Os 21 avisos de risco emitidos para todas as regiões do Estado nesta terça-feira (4) têm o objetivo de alertar a população para uma piora no cenário da pandemia no Rio Grande do Sul, mas não representa um momento de colapso ou explosão consolidada de casos. Por essa razão, o recado é de atenção e não de desespero, segundo Pedro Zuanazi, coordenador do GT Saúde do gabinete de crise estadual.
— Quando olhamos para os nossos dados recentes, o que a gente percebe de primeiro indicador, que pode ser entrada da Ômicron, é o aumento de casos confirmados de covid-19 na maioria das regiões. A intenção não é criar o desespero, é indicar atenção. Viemos de muitas semanas de tranquilidade e isso é um momento de atenção — avalia Zuanazi.
Além da leitura dos dados regionais, a emissão dos 21 avisos de risco leva em consideração um cenário internacional que têm países batendo recorde diário de contaminação da pandemia por conta do avanço da variante Ômicron.
— Primeiro lugar, o que a gente tem é informação internacional de que a variante Ômicron é muito transmissível e, em países em que entrou forte, o número de casos já é muito superior às ondas superiores. Não há certeza de que aqui será forte como na Espanha, na França ou nos Estados Unidos. Mas, dada a transmissibilidade, é bom estarmos atentos — afirma Zuanazi.
A alta expressiva de contaminações nos últimos dias, segundo Zuanazi, não se reflete neste momento em aumento de internações por covid-19. O número de hospitalizados pela doença tem acréscimo nos últimos dois dias, mas os números não representam aumento consolidado.
O cenário atual permite, na avaliação do governo do Estado, manter os atuais protocolos de segurança, sem necessidade de restrições a atividades. A recomendação da Secretaria Estadual da Saúde (SES) é que a população cumpra os protocolos básicos: o uso obrigatório de máscara, a preferência por ambientes abertos e o distanciamento social mínimo de um metro.
— O aviso é um comunicado para os comitês regionais, para os gestores e para a população. Estamos em um momento de variante nova circulando, então que a população adote estes cuidados para que a gente não tenha uma subida de casos como em março do ano passado. A ênfase é nisso: manter e melhorar os cuidados porque algumas pessoas já podem ter baixado a guarda — aponta Bruno Naundorf, diretor do Departamento de Auditoria da Secretaria Estadual da Saúde.
O gabinete de crise do governo do Estado emitiu, na tarde desta terça-feira (4), avisos de risco para as 21 regiões do Estado. No relatório técnico que embasa os avisos, o gabinete de crise afirma que mesmo que se confirme como menos letal, a Ômicron tem potencial de causar pressão nos atendimentos básicos de saúde pela grande quantidade de contaminados.
Números podem aumentar ainda mais nas próximas semanas
Para Cezar Riche, infectologista do Serviço de Qualidade do Hospital Mãe de Deus, o aumento de casos de covid-19 percebido nas emergências de Porto Alegre é reflexo das festas que ocorreram até o Natal, ou seja, ainda não envolve impactos decorrentes das celebrações de Réveillon. Assim, é possível que o número de infectados se mantenha alto ou cresça ainda mais nas próximas semanas.
— É importante essa emissão de alerta do governo, pois já estamos vendo isso ocorrer nos hospitais e a perspectiva é de seguirmos em aumento. (A taxa) pode até não crescer, mas deve se manter alta durante algum tempo. Não acho que vá ocorrer um decréscimo rápido agora, vamos manter um número grande de infecções — comenta.
O médico epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, que é gerente de risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), concorda que o alerta é necessário e oportuno, principalmente se considerada a grande probabilidade de que esses novos casos sejam da variante Ômicron, que tem uma maior capacidade de infecção e transmissão, comparada às outras cepas do coronavírus. Ele salienta que, em outros países, a Ômicron se tornou predominante em pouco tempo — o que, em parte, pode ter ocorrido pela liberação do uso de máscara:
— No Brasil, não tivemos a suspensão do uso de máscara, mas era esperado pelas festas de fim de ano, em que as pessoas se reuniram e, provavelmente, relaxaram as medidas de prevenção por estarem vacinadas. No entanto, sabemos que, para a Ômicron, uma dose não oferece proteção clara e duas oferece alguma proteção, mas a melhor estratégia são duas doses e mais um reforço.
Apesar da preocupação com o aumento dos números, os especialistas acreditam que não deve haver um impacto tão forte sobre o sistema de saúde, como aquele registrado no verão do ano passado, quando todas as regiões do Estado entraram em bandeira preta. O infectologista do Mãe de Deus reforça que, entre os poucos pacientes internados devido à covid-19 no momento, grande parte refere-se a não vacinados ou imunossuprimidos.
— Felizmente, ainda não notamos aumento de internações e casos graves. Muitos desses novos pacientes estão com quadros leves, de tratamento ambulatorial, e vacinados. Temos visto uma doença mais branda, que é o que a vacina se propõe a fazer. E, sem internações, não vejo maior risco de sobrecarga — afirma Riche.
Há receio, contudo, de que a população que apresenta maior risco — como idosos, imunossuprimidos, crianças e não imunizados, que podem evoluir para casos graves — sofra com essa maior circulação do vírus. Kuchenbecker ressalta que a taxa de duas aplicações na população mais jovem ainda é bem menor do que na adulta e, por isso, esse público segue vulnerável para o coronavírus, sobretudo para a nova variante.
Prevenção continua sendo essencial
Os médicos reforçam que, neste momento, as medidas de prevenção são ainda mais essenciais. Mesmo que estejam cansadas após quase dois anos de pandemia, as pessoas devem seguir usando máscara e mantendo o distanciamento, além de buscar completar seu esquema vacinal, orienta Ricardo Kuchenbecker.
De acordo com Cezar Riche, fazer o teste de forma precoce, logo no início dos sintomas, também é muito importante, porque, com o diagnóstico, o paciente pode fazer o isolamento correto e quebrar a cadeia de transmissão:
— Apresentou sintomas, reforce as medidas para já reduzir a circulação do vírus, não se exponha aos demais, use máscara, higienize as mãos, mantenha os ambientes ventilados e, se for obrigado a sair enquanto não tiver o diagnóstico, mantenha o distanciamento.