No dia em que o governo Eduardo Leite (PSDB) emitiu avisos para todas as regiões do Rio Grande do Sul no sistema 3As devido ao aumento de casos de coronavírus, as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais gaúchos mantiveram tendência de queda e atingiram 146 pacientes internados em estado gravíssimo pela doença. No ápice, eram mais de 2,6 mil.
Os avisos emitidos pelo governo do Estado denotam tendência de piora da pandemia. Entretanto, as estatísticas mostram que, por enquanto, o crescimento é restrito ao número de infecções leves, sem impacto em internações e mortes.
Em meio à alta cobertura vacinal, comparável à de países ricos, o Rio Grande do Sul segue mantendo ritmo de esvaziamento hospitalar iniciado em junho do ano passado. O número de internados em UTIs com coronavírus, nesta terça-feira (4), de 146 pacientes, é 20% menor do que duas semanas atrás e quase 50% mais baixo do que há um mês.
Em Porto Alegre, a mesma tendência de redução se repete: nesta terça, 30 pacientes estavam internados em UTIs com coronavírus, 11% menos do que duas semanas atrás e 57% abaixo do registrado há um mês.
A capital gaúcha chegou a oscilar, após o Ano-Novo, com menos de 30 internados com coronavírus em toda a cidade, patamar ao qual voltou nesta terça-feira. No ápice da covid-19, eram mais de 900 pessoas em leitos intensivos pela doença - época em que médicos descreviam o cenário como “de guerra”.
Em comunicado à imprensa, o governo Leite destaca que dados da Secretaria da Saúde (SES) apontam para um aumento de casos confirmados nos últimos dias, tendo saltado de uma média diária de 5,7 a cada 1 milhão de habitantes em 26 de dezembro para 75,9 em 3 de janeiro.
O Piratini afirma que o aumento pode ser explicado em parte devido a atrasos de registro no sistema gerados pelos feriados de Natal e Ano-Novo, mas “o aumento dos números é consequência também do aumento da transmissão”.
Falta de estatísticas
A baixa ocupação hospitalar ocorre em meio ao avanço da vacinação, mas o país vive um apagão estatístico após ataques hackers ao Ministério da Saúde. Os dados da primeira quinzena de dezembro apontavam que o Rio Grande do Sul tinha 70% da população com duas doses.
Até agora, a ciência sabe que a Ômicron, que já em transmissão comunitária no Rio Grande do Sul, é muito mais transmissível, mas menos letal, possivelmente por atingir menos os pulmões. Ainda assim, médicos alertam que, se o número de infecções crescer exponencialmente, em algum momento o número de hospitalizações e mortes crescerá.
A médica infectologista Teresa Sukiennik, gerente de segurança assistencial na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, afirma que o laboratório de testes da instituição percebeu um aumento na procura por testes de covid-19 nas últimas semanas e também na proporção de resultados positivos.
Se, no início de dezembro, cerca de 5% dos exames testados saíam positivos, da última semana de dezembro para cá, a proporção subiu para aproximadamente 20%, em meio ao incremento na procura por exames PCR.
— Esse aumento em número de casos é início da próxima onda. O quão grande será essa onda dependerá de como a população vai se portar e do quanto a vacinação vai nos proteger. A gente imagina que as pessoas acabaram se contaminando nas festas de fim de ano com amigos e no trabalho, além do Natal. A Ômicron tem período de incubação de cerca de três a cinco dias, enquanto que na Delta era cerca de uma semana — explica a infectologista.
Sukiennik destaca, todavia, que o aumento de casos não provocou incremento nas internações na Santa Casa, o que está associado à alta cobertura vacinal na cidade.
— A primeira elevação de casos via de regra é em jovens, que são menos afeitos à doença grave e mais afeitos a festas e aglomerações. Precisamos esperar para ver o que acontecerá na população idosa. Mas Porto Alegre está em situação ótima na aplicação de dose reforço. Temos expectativa de ter proteção desses pacientes mais idosos — acrescenta.