Mais de duas semanas após o prazo previsto para o Rio Grande do Sul vacinar todos os adultos com pelo menos uma dose contra o coronavírus, a baixa adesão do público mais jovem à campanha de imunização preocupa as prefeituras.
O painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES) indica que 21% dos gaúchos entre 18 e 24 anos ainda não têm registro da primeira dose, ou pouco mais de 241 mil pessoas – o equivalente a uma cidade do porte de São Leopoldo, por exemplo. O problema é mais acentuado na faixa até 19 anos: um quarto dessa população não tem notificação de vacina, patamar que chega a um terço em cidades como Porto Alegre.
A meta do Piratini era imunizar todos os adultos até 25 de agosto, mas as últimas faixas etárias a serem contempladas também vêm se mostrando as mais resistentes a se imunizar. É possível que uma parte dessa defasagem seja provocada pela demora no abastecimento dos dados no sistema informatizado do Ministério da Saúde, mas o fato de já terem passado várias semanas desde que esse público começou a ser atendido desperta preocupação generalizada entre gestores municipais da saúde.
– Principalmente nessa faixa etária, a partir dos 18 até uns 25 anos, os municípios, em sua grande maioria, notaram uma adesão menor do que entre os mais velhos. Alguns municípios registraram cerca de 60% (com ao menos uma aplicação), enquanto a meta é chegar a pelo menos 90% – afirma o presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Estado (Cosems/RS), Maicon Lemos.
Porto Alegre é uma das cidades com desempenho abaixo da média estadual nesse quesito. Nada menos do que 32% dos moradores de 18 e 19 anos ainda não figuravam no painel oficial de contabilização das vacinas até esta sexta-feira (10) – cerca de 13,1 mil pessoas apenas nesse intervalo de idade (veja detalhes no gráfico).
– Já vínhamos conversando internamente sobre isso há algum tempo. Um dos possíveis motivos para esse cenário é que os mais jovens talvez não se sintam tão ameaçados pela covid-19 e pelas complicações que ela pode causar – avalia o diretor da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter.
Ritter lembra que, embora os casos de óbito de fato sejam mais raros no grupo abaixo dos 24 anos, ainda há risco, e a adesão dessa parcela da população à campanha de combate ao coronavírus é fundamental para reduzir a circulação do vírus e o risco de que outras pessoas, mais vulneráveis, se contaminem e adoeçam de forma grave.
– Se essas pessoas não se vacinarem, certamente haverá algum impacto na busca pela imunidade coletiva, que anteriormente se previa com 70% de cobertura, e agora exigiria pelo menos 90% ou mais – complementa Ritter.
Porto Alegre monta estratégia para tentar atrair jovens
A preocupação com o desinteresse de parte da população juvenil em se imunizar contra a covid-19 começa a mobilizar prefeituras para tentar ampliar a adesão nessas faixas etárias.
– Municípios estão fazendo repescagem de vacinação para ver se conseguem correr atrás e vacinar esse público, que é estratégico porque se desloca muito – observa o presidente do Cosems/RS, Maicon Lemos.
Uma das cidades mais afetadas por esse obstáculo à imunização no Estado, Porto Alegre já vinha realizando ações específicas voltadas a esse público-alvo como os chamados “rolês da vacina” – ações voltadas especificamente aos mais jovens e realizadas em diferentes pontos dos bairros. Como a defasagem ainda é significativa, o município passou a buscar novas estratégias.
Uma delas é mapear as regiões da cidade com menor adesão às vacinas nessas faixas etárias. Já se observou que regiões mais periféricas e com piores condições socioeconômicas em relação à média municipal apresentam índices de abstenção mais elevados, como Restinga, Lomba do Pinheiro, Bom Jesus e Partenon.
– Fizemos um cruzamento de informações com nomes que estão no cadastro único (de programas sociais, que reúne famílias de baixa renda) com os registros de vacinação para ver onde estão esses jovens que não se imunizaram e ir atrás deles – afirma o diretor da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter.
A ideia, após essas análises iniciais, é aprofundar a descentralização na oferta das doses de imunizantes a fim de elevar o percentual de jovens devidamente protegidos contra a pandemia.