Diante das melhoras dos indicadores da crise sanitária por conta da ampliação do número de vacinados contra a covid-19 em 2021, há quem esteja se planejando reencontrar amigos e familiares, trocar presentes, brindar o novo ano. Contudo, o cenário do último mês não vem se mostrando tão favorável: a chegada da variante Ômicron, já apontada como mais transmissível do que a Delta, e o avanço da influenza de H3N2 no Brasil, inspiram maiores cuidados durante festividades de final de ano.
Na quarta-feira (22), a Organização Mundial da Saúde (OMS) solicitou que os governos limitem os eventos com multidões. Por aqui, pelo menos 64% das cidades do país cancelaram as festas públicas, conforme levantamento da Confederação Nacional de Municípios que entrevistou 2,6 mil prefeitos. Médico infectologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição André Luiz Machado da Silva não só avalia as medidas municipais como positivas, como é categórico ao desaconselhar a participação nestas comemorações:
— Temos que evitar, dentro do possível, as aglomerações, principalmente aquelas que não envolvem pessoas do teu convívio.
As já conhecidas medidas para prevenir a transmissão da covid-19 precisam ser levadas à sério: máscara e distanciamento social, além da preferência por ambientes abertos. Alexandre Prehn Zavascki, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, lembra que, mesmo ao ar livre, o uso de equipamento de proteção individual deve ser mantido — especialmente em locais com aglomerações, já que o vírus pode ser transmitido por partículas maiores emitidas, por exemplo, pela saliva.
O cuidado com o próximo também é importante: quem tiver sintomas gripais não deve frequentar eventos — nem mesmo familiares — sem passar por uma investigação médica. Desta vez, não está em jogo somente a possibilidade de ser covid-19, mas também a influenza, que deixou uma vítima fatal e outros 23 infectados até agora no Rio Grande do Sul.
— Não adianta achar "estou com dor de garganta porque dormi sem camiseta no ar-condicionado", não. Se tem tosse, coriza, dor de garganta, não deve comparecer a eventos sem procurar atendimento médico — destaca Silva.
Festejos em família
Os especialistas consultados por GZH apontam que é melhor celebrar as festividades com a família mais próxima. Mesmo assim, as reuniões feitas em casa inspiram cuidados.
Epidemiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry não chegou a cravar uma recomendação no número de pessoas, já que, quando se trata de infecções respiratórias, até mesmo estar entre seis ou sete pessoas pode ser considerado uma aglomeração. Contudo, reforçou a necessidade de os participantes terem o esquema vacinal completo:
— É importante a vacina, elas se provaram altamente protetoras. Então seria recomendável que as pessoas não vacinadas não estivessem em ambientes confraternizando com grupos, porque elas são potenciais transmissores.
Entretanto, o cenário descrito nem sempre é possível. Por isso, Zavascki recomenda que os não imunizados redobrem os cuidados, fazendo uso de máscara e mantendo o distanciamento social, especialmente no que diz respeito a parentes inclusos nos grupos de risco. Já na hora de comer, nada de ficar muito perto dos outros convidados. Nesses momentos, o ideal é, até mesmo, deixar a conversa para depois, a fim de evitar a emissão de partículas maiores emitidas pela saliva. Comer em um ambiente separado também pode ser uma boa alternativa.
A ventilação é outro ponto de atenção, já que os ambientes devem ser bem arejados. Se o dia for muito quente e não for possível manter as janelas abertas, Zavascki destaca que é importante deixar o ar circular a cada 20 ou 30 minutos.
— Sendo bem realista tudo isso é uma forma de minimizar os riscos, mas nada disso impede a transmissão da covid-19. Uma reunião com muitas pessoas sempre vai aumentar os riscos — finaliza ele.