Durante o Carnaval, Porto Alegre voltou a registrar menos de cem pacientes com coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), de acordo com estatísticas da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). No sábado (26), eram 95 pacientes nesta situação.
A marca foi atingida no fim de fevereiro e se repetiu nesta primeira semana de março. O número de internados oscilou ao longo dos dias e chegou, nesta sexta-feira (4), a 97 pessoas com coronavírus em leitos intensivos da capital gaúcha. A ocupação é de 85%.
No pico desta onda de Ômicron, no último dia de janeiro, Porto Alegre atendeu simultaneamente 278 pessoas com covid-19 em UTIs – bastante abaixo do pior momento da pandemia de coronavírus, quando, no fim de março de 2021, eram 903 pacientes em estado gravíssimo.
De lá para cá, uma grande diferença: a cobertura vacinal. Se, em março, apenas profissionais da saúde e idosos estavam vacinados, atualmente 85,4% de todos os porto-alegrenses com cinco anos ou mais receberam as duas doses e 45,4% tomaram o reforço.
O pico da Ômicron ficou para trás, mas é provável que as estatísticas em Porto Alegre estejam subdimensionadas porque grande parte dos moradores da Capital não retornaram do Carnaval, diz o médico Alessandro Pasqualotto, chefe da Infectologia da Santa Casa de Porto Alegre e presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI).
— Essa marca (de menos de 100 internados com coronavírus em UTIs) reflete a menor contaminação na sociedade. A taxa de positividade dos testes e o número de pessoas sendo testadas caiu. Mas há que se considerar que boa parte dos porto-alegrenses estão fora da cidade. Daqui a 10 dias, veremos os efeitos do Carnaval. Deveremos ter aumento no número de casos, mas duvido que rivalize com o pico de semanas atrás — diz Pasqualotto.
A percepção de que uma piora após Carnaval e volta às aulas presenciais esteja distante do registrado após Natal e Ano-Novo também é compartilhada pelo médico intensivista André Sant’Ana, gerente da CTI do Hospital Mãe de Deus. Motivo: muitas pessoas foram infectadas nas últimas semanas e estarão com imunidade natural por um período.
Neste momento, a maior parte dos internados em UTIs são não vacinados, pessoas com esquema incompleto ou indivíduos com três doses, mas idade avançada e câncer, acrescenta Sant’Ana.
— É possível que haja contaminação grande entre jovens e que leve um tempo até chegar aos idosos, já que há convivência na família. Mas tivemos um número muito grande de contaminações em janeiro, então a onda do Carnaval não deve ser nem perto da onda do fim de ano — diz Santana.
O médico intensivista ainda pontua que é provável que a covid-19 esteja se transformando em endemia, ainda que seja impossível apontar que isso ocorrerá com certeza - a natureza, afinal, é imprevisível.
— Talvez estejamos entrando em endemia. As vacinas que tomamos é sempre com as cepas do ano anterior. As novas cepas podem eventualmente gerar pequenos picos — acrescenta o gerente da CTI do Mãe de Deus.