O ministro da saúde Marcelo Queiroga afirmou recentemente que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada contra a covid-19. A declaração acontece após a pasta do governo publicar uma nota técnica em que defende o uso do medicamento e questiona a efetividade e segurança das vacinas.
— Essas medicações foram utilizadas no começo da pandemia e, na época, o uso era chamado de "uso compassivo". Todos usaram. Posteriormente, se viu que, nessas situações, essa medicação não era mais aplicada e foi testada em outros contextos, né? — afirmou Queiroga em entrevista para a TV Brasil.
Na semana passada, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Netto, afirmou em nota técnica assinada por ele que a eficácia e segurança das vacinas era menor do que a de medicamentos como a hidroxicloroquina. No documento também constam justificativas para rejeitar o protocolo aprovado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec), que contraindica o uso do tratamento precoce em pacientes que não estejam internados.
Tanto o tratamento precoce quanto o uso de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina são contraindicados por especialistas e não têm o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em declaração recente, Queiroga falou sobre o tema e ressaltou que discorda da nota técnica assinada por Angotti e que pode aplicar um recurso contra o secretário.
— Essas medicações, inclusive eu já falei, são medicações cujo uso científico ainda não está comprovada, mas essa confusão que querem criar entre vacina e cloroquina é totalmente descabida — argumentou o ministro no programa Sem Censura, da TV Brasil.
O Partido Rede Sustentabilidade acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir o afastamento de Angotti. Na petição assinada, os representantes solicitam que a nota assinada pelo secretário seja suspensa e pedem a elaboração de uma nova diretriz que siga normas e critérios científicos e técnicos. No texto, o partido argumenta que o secretário tentou agradar o presidente Jair Bolsonaro e, com isso, acabou desconsiderando importantes orientações técnicas expedidas pela Conitec.
O ex-vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, se posicionou sobre o assunto no Twitter. "Não podemos deixar que eles tratem a vida como brincadeira! Vamos acionar o STF para suspender a nota técnica do @minsaude que propaga fake news, atacando a vacina e, em desacordo com a ciência, promove remédios ineficazes contra a covid-19", escreveu.
Nesta segunda-feira (24), a Associação Médica Brasileira (AMC) publicou um boletim sobre o ocorrido e criticou os posicionamentos do ministro da saúde.
"Já em outubro, (Marcelo Queiroga) fez uma de suas repetidas defesas da aplicação do ineficaz kit covid, sob a insustentável tese de que era questão de autonomia médica. A verdade é que a utilização de tratamentos já comprovadamente ineficazes pela ciência não é autonomia e, sim, má prática médica", diz o documento.
Nos próximos dias, a Frente Parlamentar Observatório da Pandemia de Covid-19 deve convocar Angotti para prestar esclarecimentos sobre a nota técnica assinada por ele. O ministro da saúde também deve ser chamado para falar do documento e outras questões como o apagão de dados sobre a pandemia e o atraso da vacinação das crianças.