Quem passa por um caso leve ou assintomático de covid-19 não precisa, em princípio, realizar exames para avaliar seu estado de saúde após o período da doença. Pacientes que enfrentam episódios de moderados a graves, em especial os que são internados, serão acompanhados e orientados por especialista ou equipe multiprofissional, conforme o tipo de comprometimento.
Também não é recomendado tomar suplementos vitamínicos. Não há indicação para essa conduta, a não ser que seja constatada alguma deficiência no organismo, que pode estar relacionada a outras situações. A decisão depende de avaliação e se aplica a casos específicos.
Fabiano Ramos, infectologista e diretor técnico do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), afirma que médicos e cientistas ainda estão aprendendo com a pandemia. O mais importante, passada a doença, é observar sintomas persistentes que possam sinalizar para a chamada covid longa.
— Tem várias doenças virais que podem deixar sintomas pós-infecção. Um exemplo é a dengue. Uma infecção aguda de dengue dura em torno de sete dias, mas dor de cabeça, cansaço e dores no corpo podem se prolongar. Também em outras viroses a doença se torna mais prolongada. Na covid, isso é mais frequente — explica Ramos.
O médico divide os pacientes de covid em três grupos, conforme a gravidade. Aqueles que precisam de internação, em UTI ou leito de enfermaria, podem ter sintomas prolongados como perda de memória, ansiedade, depressão, fadiga, tosse e falta de ar. Esses necessitarão de revisões periódicas para acompanhamento das alterações, com possível necessidade de um programa de reabilitação.
Outro grupo é o dos pacientes com fatores de risco, como idosos e cardiopatas. Mesmo com quadros leves ou moderados, existe possibilidade maior de ocorrer uma descompensação das doenças de base. Recomenda-se que façam revisão com o médico de referência. Para sintomas persistentes, depois da fase aguda, o ideal é procurar ajuda o quanto antes.
O terceiro grupo é o de indivíduos jovens, sem fatores complicadores preexistentes, que desenvolvem covid leve.
— Esses não têm obrigatoriedade de fazer revisão, a não ser que tenham sintomas que possam aparecer depois. Mesmo em quadros leves, há um percentual de pessoas que pode ter alteração neurológica, de memória, além de outras doenças infecciosas que podem aparecer. Se algum sintoma se iniciar no pós-covid, ao longo de três a seis meses, o paciente deve consultar um médico e comunicar quando teve covid — aconselha o infectologista.
Muitas vezes, o indivíduo tem problemas anteriores à covid que ainda não haviam sido detectados: diabetes ou alterações de tireoide, por exemplo. Analisar o histórico familiar é importante: o pai ou a mãe é diabético? Se não se fazia controle antes, o problema pode aparecer após a covid.
— Se você tem uma alteração de tireoide prévia ou não detectada, é jovem, mas tem histórico familiar de problemas de tireoide e, depois de 30, 40 dias, começa a ter um cansaço que não tinha antes, tem que ver. Pode ser um hipotireoidismo que está aparecendo depois — acrescenta o médico.
Pode acontecer, também, de a pessoa não perceber sintomas específicos no período da infecção por coronavírus.
— O vírus pode causar inflamações no músculo cardíaco. Você pode ter outros fatores de risco (sem saber). Se dali a um mês sentir palpitações, precisa procurar atendimento — diz Ramos.
Em resumo, pessoas saudáveis, jovens e praticantes de atividade física, com episódios leves de covid-19, cujos sintomas desaparecem rapidamente, não precisam se submeter a consultas e avaliações em seguida para procurar por eventuais danos. O ideal, segundo Ramos, é que a população considere realizar uma avaliação anual, independentemente de ter sido infectada ou não durante a pandemia. Para mulheres, com visitas regulares a ginecologistas, a detecção de outros problemas a partir de queixas relatadas ao médico tende a ser facilitada.