Após registrar aumento no número de casos de covid-19 entre estudantes e funcionários, a prefeitura de Capão da Canoa voltou a exigir o uso de máscaras em instituições de ensino do município. A nova regra entrou em vigor na última terça-feira (17), com a publicação de um decreto que altera o artigo da norma anterior relacionado às medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus.
De acordo com o texto, o equipamento de proteção é obrigatório para alunos da Educação Básica com mais de seis anos e para estudantes do Ensino Superior. A regra abrange tanto instituições de ensino públicas quanto privadas e será aplicada por um período inicial de 15 a 20 dias, quando o cenário será reavaliado, informa o diretor de saúde de Capão da Canoa, Tiarlin Lima Abling.
— Estamos tendo uma média de 200 atendimentos diários (considerando pessoas de todas as idades), com cerca de 10 a 15% dos testes positivados. Em abril, apenas uma média de 2,5% dos exames davam positivo. A nossa intenção, com esse período, é diminuir o número de casos e evitar possíveis hospitalizações de crianças. É uma medida de prevenção — afirma.
O uso de máscara em ambientes fechados públicos e privados, incluindo transportes coletivos e instituições de ensino, passou a ser facultativo em Capão da Canoa em 7 de abril deste ano. Até então, a regra não se aplicava somente aos estabelecimentos destinados à prestação de serviços de saúde, como hospitais, clínicas, farmácias, unidades básicas de saúde e clínicas geriátricas, e às pessoas que apresentassem sintomas gripais.
A decisão de retomar a obrigatoriedade em instituições de ensino se deu devido ao aumento do número de casos, especialmente entre as crianças, a partir de 17 de abril, segundo Abling. A primeira avaliação do Comitê Covid foi feita no final do mês passado, mas os dados ainda estavam em um patamar equilibrado, o que permitia manter a flexibilização nas escolas.
Neste mês, a equipe reavaliou os números e percebeu uma crescente de casos confirmados. E, ao averiguar a situação das escolas, constatou que algumas estavam afastando turmas inteiras em função de crianças infectadas.
— Quando tomamos a decisão, na segunda-feira, havia quatro turmas afastadas em escolas do município. Mas estamos tendo, em média, entre quatro e cinco crianças infectadas diariamente. Hoje, cerca de 20 alunos estão em isolamento por terem apresentado exame positivo. São números bem expressivos, quando comparados ao mês anterior — ressalta o diretor, acrescentado que a baixa adesão à vacinação infantil na cidade também foi um fator determinante para a decisão.
Nas últimas 24 horas, a Secretaria Municipal de Saúde confirmou 25 novos casos de infecção por coronavírus. Atualmente, 109 pessoas estão em isolamento e um paciente está hospitalizado devido à covid-19. Desde o início da pandemia, Capão da Canoa já registrou mais de 16,5 mil casos e 248 mortes pela doença.
Em função do aumento de casos, a prefeitura também voltou a publicar boletins epidemiológicos diariamente.
Máscaras recomendadas nas escolas de Canoas
Em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, o aumento do número de casos entre estudantes e professores, que resultou no fechamento de duas escolas por conta da covid-19 neste mês, também fez com que o uso de máscara voltasse a ser recomendado nas instituições de ensino do município.
Medida é acertada, afirma especialista
Para Ricardo Kuchenbecker, médico epidemiologista e gerente de risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), a medida da prefeitura de Capão da Canoa é um acerto do ponto de vista epidemiológico, especialmente porque crianças e adolescentes estão mais suscetíveis ao coronavírus, devido ao baixo índice de adesão à vacina. O especialista destaca que a suspensão do uso de máscaras em locais fechados não levou em consideração que ainda se está em um período de transição de níveis epidêmicos para endêmicos, que pode levar muitos meses.
— Temos níveis mais baixos, onde, então, as atividades retomam. Mesmo assim, ainda vamos enfrentar muitas situações de surto, já que 100% da população é suscetível à Ômicron, e é o que temos observado nas escolas — afirma.
Desta forma, Kuchenbecker ressalta que a desobrigação do equipamento em ambientes fechados jamais deveria ter ocorrido neste momento, justamente porque esses locais são bastante propícios para a transmissão do vírus. É por essa razão que se pode observar um aumento no número de casos em instituições de ensino de diferentes municípios do Rio Grande do Sul ao longo das últimas semanas — algo que também tem sido visto em outros países, aponta o epidemiologista.
— Segundo um estudo publicado na semana passada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, 75% das crianças norte-americanas se infectaram com a Ômicron. Isso significa que agora estamos vendo uma inversão do movimento inicial da pandemia, quando dizíamos que as crianças eram as que menos tinham risco de infecção, o que de fato se demonstrou. Tanto é que elas só passaram a ser mais infectadas com o surgimento de outras cepas, como a Ômicron, e quando passaram a fazer parte do contingente populacional com menor cobertura vacinal em termos proporcionais — finaliza Kuchenbecker.