A 26ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP26), em Glasgow, na Escócia, deveria terminar oficialmente nesta sexta-feira (12). Mas com as divergências registradas no momento, principalmente entre países ricos e nações em desenvolvimento, é provável que prossiga pelo fim de semana.
Para buscar um terreno comum, o segundo rascunho de resolução, ainda provisório e divulgado nesta manhã, pede aos países "a supressão progressiva da energia produzida com carvão sem mitigação e dos subsídios ineficazes aos combustíveis fósseis".
Esta é uma menção sem precedentes em mais de duas décadas de negociações sobre tais combustíveis, incluindo gás e petróleo, amplamente responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa que provocam o aquecimento do planeta.
Porém, este rascunho é mais suave que a do primeiro, que pedia simplesmente aos países para "acelerar o abandono do carvão e o financiamento dos combustíveis fósseis".
Os delegados de 194 países, reunidos desde 31 de outubro, têm como missão determinar como cumprir os compromissos do Acordo de Paris. O acordo de 2015 estabeleceu um compromisso para limitar o aumento da temperatura global abaixo de +2 ºC até o fim do século na comparação com a era pré-industrial, e de maneira ideal o mais seguro +1,5 ºC, para evitar as devastadoras catástrofes naturais representadas por cada décimo de grau adicional.
Mais ambição para 2022
Vanessa Pérez-Cirera, diretora da ONG ambientalista WWF, lamentou que "o rascunho revisado tenha recuado em áreas cruciais".
– Diante da emergência climática, havíamos considerado o texto anterior como o limite absoluto e esperávamos que este fosse mais forte e concreto – destacou.
Ela celebrou, no entanto, o fato de que "o aumento a curto prazo dos compromissos climáticos para 2022 permaneça no texto, embora ainda seja insuficiente para a meta de +1,5 °C".
De acordo com um mecanismo estabelecido em 2015, os países devem revisar seus objetivos a cada cinco anos, com a próxima vez programada para 2025. Desde o início da reunião em Glasgow, no entanto, as nações mais vulneráveis afirmam que o prazo seria muito tarde e insistem em revisões anuais.
O primeiro rascunho de resolução, publicado na quarta-feira, pediu aos países para "revisar e fortalecer" os planos de descarbonização no próximo ano. E o fato desta menção não ter sido retirada na segunda versão indicaria a existência de um consenso sobre o tema.
Pérez-Cirera, porém, considera que "isto deve ser acompanhado por uma ação a curto prazo, como por exemplo um acordo para a eliminação dos bilhões gastos anualmente no subsídio dos combustíveis fósseis, o que poderia ajudar a alcançar os 100 bilhões de dólares" anuais prometidos desde 2009 em ajudas aos países pobres, um valor que até hoje não foi alcançado.
É necessário fazer mais
As emissões de gases do efeito estufa, desde a Revolução Industrial, já provocaram um aumento da temperatura de +1,1 ºC e suas caóticas consequências, incluindo secas e inundações, devem aumentar e provocar o surgimento de milhões de refugiados climáticos, advertem os especialistas.
Os primeiros 10 dias da COP26 foram marcados por anúncios pomposos: novos objetivos da Índia - quarto maior poluente mundial -, promessas de acabar com o desmatamento até 2030 e a emissão de 30% a menos de metano, gás que tem efeito estufa 80 vezes maior que o CO2.
Até China e Estados Unidos, os dois maiores emissores do planeta, anunciaram de maneira inesperada um acordo para reforçar em conjunto a luta contra a mudança climática, apesar das profundas divergências em outros campos.
A ONU advertiu, no entanto, que apesar das promessas o planeta segue rumo a um "catastrófico" aquecimento de +2,7 ºC e que os países devem fazer mais.