A superlotação das emergências pediátricas em Porto Alegre e Região Metropolitana mobiliza entidades médicas e gestores de saúde do Estado para tentar solucionar a alta demanda por atendimento e a falta de leitos. Enquanto médicos defendem a ampliação de vagas, o Estado analisa alternativas e até adoção de protocolos em períodos de maior procura nos atendimentos. A prefeitura de Porto Alegre garante novos leitos para atender crianças.
Para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Marcos Rovinski, o cenário atual já era esperado em razão da pandemia.
— Nós estamos enfrentando um problema de antecipação da sazonalidade dos problemas de saúde das crianças em razão desses dois anos de pandemia, que fizeram com que elas não adquirissem imunidade. Esse vírus respiratório e mais todas as 10 a 12 viroses da infância não ocorreram antes e agora começam com a socialização das crianças — explicou o presidente do Simers em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
Rovinski afirma que existe uma dificuldade dos gestores de "estabelecer políticas com rapidez diante da lotação dos serviços de emergência".
— Estamos fazendo um alerta à população e às autoridades. Nossa ideia é apresentar a necessidade de ampliação do atendimento. Nós somos parceiros para ajudar o Estado e os municípios no sentido de auxiliar nas politicas públicas para atendimento pediátrico —afirma o presidente do Simers.
Conforme reportagem de GZH, três fatores contribuíram para o cenário atual: a chegada do outono, o retorno das aulas presenciais após dois anos e a baixa oferta de leitos pediátricos, que enfrentou redução de vagas nos últimos dois anos.
Além dos fatores que aumentam a procura por atendimento, a falta de médicos nos plantões de alta complexidade também é um dos problemas a ser encarado. Para Rovinski, outro motivo para a falta de médicos é a insatisfação com a remuneração e a necessidade de melhores condições de trabalho.
— Tem lugares que pagam R$ 750 para um plantão de 12 horas de um médico pediatra que atende cerca de 40 crianças em grande complexidade. Por isso, esses médicos acabam ficando em locais com menos complexidade. Em Goiânia, temos oferecimento de trabalho por três vezes esse valor.
Sobre a remuneração, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) respondeu, em nota, que "a prefeitura está em tratativas para o reajuste dos salários não só dos médicos, mas de todos os profissionais de saúde da rede municipal. Desde o início da atual gestão, já foram realizadas diversas reuniões com o Simers, avançando nas propostas".
A terceirização foi outro ponto levantado pela entidade, que considera um problema um médico ter que criar uma pessoa jurídica e arcas com os custos deste procedimento.
Estado diz que tem condições de lidar com a superlotação
O diretor do Departamento de Regulação Estadual da Secretaria da Saúde, Eduardo Elsade também falou ao Gaúcha Atualidade e concordou que a situação atual já era esperada após o recuo dos casos de covid-19.
— O Estado está acostumado a trabalhar com as UTIs lotadas. A situação da UTI pediátrica sempre é meio sazonal. No inverno, a gente tem problemas e esse ano vamos tentar antecipar as soluções já que os problemas começaram mais cedo.
Elsade afirmou que está prevista para esta quarta-feira (13) uma reunião com entidades médicas para criação de um protocolo e para o reforço das ações no inverno, período que aumenta ainda mais o número de casos de doenças respiratórias.
Sobre a falta de vagas, o diretor afirmou que a Secretaria Estadual de Saúde (SES) não rejeitou nenhuma oferta de leitos que qualquer instituição pretendesse abrir e ressaltou que a pasta está disponível para encaminhar a abertura das UTIs. Sobre as situações relatadas nos Hospitais Santo Antônio e São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre, Elsade afirmou que foi uma decisão das instituições com a gestão passada.