O anúncio sobre a desobrigação de usar máscaras ao ar livre no Rio Grande do Sul a partir ocorre em cenário no qual a incidência e a mortalidade da covid-19 são semelhantes às registradas quando nações europeias tomaram a mesma decisão, mostra cruzamento de dados de GZH.
Algumas nações europeias desobrigaram o uso de máscara no ano passado e nunca mais exigiram, nem com a chegada da Ômicron, como Portugal e Reino Unido.
Outros países flexibilizaram o porte do acessório em ambientes externos no ano passado, voltaram atrás com a chegada da nova variante e desobrigaram novamente com a melhora dos indicadores em fevereiro, como França, Itália e Espanha.
Caso à parte é a Dinamarca, que desperta debate entre analistas após abolir todas as medidas contra a epidemia em 1º de fevereiro. O país nunca obrigou uso de máscaras ao ar livre e desobrigou o uso em espaços fechados na data, quando a curva de casos batia recordes, mas a cobertura vacinal era altíssima.
A cobertura vacinal de duas doses no Rio Grande do Sul é semelhante à de nações que desobrigaram o acessório ao ar livre no momento da decisão, mas abaixo na terceira dose, mostram dados do Our World in Data e do governo gaúcho.
Vale a ressalva de que o Estado tem melhor cobertura de doses de reforço do que Reino Unido e Portugal, que sequer haviam aplicado uma única terceira dose quando mudaram a regra em ambientes externos.
— Comparativamente com estes países, onde a pandemia não apresentou grande agravamento após a liberação de máscaras ao ar livre, estamos em momento razoável para tomarmos a mesma decisão. Mas se a população trouxer o exemplo da rua para o ambiente fechado, podemos ter novo aumento nas taxas de contaminação, em conjunto com o início do inverno e com o consequente aumento sazonal na busca por atendimento hospitalar por doenças respiratórias — diz Álvaro Krüger Ramos, professor de Matemática Pura e Aplicada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador de estatísticas da pandemia.
A ciência já sabe que o risco de pegar covid-19 ao ar livre é bem menor do que em ambientes fechados. A exceção são ambientes com aglomerações, como estádios, shows e outras ocasiões com grupos de pessoas. No geral, governos de países ricos desobrigaram o uso de máscaras ao ar livre, mas recomendaram o uso nesses locais.
No Brasil, São Paulo, Santa Catarina, Maranhão, Acre, Distrito Federal já desobrigaram o uso ao ar livre, segundo o jornal Folha de S.Paulo. Rio de Janeiro, Mato Grosso e Minas Gerais delegaram a decisão às prefeituras. Mato Grosso do Sul e a cidade do Rio não exigem nem mesmo em ambientes fechados, o que preocupa especialistas.
— A gente não pode tratar o Brasil como um todo, temos que ver os indicadores epidemiológicos nas diferentes regiões para fazer a liberação. Essas medidas precisam ser progressivas para avaliar o impacto: primeiro liberar em ambientes abertos, depois ambientes fechados e depois locais de transporte urbano e escolas. A flexibilização pode retroceder se houver piora de casos, hospitalizações ou óbitos — afirma o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Especialistas explicam que não é possível mensurar se as mudanças nas regras sobre o uso de máscaras ao ar livre em outros países piorou ou não alterou a epidemia, uma vez que a transmissão da covid-19 é afetada por múltiplos fatores – como clima, estação do ano, implementação de lockdown, oferta de testagem em massa, variante em circulação e limitação de pessoas em ambientes fechados.
Mas se sabe que o uso de máscaras ao ar livre está entre as medidas com menos efeito no controle da covid-19, explica Ricardo Kuchenbecker, médico epidemiologista e gerente de risco no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
— É difícil olhar para o efeito especifico das máscaras no ambiente externo. Países tiveram não só flexibilização das máscaras, mas interrupção de grandes eventos, lockdowns, distanciamentos, suspensão de atividades não essenciais, entre outros. Os estudos mostram o efeito agregado dessas intervenções no controle da covid — diz Kuchenbecker.
Veja quando o uso foi alterado em diferentes nações
França
Desobrigou uso de máscaras ao ar livre em 2 de fevereiro e suspendeu o uso de máscaras em ambientes fechados em 14 de março, restringindo o acessório apenas ao transporte público.
Dinamarca
O uso de máscaras ao ar livre nunca foi exigido ao ar livre na Dinamarca, à semelhança de outras nações escandinavas. Desperta debate entre especialistas a decisão do governo dinamarquês de acabar com restrições da covid-19 e suspendeu o uso de máscaras em ambientes fechados em 1º de fevereiro, logo após bater recorde de novos casos por dia.
A medida foi criticada ao redor do mundo, mas o governo argumentou que a cobertura vacinal era alta, as hospitalizações não cresciam e a população estava cansada de viver sob restrições – em um país onde os habitantes seguem à risca do que diz o governo, as autoridades temiam a perda de confiança.
Portugal
Em 13 de setembro de 2021, parou de exigir máscaras ao ar livre, medida que não modificou a estabilização da curva de casos. À época, 81% da população estava com duas doses e nenhuma pessoa tinha reforço.
Itália
Suspendeu uso de máscaras ao ar livre em 11 de fevereiro. Ao desobrigar, o governo anunciou que italianos devem carregar uma máscara consigo para usar na hora de entrar em ambientes internos ou passar por alguma aglomeração em ambiente externo. A perspectiva é de deixar de exigir o acesso em ambientes internos a partir de abril.
Espanha
A primeira vez que o país obrigou o uso de máscaras ao ar livre foi em maio de 2020. Em junho do ano passado, a medida foi suspensa, mas retornou antes do Natal de 2021, com a chegada da Ômicron. Com a melhora dos indicadores, a Espanha desobrigou o uso de máscaras em público em 10 de fevereiro.
Reino Unido
Suspendeu o uso de máscaras ao ar livre em 19 de julho de 2021e não voltou a exigir mais, nem com a chegada da Ômicron. A obrigatoriedade em ambientes fechados caiu no fim de janeiro.