A dengue preocupa as autoridades sanitárias do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, por exemplo, vive um aumento brusco nos casos. Duas regiões da Capital estão em surto, segundo informou nesta quarta-feira (16) a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o que faz os agentes intensificarem o trabalho de fiscalização.
Dados da Vigilância em Saúde de Porto Alegre apontam que o número de casos confirmados da dengue pulou de 26 para 98 entre os dias 5 e 15 de março. Foram 72 a mais, o que representa um índice de crescimento de 276%.
Nesta quarta, no entanto, o número de casos confirmados subiu para 112, sendo que 109 foram adquiridos dentro da cidade, os chamados autóctones. O restante foi importado, ou seja, são pessoas que pegaram dengue em outros locais. O cenário em Porto Alegre preocupa porque, em 2021, foram confirmados 83 casos de dengue ao longo de todo o ano.
Os bairros com maior concentração de dengue são Jardim Carvalho, na Zona Leste, e Vila Nova, na Zona Sul, as regiões que vivem um surto da doença. De acordo com o coordenador da Vigilância em Saúde, Fernando Ritter, há famílias que dividem um mesmo espaço e com mais de um integrante picado pelo mosquito.
— Estamos considerando surto essas regiões do Jardim Carvalho e da Vila Nova. Tem várias famílias com mais de uma pessoa contaminadas pela dengue nessas áreas — confirma.
Também há episódios pontuais nos bairros Coronel Aparício Borges, Azenha, Bom Fim, Cidade Baixa, Glória, Menino Deus e Região Central.
Pelo Estado
A atualização mais recente do painel de monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde mostra que, até terça-feira (15), o Estado tinha 839 casos de dengue confirmados em 2022. Desses, 725 são autóctones, ou seja, foram adquiridos nas próprias localidades, e não fora daqui. A cidade de Rodeio Bonito, no norte do Estado, com 266 casos confirmados, é o município com maior número de casos confirmados da doença.
Um novo boletim deve ser divulgado na próxima quinta (17). Ao longo de todo ano de 2021, o número de casos confirmados no Estado foi de 10.153.
Segundo informou nesta quarta-feira (16) a Secretaria Estadual de Saúde (SES), era comum que a doença causada pelo Aedes aegypti ocorresse em um período mais quente e úmido, chamado de sazonalidade, mas, desde 2020, a incidência se mantém ao longo de todo o ano.
A razão é a pandemia de covid-19, que prejudicou o trabalho de fiscalização dos agentes de saúde e tirou o foco da população, observa a epidemiologista Tani Ranieri, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs).
— O que nos preocupa é que, desde a pandemia, durante todo o ano de 2021, permanecemos com forte incidência da dengue mesmo fora da sazonalidade, que é entre novembro e maio. Com a pandemia, as pessoas voltaram sua atenção para a covid-19 e deixaram de fazer a fiscalização — diz.
O receio é de que, se não houve maior comprometimento da população para limpar as áreas que podem alojar os mosquitos, o número de casos da doença fique muito maior do que no ano passado.
— A maior concentração das larvas do mosquito acontece justamente agora, que é um período de calor, com maior umidade. Se nada for feito, é possível que tenhamos, em 2022, um número muito maior de casos do que 2021 — alerta Tani.
Segundo a epidemiologista, é preciso retomar a consciência de tempos passados, quando as pessoas se acostumaram a checar se havia água parada na sacada, no pátio e em outras dependências:
— A faxina semanal precisa voltar a acontecer. As pessoas deveriam se preocupar todo o ano com a limpeza da sua moradia, do seu trabalho, para eliminar a possibilidade de depósitos dos ovos das fêmeas do aedes.
Pequenos recipientes preocupam
Em Porto Alegre, a Vigilância em Saúde está reforçando a fiscalização nas residências e em terrenos abandonados. São 81 agentes circulando pela cidade para checar locais onde o Aedes aegypti pode se criar, os denominados criadouros.
— O que mais nos preocupa são os pequenos recipientes. O vaso da planta, o ralo, o potinho de água do cachorro, o entulho, o pneu. As pessoas ficam preocupadas com o Arroio Dilúvio, com as piscinas, mas o problema são esses pequenos recipientes — observa Ritter.
Outro desafio para os agentes de saúde é conseguir entrar nas residências para fazer a limpeza dos locais. Segundo Ritter, é fundamental que os moradores deixem que esses fiscais façam seu trabalho.
— Permitam a entrada do agente. Ele está sempre identificado. Se há dúvida, é possível ligar para o 156, que tem a lista de todos os nomes dos agentes da Saúde de Porto Alegre — diz.
Lei facilita fiscalização
O prefeito Sebastião Melo sancionou nesta quarta-feira (16) uma lei que estabelece que agentes de endemias podem entrar nos imóveis fechados ou abandonados se verificarem a presença de mosquitos transmissores do vírus zika e causadores de dengue, febre chikungunya e leishmaniose.
A lei, de autoria da vereadora Cláudia Araújo, estabelece que os proprietários devem ser notificados em um prazo de 10 dias sobre a entrada dos agentes.
Na avaliação de Ritter, isso vai facilitar o serviço de fiscalização e limpeza. Hoje, os agentes precisam notificar o proprietário de um imóvel ou terreno várias vezes até conseguir acessar o local.
— A lei dá autonomia para os agentes. Caso a gente encontre terreno ou casa em que não conseguimos acesso, após fazer a notificação, entramos no local e fazemos a limpeza — diz.
Principais Sintomas
Pessoas que estão com dengue costumam manifestar dor de cabeça e febre alta, podendo sentir também dor atrás dos olhos, dor muscular, dor nas articulações, manchas vermelhas na pele, erupções na pele, náuseas, vômitos, prova do laço positiva ou baixa contagem de leucócitos. Caso a pessoa sinta qualquer desses sintomas, é necessário buscar uma unidade de saúde ou hospital.
Como evitar
O mosquito Aedes aegypti costuma se proliferar em ambientes úmidos, onde há acúmulos de água parada. Por isso, a principal recomendação das autoridades é tampar caixas d'água, não deixar água acumulada na laje, manter os lixos fechados, utilizar areia nos vasos de plantas, deixar garrafas e outros recipientes de cabeça para baixo, deixar as lonas esticadas e retirar a água dos pneus.