Pesquisadores brasileiros encararam de forma positiva a notícia de que médicos do Hospital Langone Health, em Nova York, conseguiram transplantar um rim de porco, geneticamente modificado, para ser um humano. O procedimento ocorreu em setembro, mas o anúncio só foi feito na terça-feira (19). O animal foi o animal escolhido por ter os órgãos mais similares ao de uma pessoa.
Em entrevista ao portal G1, Silvano Raia, cirurgião e professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, entende que o xenotransplante — transplante entre diferentes espécies — deve mudar a forma como esse procedimento é feito hoje em dia. Para ele, é provável que na próxima década sejam usados somente órgãos de animais nos procedimentos e que, nos próximos meses, países como a China, Alemanha e Estados Unidos já comecem a realizá-los.
Segundo o portal, para que os xenotransplantes sejam possíveis no Brasil, que já tem pesquisas em desenvolvimento sobre o tema há anos, é necessário construir um biotério, um espaço adequado nos quais os embriões serão introduzidos em uma porca matriz. Esse ambiente controlado impede a contaminação dos animais com organismos possivelmente prejudiciais às pessoas. Apesar do Brasil já estudar o procedimento, o estágio de desenvolvimento ainda não é tão avançado como em outros países.
No Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano da USP, já foi possível modificar os genes de embriões de porcos. Isso é feito para que não haja rejeição do órgão no organismo, mesmo procedimento adotado no experimento norte-americano.
Para o G1, Mayana Zatz, que lidera o centro de pesquisa, explicou que os rins são os órgãos escolhidos para o experimento porque podem ser colocados sobre a pele da pessoa, como feito no Hospital Langone Health, em que o rim foi acoplado na perna da paciente.
Segundo Silvano Raia, o processo é feito em fases. Inicialmente, assim como feito no experimento em Nova York, o transplante será testado em pessoas com morte cerebral. Depois, em cerca de seis meses a um ano, o transplante do rim de porco deve começar a ser feito em pacientes que estão fazendo hemodiálise, sem doador humano compatível. Esse grupo será observado por cerca de um ano e, caso os resultados sejam positivos, o procedimento poderá ser ampliado.
O xenotransplante pode conseguir diminuir a fila de espera no país. Segundo o Ministério da Saúde, atualmente, 53.218 pessoas aguardam por um órgão ou tecido.
O procedimento
A operação bem sucedida de um transplante de um rim de porco geneticamente modificada para um ser humano foi realizada no dia 25 de setembro. Com autorização da família, o órgão foi conectado aos vasos sanguíneos de uma paciente em estado de morte cerebral e com sinais de disfunção renal.
Durante os dois dias e meio de experimento, o rim funcionou bem, cumprindo a função de produzir urina.