Dezoito nomes se manifestaram nesta terça-feira (4) durante a audiência pública convocada pelo Ministério da Saúde para discutir a vacinação contra a covid-19 em crianças. A maioria defendeu o início imediato da imunização da faixa etária de cinco a 11 anos, ainda sem data para iniciar no Brasil.
O Ministério da Saúde afirma que irá consolidar os pontos levantados pelos convidados durante a audiência pública e divulgar nesta quarta-feira (5), juntamente com mais detalhes sore a imunização contra a covid-19, como a data de início e o cronograma de chegada das vacinas no Brasil – as doses pediátricas da Pfizer ainda não estão no país.
A audiência pública durou cerca de quatro horas e meia e foi dividida em dois blocos. Primeiramente, ocorreram as falas dos convidados da pasta. Após, foi aberta uma janela para perguntas da população, enviadas pelo WhatsApp.
Três sociedades médicas participaram do encontro, realizado na sede da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) – todas se colocaram a favor da vacinação das crianças. Marco Aurélio Sáfadi, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), apresentou dados que mostram que a covid-19 mata mais crianças e adolescentes no Brasil do que meningite e rotavírus.
— Trouxe a vocês uma comparação do que representa a covid-19 em crianças perto de outras doenças passíveis de prevenção por vacinas. Nenhuma dessas doenças vitimou tantas crianças quanto a covid-19 — disse Sáfadi.
Representando a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella de Assis Martins Ballalai defendeu o direito das crianças de serem imunizadas contra a doença.
— Todas as crianças foram privadas de todos os seus direitos. Eles ficaram sem escola, eles não foram vacinados, eles não podiam sair porque nós, adultos, estamos morrendo. E agora que nós, adultos, estamos vacinados, a gente leva eles para os parques, para a nossa flexibilização. Eles não têm direito à vacina? Eles são o maior grupo suscetível no País — afirmou.
Exigência de receita médica foi debatida
Outro debate levantado na audiência pública foi a exigência de receita médica para vacinação das crianças, defendida pelo Ministério da Saúde, porém criticada pelas entidades médicas durante o debate.
— Nós somos contra a necessidade de prescrição médica para receber vacinação. Como você vai vacinar as crianças na Amazônia com prescrição médica? Acho que é uma barreira muito grande na vacinação — declarou Rosana Richtmann, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Os representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nésio Fernandes de Medeiros Junior, e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Kandice Falcão, e do Conselho Federal de Medicina (CFM), Donizetti Dimer Giamberardino, também se colocaram de forma contrária à exigência de prescrição médica ou de termo de consentimento de pais e responsáveis para imunização das crianças no País.
A representante da Pfizer na audiência pública, Marjori Dulcine, apresentou dados sobre os estudos realizados pela farmacêutica na faixa etária de cinco a 11 anos e afirmou que a vacina, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é segura para as crianças e eficaz para a covid-19.
— Os dados de segurança da vacina verificados nesse ensaio clínico foram corroborados por dados de vida real, onde mais de sete milhões de cinco a 11 anos foram vacinadas nos Estados Unidos e o perfil de segurança foi confirmado e continua totalmente favorável — exclamou.
Já os quatro representantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados que foram convidados pelo Ministério da Saúde levantaram dúvidas sobre a eficácia da vacinação no controle de doenças.
Presidente da CCJ, a deputada federal Bia Kicis (PSL-RJ), alinhada ao presidente Jair Bolsonaro, falou após a secretária de enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde, Rosana Leite de Melo, lhe passar a palavra. Bia defendeu a imunização não obrigatória e o uso de receita médica para autorizar a aplicação das doses nos postos de saúde.
— Eu defendo a liberdade de escolha, um direito dos pais de estarem protegidos — disse a deputada.
Os médicos Roberto Zeballos, José Augusto Nasser e Roberta Lacerda, alinhados ao discurso bolsonarista de defesa do chamado tratamento precoce, com remédios sem eficácia para a covid-19, e conhecidos por serem antivacina, também se manifestaram durante a audiência pública através da CCJ da Câmara.
Roberto Zeballos afirmou que a vacina da Pfizer para crianças é de uso emergencial e, por isso, “não há emergência” para iniciar a imunização. A informação, falsa, foi questionada pela própria representante da Pfizer no encontro, que esclareceu que a farmacêutica possui registro definitivo na Anvisa e que isso inclui as doses pediátricas contra a covid.
Além desses, participaram também da audiência pública representantes do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e do Ministério Público Federal (MPF), além da OPAS, que é o braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) na América Latina.