Em reunião promovida na tarde de quinta-feira (10) pela prefeitura de Porto Alegre, todos os especialistas convidados se mostraram favoráveis à desobrigação do uso das máscaras em ambientes ao ar livre na Capital, com algumas ressalvas. A prefeitura não sinalizou quando baterá o martelo, mas, nesta sexta-feira (11), às 10h, o prefeito Sebastião Melo se reúne com a equipe técnica para avaliar as contribuições dos especialistas sobre uma flexibilização.
No encontro de ontem, em formato virtual, a equipe da Vigilância em Saúde abriu os posicionamentos, mostrando dados epidemiológicos de Porto Alegre, desde número de contágios até percentuais de vacinados contra a covid-19, e, depois, abriu para a opinião dos médicos e professores universitários que atuam na área da saúde.
Uma das presentes era a epidemiologista Lúcia Pellanda, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFSCPA) de Porto Alegre. Ela e os demais colegas indicaram que o momento é favorável para permitir que as pessoas circulem sem máscaras em ambientes abertos da Capital, desde que mantidas algumas precauções.
— Todo mundo falou quase a mesma coisa: tudo bem liberar as máscaras ao ar livre, mas sempre com muito cuidado com a comunicação por parte da prefeitura, frisando que não é uma liberação total. Também é necessário informar a população que existe risco, mas que a decisão, agora, será de cada pessoa. Falamos que as pessoas com doença autoimune, que tomam imunossupressores, os não vacinados e os com outros fatores de risco precisam continuar usando a máscara. Quem apresenta síndrome gripal, também. E que aglomeração ao ar livre não é risco zero, se recomenda a máscara nesses casos também — detalhou a professora, logo após a reunião.
Os especialistas deixaram claro que são contra a liberação das máscaras em locais fechados — o questionamento, no entanto, sequer foi feito por parte da prefeitura. Eles também indicaram que, caso se decida pela desobrigação em ambientes abertos, que ocorra somente a partir da semana que vem, para aguardar possíveis efeitos do feriado de Carnaval na curva de contágios pela covid-19.
— O ideal seria que a decisão não fosse tomada hoje (quinta-feia), para aguardamos dados do Carnaval. Mas, em princípio, os dados estão tranquilos, tanto os de hospitalizações quanto de vacinados. As internações estão caindo, número de contágios está caindo — observa a professora.
Além de Lúcia, participaram do encontro o infectologista Alexandre Zavascki, médico do Hospital de Clínicas e do Moinhos de Vento e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o infectologista Fabiano Ramos, médico do Hospital São Lucas da PUCRS, o virologista Fernando Spilki, professor da Feevale, e o médico Geraldo Jotz, pró-reitor de Inovação da UFRGS.
Responsável por apresentar os dados epidemiológicos na reunião, o coordenador da Vigilância em Saúde, Fernando Ritter, afirmou que a ideia do encontro foi apenas ouvir o que os especialistas tinham a dizer sobre o uso das máscaras.
Com o prefeito Sebastião Melo em Brasília, a expectativa é de que, no seu retorno, os representantes da prefeitura sejam ouvidos e apresentem detalhes das recomendações feitas durante o encontro.
Para Ritter, o cenário atual permite que as pessoas fiquem sem máscaras em lugares a céu aberto.
— Já faz seis semanas que vem baixando o número de pessoas contaminadas em Porto Alegre, assim como a ocupação de leitos clínicos, de UTI e os surtos também. E, obviamente, os números da vacinação vêm aumentando. Estamos com 63% de crianças de cinco a 11 anos imunizadas com uma dose. Entre as pessoas acima de 12 anos, mais de 93% já têm as duas doses. A partir disso, a gente entende que é possível, sim, permitir o não uso de máscara ao ar livre — disse.
Se a prefeitura decidir liberar as máscaras em ambientes abertos, um decreto deve detalhar regras orientando a população em quais locais será permitido retirar o acessório, entre outras recomendações.
Sociedade Gaúcha de Infectologia recomenda flexibilização
Em nota divulgada na manhã desta quinta-feira (10), a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) avalia que “é chegado o momento de flexibilizarmos o uso de máscaras, especialmente para ambientes externos, ventilados”. “Para ambientes internos”, segue o texto, “o momento é também favorável à flexibilização, devendo esta medida, no entanto, ser individualizada”.
O documento é assinado pelo presidente da entidade, infectologista Alessandro Pasqualotto, em nome da diretoria da SGI, que reúne 50 associados. A orientação é para que o equipamento de proteção individual (EPI) continue em uso em ambientes hospitalares e por pacientes sob risco de sofrer complicações da covid-19, como imunodeprimidos, doentes com outras comorbidades e idosos.
Já a Associação Médica Brasileira (AMB) assumiu um posicionamento mais cauteloso. Em nota também divulgada nesta quinta-feira, a entidade ressaltou que, mesmo diante de um cenário menos perigoso, medidas muito flexíveis podem colocar a população em risco, e que ainda é importante seguir adotando medidas preventivas, inclusive o uso das máscaras.
"Aos cidadãos, reforçamos que, além do uso de máscara, é imperioso evitar aglomerações e levar sempre a sério as regras de higienização das mãos, entre outras. Uma flexibilização indiscriminada pode ampliar os riscos à população, ainda mais à parcela não vacinada ou com esquema incompleto e principalmente os imunocomprometidos", diz a nota.