se uma imagem exibida posteriormente era correspondente ou não, para testar sua memória de trabalho.
Após usar métodos estatísticos para controlar as variáveis que poderiam distorcer os resultados, como renda dos pais, QI e sintomas da saúde mental, a equipe avaliou que os gamers tiveram um desempenho melhor em ambas as tarefas.
Enquanto as crianças executavam os testes, seus cérebros foram escaneados mediante ressonância magnética funcional (fMRI). Os cérebros daqueles que jogavam videogame mostraram mais atividade em regiões associadas à atenção e à memória.
"As descobertas são consistentes em relação a que os videogames melhoram as habilidades cognitivas que envolvem a inibição da resposta e a memória de trabalho", concluíram os autores. Entre os pontos-chave do estudo, os pesquisadores destacaram que "essas descobertas sugerem que os videogames podem estar associados a habilidades cognitivas melhoradas".
Prosseguimento do estudo
No momento, não é possível saber se um melhor rendimento cognitivo impulsiona a jogar mais, ou se é seu resultado, comentou Bader Chaarani, que disse à AFP que o tema o atraía, porque ele é um jogador regular e especialista em neuroimagem.
Os pesquisadores esperam ter uma resposta mais clara à medida que o estudo prosseguir e as mesmas crianças forem examinadas novamente quando estiverem maiores. Isso também ajudará a excluir outros potenciais fatores em jogo, como ambiente doméstico das crianças, exercícios e qualidade do sono.
Estudos futuros também poderiam se beneficiar do conhecimento de que tipo de videogame as crianças estavam jogando, embora, aos 10 anos, elas se inclinem por jogos de ação.
— É claro que o tempo excessivo de tela é ruim para a saúde mental geral e a atividade física — ressaltou Chaarani.
Mas os resultados do estudo mostraram que os videogames podem ser um uso melhor das telas do que apenas assistir a vídeos do YouTube, o que não tem efeitos cognitivos identificáveis.
* AFP