Na casa de uma família em Gravataí, um menino de nove anos curte usar o celular para falar com amigos, jogar e ver vídeos. Essa história, que poderia ser a de várias crianças e adolescentes pelo país, é do Marcos Arthur Oliveira, um dos participantes do projeto Reconecte, na edição que ocorreu na Associação de Moradores da Cohab A, em Gravataí, ao longo de maio.
A iniciativa tem como objetivo ensinar pais ou responsáveis e seus filhos a encontrarem um equilíbrio entre a vida dentro e fora das tecnologias e, assim, também busca fortalecer as relações familiares. No Rio Grande do Sul, o projeto, que é do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, está sendo posto em prática em várias cidades pelo Instituto Besouro de Fomento Social e Pesquisa.
Ao longo do ano, a entidade planeja realizar novas edições nos bairros Partenon e Cristal, em Porto Alegre, assim como em Canoas, Taquara e Igrejinha.
Aprendizado em família
Sobre participar da iniciativa, Marcos Arthur diz ter achado "bem divertido". Nas oficinas, são trabalhados cinco eixos, explica o presidente do instituto Besouro, Vinicius Mendes Lima: tecnologia e dignidade humana, responsabilidade digital, tecnologia e saúde, segurança digital e cultura digital.
— Como conduzir a inserção tecnológica para crianças, em especial junto à família, porque não é só a criança que passa o dia no celular, o pai também passa, a mãe também. Então é como haver uma harmonia entre a família mesmo existindo a tecnologia, porque ela é presente e não vai sair nunca mais das nossas vidas — ressalta.
Cada turma tem uma média de quatro encontros semanais de uma hora. O aprendizado se dá por uma parte expositiva e também por dinâmicas com as famílias. As oficinas são orientadas por facilitadores capacitados. A cada edição do projeto, uma divulgação é feita no local onde a iniciativa será feita, convidando as famílias a se inscreverem.
Eles estão on
Se antes a bola, o pega-pega e as bolitas eram o que mais chamava a atenção, hoje a brincadeira costuma ter tecnologia envolvida. Foi isso que motivou a mãe de Marcos Arthur, Ellen Rodino Rodrigues, 34 anos, a se inscrever junto aos filhos no projeto. Com a pandemia, ainda, ela percebeu que a relação que os mais jovens têm com os aparelhos também foi impactada:
— Eles se prenderam muito com a tecnologia dentro de casa, televisão, telefone.
E a presença deles na internet é representativa. Realizada entre 2020 e 2021, uma das edições da pesquisa TIC Domicílios mostra que 94% das crianças e adolescentes de 10 a 15 anos respondentes usam a internet. Nessa faixa etária, o aparelho mais utilizado é o celular.
Buscar alternativas
Além da edição em Gravataí, o Reconecte também já passou por outros lugares, como São Leopoldo, Esteio, Taquara e os bairros Lomba do Pinheiro, Cidade Baixa e Restinga, na Capital. Nesse último, a educadora social Lubianca Gomes da Silva, 46 anos, e seu filho, Jonatas da Silva Ferreira, 11 anos, estiveram entre os inscritos. A atividade ocorreu na ONG Renascer da Esperança e terminou em abril.
— Eu aprendi bastante sobre o que prejudica cada hora que ficamos na frente da tela, o que acontece, que pode causar depressão, ansiedade nas pessoas por causa dos bullyings que acontecem através da internet — relata Jonatas.
De lá para cá, mãe e filho tentam passar mais tempo juntos, buscando atividades alternativas. Segundo Lubianca, acompanhar Jonatas durante os ensaios de dança que ele tem e jogar cartas ou stop são algumas das práticas que ganharam força após o projeto.
— Na oficina também, aprendemos que não é para tirar tudo, mas ter um uso comedido dessas tecnologias, e os pais sabendo o que os filhos estão acessando — lembra ela.
Para prestar atenção
Uma das orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria é quanto ao uso de telas por crianças: não é recomendável para menores de dois anos. Para aquelas de dois a cinco anos, o tempo deve ser de até uma hora por dia. De seis a 10 anos, de no máximo duas horas. E para adolescentes de 11 a 18, de três horas.
Junto a isso, a educadora Cineiva Campoli Paulino Tono, integrante da rede E.S.S.E. Mundo Digital e presidente do Instituto Tecnologia & Dignidade Humana, destaca outras dicas:
- O responsável pela criança precisa ser exemplo de um uso equilibrado e responsável em relação a atividades on e offline
- É necessário monitorar o que os filhos fazem na internet e dialogar
- Atividades sem uso de celular devem ser valorizadas, como passeios ao ar livre e brincadeiras lúdicas; as refeições se encaixam aqui também
- Os pais devem saber que o mundo digital oferece um perigo constante por conta de pessoas mal intencionadas
- Os professores também devem ficar atentos e ter uma formação em educação digital para orientar os estudantes sobre cuidados no mundo digital
Produção: Isadora Garcia