A discussão sobre desobrigar o uso de máscaras ao ar livre no Rio Grande do Sul ocorre em um momento no qual a covid-19 perde força em solo gaúcho em comparação ao pico da onda de Ômicron, mas com cenário bem acima do registrado no fim do ano, antes da entrada da variante, segundo estatísticas da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS).
O governador Eduardo Leite (PSDB) pediu ao Comitê Científico – grupo de cientistas independentes que aconselha o Palácio Piratini no combate à pandemia – um estudo para avaliar a possibilidade de desobrigar o uso de máscaras. O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), também reavalia a questão.
Os números de novos casos, mortes e ocupação de leitos clínicos e de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) por pacientes com coronavírus caíram em relação ao pico da Ômicron, no fim de janeiro.
Todavia, estão distantes de novembro e dezembro, época em que a epidemia estava em relativa tranquilidade e médicos inclusive conclamavam a população para sair às ruas e socializar. Atualmente, 75,3% de todos os gaúchos tomaram duas doses da vacina contra a covid-19 e 33,8% receberam o reforço.
A Ômicron fez o Rio Grande do Sul bater recorde no número de novos casos, com média de mais de 17,6 mil infecções diárias no fim de janeiro. Nesta quarta-feira (9), a média caiu para 5,1 mil, 71% menos. O patamar, porém, é bem mais elevado do que antes da chegada da Ômicron: em novembro, eram entre 700 e 1 mil novos casos diários no Estado. Em dezembro, os números estão prejudicados devido aos ataques hackers ao Ministério da Saúde.
A taxa de transmissão em solo gaúcho é de 0,98, segundo dados do Observatório Covid-19 BR. Quando o indicador está abaixo de 1, a epidemia está em queda. Em janeiro, o indicador chegou a 1,3.
O número de mortes diárias por coronavírus está 27% abaixo do pico da Ômicron, com uma média de 42 vítimas diárias. Em dezembro, eram menos de dez óbitos registrados por dia no Rio Grande do Sul.
A demanda por internações em leitos clínicos é 64% menor do que no pico da Ômicron, quando havia 1,4 mil pessoas com covid-19 nesses leitos – agora, são 510. No fim de dezembro, o Estado chegou a atender a 141 pacientes com covid-19 em leitos clínicos em um único dia.
As internações em UTIs por covid-19 também vêm caindo, desde a metade de fevereiro, passando de 583 para 320. O patamar atual, contudo, é duas vezes mais grave do que aquele registrado no fim de dezembro, quando o Estado chegou a ter cerca de 150 pessoas com a doença em leitos de UTI.
Nos últimos três a cinco dias, os indicadores chegaram a apresentar pequeno crescimento, mas especialistas entendem que a variação está ligada ao registro de dados não inseridos durante o Carnaval e, agora, atualizados retroativamente. A avaliação é de que o feriado deve reduzir a velocidade da queda das curvas, sem provocar crescimento.
A covid-19 está em queda no Rio Grande do Sul, mas ainda está em altos patamares, sintetiza Suzi Camey, professora de Epidemiologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Comitê Científico que dá orientações para o governo do Estado no combate à pandemia.
Ela cita que houve grande número de infectados entre o Natal e o Ano-Novo, sobretudo de jovens, o que evita grande piora no pós-Carnaval.
— A epidemia está em queda. Com a velocidade atual, a gente deve atingir os números de óbitos de dezembro na metade de abril, quando havia cerca de 50 por semana. O número de internações de dezembro devemos atingir na primeira semana de abril — afirma Camey.
Para resumir a situação, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise, diz que o Rio Grande do Sul “deixou o foguete decolar até a estratosfera, o foguete parou de subir e começou a cair, mas está ainda na metade da queda”. Ele lembra que, em março, as hospitalizações por outras doenças respiratórias começam a aumentar, o que deve elevar a demanda por atendimentos para além do coronavírus.
— O nível de vírus circulante ainda é alto. A epidemia segue em queda, mas em patamar ainda alto de casos. Se, no meio da queda, mudarmos o comportamento, pode haver tração para frear a queda. O Chile tem 90% de cobertura de duas doses e 75% com três doses. Lá, o número de casos é quatro vezes maior do que o pior momento da pandemia, mas o número de óbitos é semelhante ao da primeira onda. Mas nós não temos cobertura vacinal como no Chile — afirma Schrarstzhaupt.
A prefeitura de Porto Alegre informa, em seu painel, estatísticas apenas até sexta-feira passada (4). A reportagem solicitou, na tarde desta quarta-feira, estatísticas atualizadas à Secretaria Municipal da Saúde (SMS), mas não recebeu retorno até 20h.