Enquanto profissionais de saúde e cientistas ainda tentam decifrar os reais impactos da covid-19 na África, o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que, se as tendências atuais se mantiverem, o continente poderá controlar a pandemia de coronavírus em 2022. Manter a vigilância, destaca a entidade, é essencial.
A OMS contabiliza quatro ondas de infecções na África em dois anos – cada uma delas superou a anterior em número de casos, o que não significa dizer que provaram ser mais letais.
Conforme documento recente, divulgado em fevereiro, as fases foram protagonizadas por novas variantes do sars-cov-2. As respostas dadas a cada capítulo da crise sanitária, afirma a OMS, mostraram-se progressivamente mais eficazes. A primeira onda durou 29 semanas, e a quarta, apenas seis, o que equivale a um quinto do tempo.
– Nos dois últimos anos, a resposta do continente africano se tornou mais inteligente e rápida diante de cada novo aumento de casos de covid-19. Contrariando as expectativas, que incluem as imensas desigualdades no acesso à vacinação, combatemos essa tempestade com resiliência e determinação, baseados na longa história e experiência da África em controlar surtos. Mas a covid-19 nos custou caro, com mais de 242 mil vidas perdidas e danos tremendos à economia – disse a médica Matshidiso Moeti, diretora regional da OMS para o continente.
Levantamento do Banco Mundial estima que 40 milhões de pessoas passaram a viver em condição de extrema pobreza no continente, cuja população total ultrapassa 1,2 bilhão de habitantes.
– Ainda que a covid-19 permaneça conosco a longo prazo, há luz no fim do túnel. Neste ano, podemos acabar com o caminho de destruição deixado pelo vírus e retomar o controle sobre nossas vidas – acrescentou Moeti, ressaltando que as experiências dos países são todas distintas entre si, não havendo sequer duas iguais, o que faz com que cada um precise traçar seus próprios planos.
A instituição também destacou que, ao longo da crise sanitária, o continente foi aprimorando sua capacidade de lidar com os quadros de covid-19, tendo mais profissionais capacitados e disponibilidade de insumos. O número de leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) subiu de oito por milhão de habitantes, em 2020, para 20 por milhão, em 2022. Apesar da capacidade das indústrias em fornecer oxigênio ter aumentado, esse item específico ainda é um problema – a maioria dos pacientes que dependem de suporte respiratório no tratamento não consegue obter esse recurso.
O número de laboratórios de diagnóstico para a doença passou de dois para mais de 900. A África do Sul é referência em sequenciamento genético, o que permitiu a rápida identificação da variante Ômicron, em novembro de 2021. A pronta divulgação dos dados pelos cientistas locais, liderados pelo brasileiro Tulio Oliveira, foi vital para colocar o mundo em alerta para o “tsunami” que se formou na virada do ano.
A importância da ampla vacinação continua sendo ressaltada como “a arma mais potente” contra o surgimento de novas cepas. Até o mês passado, o continente havia recebido cerca de 672 milhões de doses, 65% desse total sendo proveniente do consórcio global Covaxx. Outros 29% se viabilizaram por acordos bilaterais. Apesar do baixo percentual de imunizados (11% à época desse pronunciamento), o fornecimento de doses aos países africanos passou a ser mais estável.