A confirmação nesta segunda-feira (3) feita pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que a distribuição de vacinas contra a covid-19 para crianças começará na segunda quinzena de janeiro foi recebida com alívio por médicos. Todavia, a demora de um mês para incluir brasileiros de cinco a 11 anos na campanha resultará no retorno às escolas de crianças não imunizadas por completo em meio ao crescimento da Ômicron no Brasil.
A liberação para uso da Pfizer em crianças pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) foi em 16 de dezembro. Até a aplicação iniciar, pelo menos um mês terá transcorrido entre a liberação e a aplicação em postos de saúde. Nos Estados Unidos, por exemplo, o intervalo entre o aval da agência regulatória e a vacinação de crianças foi de quatro dias.
Visto que o intervalo entre doses para crianças de cinco a 11 anos é de três semanas e a proteção completa se consolida 15 dias após a segunda dose, parcela dos pequenos estará imunizada por completo apenas com aulas já em curso, diz o médico infectologista e pediatra Marcelo Otsuka, consultor do departamento de Pediatria da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
— Esse atraso de um mês pode significar mais casos e óbitos em crianças. São milhões de crianças que precisam ser vacinadas. Em poucos dias, não dá para vacinar todo mundo com a segunda dose. Poder vaciná-las por completo antes das aulas reduziria a circulação do vírus. Só basicamente em março teremos a proteção completa, mas em março teremos já as aulas e o crescimento da Ômicron — observa Otsuka.
No Rio Grande do Sul, o calendário de volta às aulas mais tardio em comparação ao resto do Brasil beneficiará os pais que vacinarem seus filhos imediatamente após a liberação pelo governo e que aplicarem a segunda dose exatamente na data permitida.
O governo do Estado definiu que as aulas da rede estadual voltarão em 22 de fevereiro - na rede particular, o sindicato das escolas privadas, Sinepe, prevê o retorno em 21 de fevereiro.
Caso pais levem suas crianças para tomar a primeira dose em 15 de janeiro (data hipotética, uma vez que Queiroga não estipulou o dia de início da vacinação) e retornem com os filhos para a segunda dose exatamente três semanas depois, a proteção completa dos pequenos seria alcançada em 19 de fevereiro, logo antes do início das aulas. Mas essa não será a realidade para todo o Brasil. Em São Paulo, as aulas presenciais voltam em 2 de fevereiro.
Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), há 20,4 milhões de crianças entre cinco e 11 anos no Brasil – destas, 970 mil no Rio Grande do Sul. Dados da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, do Ministério da Saúde, apontam que 301 crianças de cinco a 11 anos morreram de coronavírus no país, uma morte a cada dois dias.
Além de reduzir surtos em escolas, a vacinação de crianças antes do retorno presencial às aulas contribui para evitar que os pequenos adquiram covid-19 com a variante Ômicron, altamente transmissível, e passem para familiares, sobretudo idosos e com doenças crônicas, destaca o médico José Paulo Ferreira, diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria no Rio Grande do Sul.
— As crianças já ficaram mais de um ano em casa. Não teve grandes surtos em colégios, mas, mas se você vacina toda a população acima dos 12 anos, quem sobra para pegar covid é criança pequena. A gente não quer isso, queremos o mais breve possível vacinar crianças para elas estarem seguras e para reduzir a transmissão. Só com crianças chegamos a mais de 85% da população vacinada — destaca Ferreira, acrescentando que, em países com milhões de pequenos vacinados, são os não vacinados que hospitalizam.
A demora na vacinação de crianças ocorre após o Ministério da Saúde surpreender a comunidade científica ao abrir uma consulta pública para questionar a população sobre o governo liberar o imunizante aos pequenos.