A Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, o maior e mais importante encontro para o avanço científico na pesquisa da doença, premiou trabalhos de 13 estudantes, da graduação ao pós-doutorado, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Todos integram o laboratório do professor Eduardo Zimmer, do Departamento de Farmacologia, no Instituto de Ciências Básicas da Saúde.
O super-reconhecimento mundial ganhou um toque de gincana. Como nem todos os alunos foram contemplados com o custeio total da viagem (inscrição, passagens aéreas e hospedagem) para San Diego, nos Estados Unidos, no final de julho, Zimmer definiu como desafio pessoal garantir o embarque de mais representantes além dos cinco do grupo que já estavam garantidos.
— Pensei: não posso deixar que eles percam essa oportunidade. Além de apresentar trabalhos de alta qualidade, vão conhecer pesquisadores que consideram ídolos — recorda Zimmer, 37 anos, também docente na Universidade McGill, no Canadá, e pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer).
O farmacêutico abriu uma campanha online de financiamento. “A cura da doença de Alzheimer depende da ciência, e os jovens alunos brasileiros podem participar desse processo. Contamos com a ajuda de vocês!”, dizia um trecho do pedido no site Vakinha, com a meta de arrecadar R$ 30 mil.
A postagem circulou pelas redes sociais, angariando colaboradores e o apoio de instituições importantes. Com a ajuda da Fundação Médica do Rio Grande do Sul e da própria Alzheimer’s Association, organizadora do evento, a campanha pôde ser encerrada em R$ 12,9 mil. Resultado: 12 universitários vão para a Califórnia (uma não conseguiu obter o visto americano a tempo).
— Estão dando cambalhotas! — diverte-se o professor ao comentar o ânimo dos pupilos.
O grupo tem composição heterogênea, misturando especialidades como Medicina, Biomedicina, Farmácia, Biologia e Ciência da Computação. O interesse a unir todos é a neurodegeneração, fenômeno patológico comum a todas as doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson. Em resumo, a motivação é investigar por que os neurônios morrem.
Christian Limberger, 26 anos, cursou Engenharia de Alimentos e enveredou para a Bioquímica na pós-graduação. Acaba de entrar no doutorado. Submeteu à conferência um trabalho referente ao mestrado, avaliando os potenciais efeitos da exposição ao agrotóxico glifosato no cérebro. Além do prêmio cobrindo todas as despesas e da oportunidade de apresentar um pôster, Limberger foi eleito, junto de uma colega e de um ex-orientando de Zimmer, um dos 25 embaixadores da ISTAART, ligada à Associação de Alzheimer, que tem o objetivo de conectar pesquisadores e estudantes focados em demência. Esses embaixadores são considerados os mais proeminentes estudantes do mundo na área e participam da organização deste e de outros eventos.
— É difícil achar palavras. É um reconhecimento muito importante. Nessa realidade que vivemos, de desmonte da ciência brasileira, cortes e descrédito, acontecem essas coisas da vida. Poder conhecer experts do mundo todo tem impacto na nossa formação e na qualidade da nossa pesquisa. Apesar de tudo, fazemos ciência de muita qualidade aqui — diz Christian, que viajará ao Exterior pela primeira vez.
Referência no estudo do Alzheimer, Michael Schöll, professor de medicina molecular na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, coordena o mais renomado curso sobre biomarcadores de Alzheimer e já lecionou para alguns dos alunos do laboratório multipremiado da UFRGS.
— Toda vez que falei com estudantes do laboratório de Zimmer, fiquei muito impressionado com o entusiasmo, o nível de conhecimento e o comprometimento inspirador — comentou Schöll.
Zimmer revela se sentir realizado liderando a talentosa equipe que vai aos EUA.
— Poder proporcionar isso a eles é o que me faz levantar todo dia. Divido com eles esse sonho. Tenho que treinar um aluno para que ele seja muito melhor do que eu. Quando um professor tem isso na cabeça, nós nos realizamos com eles, pelos lugares aonde estão indo e pelas coisas que estão alcançando. Quero que eles consigam ser suas melhores versões.
Os premiados
- Andrei Bieger
- Andréia Rocha
- Bruna Bellaver
- Carolina Soares
- Christian Limberger
- Giovanna Collar
- Giovanna Salles
- Guilherme Povala
- Laura de Souza
- Lucas Da Ros
- Luiza Machado
- Vanessa Ramos
- Wyllians Borelli