Após um período superior a dois meses de estabilização nas internações, que se mantinham em patamar elevado desde setembro, a pandemia voltou a dar sinais de recuo no Rio Grande do Sul.
O número de pacientes com coronavírus caiu 29% em leitos clínicos e 16% em unidades de terapia intensiva (UTIs) ao longo das últimas duas semanas. Pela primeira vez desde julho do ano passado, a quantidade de hospitalizados em UTIs voltou a ficar abaixo do patamar de 400 leitos – situação similar à das alas de enfermaria.
– Desde a semana passada temos notado isso. Baixamos dos 400 (internados). É algo que esperávamos até há mais tempo, mas se mantinha em estabilidade – analisa o diretor de Auditoria do SUS da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e integrante do Grupo de Trabalho (GT) Saúde, Bruno Naundorf.
Os indicadores de hospitalizações e de óbitos por coronavírus vinham em tendência acentuada de queda desde março, quando a pandemia atingiu o pico no Estado, mas frearam no começo de setembro. A partir daí, passaram a oscilar em um nível mais ou menos constante, sempre acima dos 400 leitos tanto no setor clínico quanto de cuidados intensivos.
O panorama agora mudou. No meio da tarde deste domingo (21), havia 306 pacientes com covid em enfermarias e 387 em UTIs no Estado, em comparação a 434 e 462, respectivamente, duas semanas atrás (veja dados completos no gráfico mais abaixo).
Integrante dos comitês de Dados e Científico do Piratini, a professora de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Suzi Camey observa que, após uma longa queda de braço com o vírus, os gaúchos voltaram a conquistar um pequeno avanço.
– Parece que, realmente, temos novamente uma tendência de redução das ocupações (hospitalares). No cabo de guerra entre vacina, máscara, distanciamento e ventilação (dos ambientes) contra o vírus, conseguimos uma leve vantagem – sustenta Suzi.
Até este domingo, conforme o site de monitoramento do governo estadual, praticamente 80% da população gaúcha havia recebido pelo menos uma dose de vacina contra o vírus, e quase 67% estavam completamente imunizados.
Impacto de novas flexibilizações ainda é incerto
Recentes flexibilizações de normas sanitárias, como o fim das exigências de teto de ocupação em ambientes abertos ou fechados e de passaporte vacinal em municípios com mais de 90% da população adulta imunizada, lançam um novo fator de incerteza sobre o futuro da pandemia no Rio Grande do Sul.
– Vamos ver como as últimas flexibilizações vão impactar nessa guerra – complementa Suzi.
Um dos indicadores mais favoráveis no panorama recente do coronavírus é o recuo significativo no universo de pacientes em leitos clínicos, já que essa é uma das portas de entrada dos doentes com covid no sistema hospitalar. Um declínio na quantidade de doentes em alas de enfermaria, em um segundo momento, pode reduzir ainda mais os níveis de pacientes em UTI e, mais adiante, as notificações de óbitos.
A previsão é de queda (dos óbitos), seguindo a baixa de internações clínicas e em UTIs
BRUNO NAUNDORF
Diretor da SES
Bruno Naundorf avalia que, embora a quantidade de mortes possa demorar mais para cair, essa é uma possibilidade se for mantida a tendência de diminuição nas internações.
– Como uma regra geral, havendo leitos com boa margem disponível, como é o caso, os casos mais graves chegam nestes locais e pode se manter o número de óbitos, mas a previsão é de queda, seguindo a baixa de interações clínicas e, principalmente, em UTI – afirma Naundorf.
A média de óbitos diários teve uma pequena oscilação de 2,2% para baixo em duas semanas. A boa notícia é que a média calculada para sete dias, que havia chegado a 29 no dia 10 deste mês, já voltou a ficar em um patamar próximo a 20, semelhante ao que vinha sendo registrado desde setembro. A expectativa, agora, é de que esse número caia mais.
Neste domingo, foram notificadas três novas vítimas da pandemia no Estado, elevando o total de mortos a 35.943. Foram informados ainda 360 novos casos da doença.