A baixa adesão das crianças à vacinação infantil contra o coronavírus desafia autoridades em meio à volta às aulas. Mas algumas prefeituras do Rio Grande do Sul buscam soluções para aumentar a cobertura na faixa etária - o que inclui vacinar em escolas, montar "cineminha" no posto de saúde e oferecer até picolé e pipoca aos pequenos.
Até esta quarta-feira (23), mais de 421,5 mil crianças de cinco a 11 anos foram vacinadas no Rio Grande do Sul, cerca de 40% da faixa etária - antes do Dia C, no último sábado (19), eram 27%. Nenhuma registrou efeito adverso grave, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS).
Para além de organizar um dia de mobilização para imunizar crianças em todo o Estado, o governo Eduardo Leite (PSDB) liberou às prefeituras aplicar doses fora de postos de saúde - assim, servidores do Sistema Único de Saúde (SUS) podem ir a escolas, parques e outros pontos de grande circulação.
Nem todas as prefeituras estão a par da liberação - há municípios que mantêm a vacinação apenas em postos de saúde, sob o argumento equivocado de que não é possível oferecer imunizantes em outros locais.
Em Porto Alegre, a cidade com mais de 200 mil habitantes que lidera a vacinação de crianças no Rio Grande do Sul, mais da metade da população de cinco a 11 anos foi vacinada. A cidade oferece vacina pediátrica de dia e à noite, permite agendamento e aplica imunizantes a domicílio em crianças acamadas e no espectro autista.
No dia C, a aplicação foi oferecida em sete escolas, cenário que deve virar rotina. A partir desta quarta-feira (23), a prefeitura terá vacinação itinerante em uma van. Das 9h às 15h, o veículo esteva estacionado em frente à escola Emílio Masso, no bairro Azenha. A reportagem visitou o local pela manhã e o movimento era tranquilo. Na quinta-feira (24), a van estará em frente à escola LaSalle Esmeralda, no bairro Agronomia.
— A ideia é tentar aumentar a cobertura vacinal. A gente teve boa adesão no início da campanha para crianças, mas depois enfrentamos queda, um cenário que se replica no Brasil, não só em Porto Alegre. A ideia é capilarizar o alcance, levar a vacina para mais perto das residências, usando as escolas, pensando no retorno escolar — diz o médico André Silva, que responde pela unidade móvel de vacinação.
A diretora de atenção primária à saúde de Porto Alegre, Caroline Schirmer, afirma que, após a liberação para uso da CoronaVac em crianças, mais postos de saúde puderam oferecer aplicação, o que aproximou a campanha de populações que vivem em regiões mais distantes.
— Começamos a campanha com baixa procura, e isso nos fez pensar em novas formas de acesso. Com unidades próximas da moradia, as pessoas buscam vacina, mas se precisa pegar ônibus, impede um pouco. Vimos que muitos pais não conseguiam levar no horário normal de funcionamento. Nossa primeira ação foi o agendamento pelo aplicativo, à noite. Também abrimos postos aos sábados, e aí a adesão aumentou cada vez mais — diz Caroline.
Além da Capital
Em Canoas, ao longo desta semana, as 26 unidades de saúde aplicam, exclusivamente, imunizantes em crianças, como forma de ampliar o alcance no público pediátrico na volta às aulas – adultos podem buscar a Central de Vacinas e a van da vacinação itinerante.
Em Viamão, que tem a segunda maior cobertura vacinal entre grandes cidades gaúchas, a vacinação foi oferecida em escolas logo no segundo dia em que crianças puderam ser imunizadas.
Cada escola tem uma tática diferente para receber os pequenos - em algumas instituições, professores se fantasiam para receber os alunos e reduzir o medo da injeção. Nesta quinta-feira, a aplicação ocorreu na Escola Municipal de Ensino Fundamental Frederico Dihl. Os docentes se fantasiaram de Chiquinha, Galinha Pintadinha e Minnie.
— A gente achou importante ter professores fantasiados para acalmar as crianças, ser lúdico. O pequeno que está com medo, a gente bota no colo e acalma. O abraço e o carinho fazem a diferença — diz a diretora, Eliandra Gomes.
A secretária-adjunta da Saúde de Viamão, Michele Galvão, diz que a boa cobertura da cidade ocorre porque a prefeitura percebeu logo no início que vacinar em escolas seria a medida mais adequada - a decisão ocorreu três semanas antes de o governo do Estado oficialmente liberar a aplicação pediátricas fora de postos de saúde.
— Já passamos por mais de 60 escolas, incluindo todas as municipais e em algumas particulares e estaduais. Houve escolas que pediram, e nós fomos oferecer. As crianças ficam muito mais à vontade, porque o ambiente é todo feito para elas — diz Michele.
Em Alvorada, quase 44% das crianças tomaram a primeira dose contra a covid-19. A prefeitura abriu postos de saúde à noite, três vezes por semana, para pais que trabalhem até mais tarde. No Dia C, no último sábado, as crianças que aguardavam os 20 minutos em observação após a aplicação ganharam até picolé e pipoca.
— Programamos para esta quinta e sexta-feira começar a vacinar em escolas. Primeiro vamos nas mais distantes dos postos de saúde, em regiões mais carentes. Depois do Carnaval, teremos uma programação mais intensa nas escolas — diz a secretária de Saúde de Alvorada, Neusa Abruzzi.
Em Santiago, na Região Central, 55% das crianças de cinco a 11 anos foram vacinadas, segundo levantamento do Estado. Para o tempo de observação após aplicação, a prefeitura instalou um “cineminha” no Centro Materno-Infantil, com exibição de desenhos animados para as crianças esperarem.
— As crianças ficavam meio perdidinhas nesse intervalo. Montamos uma espécie de cineminha, passando desenho animado. Deu certo, tem criança que quer ficar até mais. Fizemos também o “vacinight” para crianças, para os pais levarem os filhos depois do trabalho — conta Éldrio Machado, secretário da Saúde de Santiago, que diz desconhecer a liberação do governo estadual para vacinar crianças fora de postos de saúde.
Em Santa Cruz do Sul, onde a cobertura é de 35%, a prefeitura colocou carros de som na rua para chamar a população para se vacinar. Nesta semana, a aplicação começa em três escolas. A aplicação ainda ocorre aos sábados e durante a semana, em horário alternativo.
Em São Leopoldo, onde 30% das crianças foram vacinadas, segundo dados do Estado, a prefeitura fez um roteiro de vacinação infantil em 26 escolas da cidade. A partir desta semana, cobrará comprovante.
— A vacinação das crianças não será impedimento para a criança estar matriculada. Não cabe a nós impedir a criança de assistir às aulas, mas sim comunicar os órgãos competentes que cuidam do direito das crianças e dos adolescentes para que tomem as medidas cabíveis — afirmou o secretário da Saúde de São Leopoldo, Marcel Frison.