Com exclusividade no Brasil, o Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) começou a produzir comercialmente, nesta terça-feira (26), um composto que permite a realização de exame de alta qualidade para o diagnóstico da doença de Alzheimer, a demência mais comum no mundo.
O florbetabeno, radiofármaco - produto com elemento radioativo na composição - desenvolvido por uma empresa alemã e já utilizado nos Estados Unidos e na Europa, é injetado no paciente 90 minutos antes da realização do exame de imagem PET-CT (siglas referentes, em inglês, a tomografia por emissão de pósitrons e tomografia computadorizada, respectivamente). No cérebro, o florbetabeno se liga às placas de proteína beta-amiloide, que danifica as células e é o principal biomarcador do Alzheimer. A máquina capta a radiação emitida, transformada depois em imagens no computador.
O resultado ajuda na confirmação ou exclusão da hipótese do médico, baseada em avaliação clínica. Há casos em que as avaliações clínicas não permitem se chegar à certeza de que se trata dessa doença neurodegenerativa específica ou de algum outro tipo. O laudo também permite identificar o estágio da enfermidade e orientar melhor a condução do tratamento.
Jaderson Costa da Costa, neurologista e diretor do InsCer, afirma que a utilização do florbetabeno inaugura uma nova era na condução dos casos de Alzheimer. Por ter meia-vida (integridade) mais longa na comparação com o antecessor, o produto facilita a produção, a distribuição e a utilização.
— É um radiotraçador que marca a proteína. Coloca um tag: “Aqui estou”. Localiza todas as concentrações, dá uma escala. Pode-se determinar a doença em diferentes estágios — explica Costa. — O médico faz avaliação clínica, testagens, diagnóstico presuntivo. O diagnóstico etiológico, de causa, vem com o exame — acrescenta.
A pesquisa por agentes que possam remover as placas beta-amiloides é um dos grandes desafios da ciência nessa área. O aducanumabe foi aprovado pelo FDA, agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, no ano passado, sendo motivo de intensa controvérsia. O remédio atua na remoção das placas, mas os benefícios clínicos ainda não são tão evidentes, relata a farmacêutica Louise Mross Hartmann, coordenadora de produção do InsCer.
— Agora temos o diagnóstico de certeza e estamos à espera do momento glorioso de começar a dobrar essa doença. Acredito que o esforço internacional vá nos levar a controlá-la. É provável que surjam medicamentos — observa Costa.
Louise salienta a importância de um diagnóstico preciso para os familiares dos pacientes, que também sofrem forte abalo convivendo com o Alzheimer, que provoca deterioração e perda de funções cognitivas, comprometendo as capacidade do indivíduo como um todo.
— A família quer saber, quer se preparar para lidar com aquela pessoa. Esse exame vai se tornar cada vez mais presente nas nossas rotinas. Vão surgir medicamentos que já estão em fase final de testagem para tratamento. A maioria deles age nessa placa. Para o paciente fazer uso da medicação, terá de ter certeza — diz Louise.
De mais imediato, Costa projeta o engajamento do InsCer nessa busca.
— Seremos atores de um desses estudos clínicos. Somos um instituto de pesquisa e assistência, sintetizamos o produto, temos um corpo de pesquisadores que investigam a doença — descreve o neurologista.
O procedimento é oferecido apenas via rede particular, sem cobertura de convênios. Informações sobre o valor e condições de parcelamento e pagamento podem ser obtidas pelo telefone (51) 3320-5900.