O Ministério da Saúde irá republicar o documento que dizia que a eficácia e segurança das vacinas era menor do que a de medicamentos como a hidroxicloroquina para controle da covid-19, um posicionamento que contraria a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a comunidade científica mundial.
A nota técnica da pasta, divulgada no fim de semana, foi assinada pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Hélio Angotti Neto. No documento também constam justificativas para rejeitar o protocolo aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec), que contraindica o uso do tratamento precoce.
Em nota enviada à imprensa nesta terça-feira (25), a pasta afirmou que uma nova versão do texto será publicada para “promover maior clareza no conteúdo e evitar interpretações equivocadas, como a de que a decisão critica o uso das vacinas covid-19”.
A tendência é que o Ministério da Saúde remova a tabela que questiona a imunização para controle do coronavírus e aponta a hidroxicloroquina como uma tecnologia segura para a covid-19. Porém, não deve voltar atrás na decisão de rejeitar a diretriz terapêutica aprovada pela Conitec que não indicou o uso do remédio para a doença - esse ponto será objeto de um recurso, que será apresentado ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por Carlos Carvalho, médico responsável por elaborar o protocolo analisado pela Conitec.
"A alteração será publicada em portaria no Diário oficial da União (DOU) e não modifica a deliberação já divulgada", diz ainda o comunicado do Ministério da Saúde enviado a jornalistas.
Desde março de 2021, a OMS não recomenda o medicamento para prevenção ou tratamento de pacientes com covid. O remédio também não possui o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso contra o coronavírus. Porém, é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro desde o início da pandemia, assim como outros contraindicados por especialistas, como azitromicina e ivermectina.
Angotti, que assina a nota técnica, é conhecido por compor a ala dentro do Ministério da Saúde que defende o uso de medicamentos sem eficácia comprovada para a doença. Mayra Pinheiro, que já ganhou o apelido de “Capitã Cloroquina”, é secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde e também faz parte desse núcleo bolsonarista. Os dois são remanescentes da gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
A decisão de remover a polêmica tabela veio após Queiroga admitir que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.
— Essas medicações, inclusive eu já falei, são medicações cujo uso científico ainda não está comprovada, mas essa confusão que querem criar entre vacina e cloroquina é totalmente descabida — afirmou Queiroga em entrevista para a TV Brasil na noite desta segunda (24).