Os últimos dias de 2021, o segundo ano em que a população convive com a pandemia de covid-19, se aproximam e trazem consigo a expectativa pelas comemorações de Natal e de Ano-Novo junto da família e dos amigos. No ano passado, festejos à beira-mar foram suspensos e a população foi orientada a evitar ao máximo as reuniões entre pessoas, de forma a evitar mais casos de contaminação pelo coronavírus.
O cenário atual, com a vacinação em curso no país — 66,6% de população total do Rio Grande do Sul está vacinada com duas doses ou dose única, segundo o vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (SES) — e o índice de hospitalizações em queda no RS permitem comemorações um pouco menos tensas, acreditam médicos especialistas em infectologia. Mas uma série de cuidados e medidas sanitárias ainda devem ser observados pela população para evitar que as festas impactem nos números de novos casos da doença.
— Todo evento que promove a união de muitas pessoas pode favorecer a disseminação do vírus. As pessoas precisam ter consciência de que a doença ainda não foi embora. Tanto que, em países como a Alemanha, mesmo com alto percentual de população vacinada, houve pico de novos casos, possivelmente relacionado à liberações como a do uso de máscara em ambientes internos. Temos que pegar isso como exemplo e ter cautela neste fim de ano. Não acredito que voltaremos a ter os picos do passado, mas novas ondas, menores e menos letais, poderão ocorrer — afirma Alessandro Pasqualotto, chefe do serviço de infectologia da Santa Casa.
A comemoração que traz menos riscos, segundo os três especialistas ouvidos para esta reportagem, continua sendo a que é feita entre pessoas que já convivem na mesma casa e em ambientes abertos. Mas quando a festa tiver a participação de pessoas que não fazem parte da dinâmica diária da família, é recomendado dar preferência às reuniões em locais abertos ou manter espaços internos bem ventilados, deixando portas e janelas abertas. O uso de máscara sempre que não se estiver comendo ou bebendo também é recomendado a todos, mas especialmente aos idosos e aos imunossuprimidos.
Como não há mais um teto de ocupação dos ambientes previsto em decreto, ficará a cargo dos indivíduos atentar para os riscos das aglomerações e buscar manter distanciamento entre os presentes.
— A celebração ideal é a familiar, mas sabemos que, principalmente no Ano-Novo, muita gente prefere ir pra eventos com mais gente. É preciso estar consciente de que, quanto mais pessoas aglomeradas houver e quanto mais fechado o ambiente, maior o risco de infecção. Assim como quanto menos vacinados, maior o risco. Temos que trabalhar para minimizar o risco — afirma Jair Ferreira, epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Refeições e brinde
Uma das estratégias para reduzir o risco na hora da ceia é prepara uma mesa em estilo bufê para os alimentos e mesas separadas para os convidados, que podem ser acomodados conforme seus núcleos familiares. Esta dinâmica é uma alternativa melhor do que a tradicional grande mesa de Natal ou de Ano-Novo, com toda a família reunida. Se isto não for possível, é importante determinar pelo menos o espaçamento seguro entre cada convidado à mesa.
No ano passado, chegou a ser recomendado que os participantes evitassem falar enquanto comiam, já que é um momento em que estão sem máscara e expelindo pequenas partículas de saliva. Para Pasqualotto essa medida é muito difícil de ser aplicada em festas e pode ser compensada de outra forma:
— É difícil não falar enquanto come, então o melhor é que os convidados fiquem distanciados. Não devem se aglomerar na hora de comer, justamente o momento em que estão todos sem máscara.
Talheres, copos e taças devem ser de uso individual, mas os infectologistas não veem com preocupação o tradicional brinde, já que consideram improvável a transmissão do vírus por meio do contato entre taças. Pedem, no entanto, cautela no momento em que as pessoas se aproximam umas das outras para brindar. Depois do tilintar dos copos, o melhor é afastar-se e, só então, retirar a máscara para beber.
Vacinação e etiqueta respiratória
A vacinação contra o coronavírus não é uma medida obrigatória por lei, mas é a principal ferramenta recomendada para o combate à pandemia. Por isso, especialistas sugerem que adultos não vacinados não participem das reuniões. Também pedem que a população fique atenta para não perder as datas das segundas ou terceiras doses, para que estejam mais protegidos nos festejos.
— Batemos muito na tecla de que é preciso pensar na vacinação como a principal medida protetiva. Pessoas não vacinadas precisam ponderar sobre o risco e ter para si que, ao não se vacinar, correm o risco de ter doença mais grave e também impõem mais risco aos demais, já que têm mais chances de contaminar outras pessoas — afirma a médica infectologista da Comissão de Controle de Infecções do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Caroline Deutschendorf.
As medidas básicas de etiqueta respiratória devem ser observadas com atenção, como utilizar corretamente a máscara e cobrir nariz e boca usando a parte interna do braço caso precise espirrar ou tossir. Também é recomendado higienizar com frequência as mãos, utilizando sabão ou álcool gel. Não devem comparecer à festa pessoas que estejam com sintomas gripais como febre, mal estar generalizado, fadiga, dor de cabeça, tosse, espirro, nariz correndo.
— Se a pessoa não tem absoluta certeza de que não é covid, é importante que não participe do festejo. A família vai ficar chateada, mas é o melhor para garantir a segurança de todo mundo — pondera a infectologista.
Pé na areia
Os médicos avaliam que não há nada de mal em ir para a praia para o Réveillon, acompanhar os fogos de artifício e pular as sete ondinhas, desde que observado o uso de máscara e o distanciamento entre pessoas que não são da família na hora de tirar a proteção para provar a espumante e as uvas. Isso porque os espaços abertos são naturalmente ventilados, o que dificulta a transmissão do vírus.