Com a proximidade das datas festivas do final do ano, aumenta a preocupação de especialistas quanto às maneiras como a população realizará os tradicionais encontros familiares. Após nove meses de restrições, autoridades sanitárias pedem mais um esforço: não é hora de se aglomerar para curar a saudade imposta pelo distanciamento.
A celebração ideal, para minimizar os riscos de transmissão do coronavírus, deve ser feita entre os moradores de um mesmo domicílio, já habituados ao convívio diário. Para incluir mais gente, deve-se contar, uma vez mais, com a tecnologia, reforçam os especialistas.
— Caso a família seja muito grande, se faz uma reunião online — orienta a infectologista Vanessa Schultz, do Controle de Infecção do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre.
Idosos e demais integrantes de grupos de risco, como doentes crônicos (cardíacos, diabéticos, hipertensos etc.), não podem se expor ao contato com quem não encontram presencialmente há muito tempo.
— Se as pessoas conseguirem fazer esse esforço a mais, melhor. Se não conseguirem, que não tenham contato físico e usem máscara durante todo o encontro, tentando manter o distanciamento e não se alimentando ao mesmo tempo à mesa — adverte Vanessa.
Infectologista do Hospital Moinhos de Vento, Paulo Gewehr ressalta que hábitos individuais e coletivos determinarão o menor ou o maior grau de risco das confraternizações de Natal e Ano-Novo. Além da tríade habitual do uso de máscara, higienização com álcool gel e distanciamento, fatores como local da festa, número de convidados, duração e disposição dos participantes às mesas para a refeição são cruciais para definir o nível de exposição a que as pessoas estarão submetidas.
O médico reconhece que a proposta dos especialistas não é de fácil aceitação pelo público em geral e salienta a importância futura das restrições a serem respeitadas agora.
— É desconfortável ficar afastado. É difícil para todos, não é fácil para ninguém. Sentimos saudade, mas se sentimos saudade é porque aquela coisa é boa. Se estamos fazendo isso, é para manter pessoas vivas, para que, logo em seguida, possamos celebrar por muitos e muitos anos — incentiva Gewehr.
Órgão do governo federal, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou nesta semana uma cartilha com orientações para as festividades de fim de ano — a íntegra está ao final deste texto. O conteúdo reforça os cuidados que se deve ter para evitar a transmissão do coronavírus. Antes, confira o que os especialistas da área médica orientam para que as festas tenham menor risco e os alertas para as situações de maior risco.
Especialistas dão dicas para organizar as comemorações de Natal e Ano-Novo
A distância
- Mandar os presentes do amigo secreto ou compartilhar pratos da ceia por telentegra é uma ótima maneira de integrar, na medida do possível, quem não puder se reunir com familiares e amigos.
- Não economize nas videochamadas.
Lista de convidados
- É difícil definir o que é uma aglomeração. Pense da seguinte maneira: um ambiente menor, em comparação a um maior, precisa de menos convidados para que eles fiquem mais próximos uns dos outros.
- O distanciamento recomendado entre as pessoas é de dois metros. Lembre-se, no entanto, de que ninguém fica estático. As pessoas se movimentam, e essa distância se altera a todo instante.
Escolha do local
- Prefira ambientes ao ar livre, como pátios e jardins, ou locais internos com boa circulação de ar.
- Se a reunião for dentro de casa, é preciso manter portas e janelas abertas (ventilação cruzada).
- Não recorra ao uso do ar-condicionado.
- Posicione ventiladores perto das janelas, virados para fora. O aparelho vai puxar o ar potencialmente contaminado de dentro do cômodo e jogá-lo para o lado externo.
Preparativos
- O ideal é distribuir as pessoas em diferentes mesas. Núcleos familiares próximos sentam juntos.
- No banheiro, retire as toalhas de rosto de pano, substituindo-as por toalhas de papel.
- O sabonete, preferencialmente, deve ser líquido, e não em barra.
Antes da festa
- Pessoas com sintomas suspeitos de infecção por coronavírus devem se colocar em autoisolamento e buscar avaliação médico e testagem.
- Se você teve contato com alguém que recebeu diagnóstico positivo de covid-19 ou está com suspeita da doença, cumpra quarentena de 14 dias. Caso queira, pode se submeter a um teste.
- A logística do autoisolamento é complicada, mas precisa ser cumprida à risca. Você não deve ter contato com ninguém.
- Caso tenha uma festa em vista, preserve-se. Não descuide da proteção nos dias anteriores. Lembre-se de que você poderá estar, em breve, colocando outras pessoas em risco também.
- Para aqueles que pretendem viajar para encontrar parentes, recomenda-se respeitar também uma quarentena de duas semanas. O deslocamento deve ser em automóvel próprio.
- Abasteça-se com máscaras extras para providenciar as trocas quando estiverem úmidas ou sujas.
Durante a festa
- Se for o anfitrião, tome para si o papel de “coordenador” e relembre os visitantes, de tempos em tempos, sobre os cuidados que precisam ser seguidos por todos.
- Prefira dispor os itens do cardápio em uma mesa única, estilo bufê. Todos devem higienizar as mãos com álcool antes de se servir.
- Outra opção é designar uma, duas ou três pessoas para servirem as demais.
- Estipule diferentes faixas de horário para a refeição, para que não fiquem todos comendo ao mesmo tempo.
- Apesar das delícias que certamente estarão compondo o cardápio, as visitas não devem se alongar no momento da ceia, quando estarão sem máscara.
- As superfícies mais tocadas, como maçanetas, a porta da geladeira ou o interfone, devem ser limpas com frequência. Utilize os produto mais adequados: álcool, água sanitária, água e sabão.
- Lave as mãos antes e depois de tocar em objetos ou locais onde muitas pessoas também se encostam.
- Não se aproxime dos outros para tirar fotos, mesmo quando estiver de máscara.
- Na hora do brinde, os participantes erguem as taças em seus lugares, sem se aproximar para que os copos se toquem.