Conforme a campanha de vacinação contra a covid-19 passa a abranger pessoas cada vez mais jovens — até 11 de agosto, 37 cidades gaúchas já haviam concluído a vacinação de quem tem 18 anos ou mais —, cresce a expectativa por um imunizante que possa ser aplicado nas crianças.
Até o momento, adolescentes entre 12 e 17 anos são os únicos menores de idade autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a receber a vacina, embora a permissão seja restrita à Pfizer. No Rio Grande do Sul, a imunização ainda ocorre somente para adolescentes com comorbidades.
— O surgimento de novas variantes, em virtude do controle lento da pandemia, nos remete a uma necessidade de atingirmos toda a população suscetível vacinada. Portanto, a vacinação das crianças deverá ocorrer em breve, assim que tivermos estudos de segurança na população abaixo de 12 anos. É pouco provável que a pandemia termine sem termos imunidade populacional. O vírus irá se adaptar e cada vez mais criar variantes — afirma Fabrizio Motta, supervisor médico do Controle de Infecção e Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre.
Para crianças, ainda não há imunizante contra o coronavírus previsto no Plano Nacional de Imunização (PNI). Na noite de quarta-feira (18), a Anvisa votou contra um pedido do Instituto Butantan para uso emergencial da CoronaVac em indivíduos de três a 17 anos. Segundo a agência, ainda faltam estudos que comprovem a eficácia e a segurança da vacina para esta faixa etária.
Quadros mais leves, mas variantes causam receio
De acordo com a infectologista pediátrica Fernanda Varela, pesquisadora do Hospital Moinhos de Vento, os quadros de covid-19 em crianças são mais leves, mas podem ocorrer casos graves, ainda que com baixa frequência. Existe um receio, informa Fabrizio Motta, de que novas variantes possam driblar essa tendência e passar a acometer as crianças de forma mais grave, mas isto ainda não se confirmou. Em um cenário de variantes mais transmissíveis, como a Delta, no entanto, o número de casos de infecção entre os pequenos deve aumentar, como já vem ocorrendo nos Estados Unidos.
— Proporcionalmente, a maioria dos casos de coronavírus é leve em crianças, com taxas baixas de hospitalização e morte, quando comparadas aos pacientes adultos. Mas quando olhamos os números absolutos nas crianças, eles são elevados, em alguns locais levando a mais óbitos do que o vírus da gripe em anos anteriores — afirma o infectologista pediátrico.
O que fazer sem ter vacina
Enquanto a proteção vacinal ainda não é uma possibilidade para o público infantil, cabe aos adultos zelar pela saúde deles. Confira no final desta matéria uma lista de recomendações para cuidados com a saúde dos pequenos na pandemia.
De acordo com Fernanda, crianças maiores de dois anos que tolerarem o uso da máscara devem utilizá-la. Além disso, cuidados básicos como lavar as mãos, manter distanciamento, evitar aglomerações e preferir ambientes ventilados devem ser seguidos por todos. A vacinação da população adulta e dos adolescentes também é uma forma indireta de protegê-los.
— Já foi demonstrado que, com o aumento da vacinação dos adultos, ocorre redução dos testes positivos em crianças. Com a redução da chance desse adulto ter covid-19, acabamos reduzindo a chance de a criança pegar covid-19 do seu pai, mãe ou irmão mais velho — explica Motta.
Como proteger as crianças da covid-19
- A partir dos dois anos, a criança que aceitar e tolerar o uso da máscara deve utilizá-la. O acessório pode ser colocado pelos pais ou cuidadores, com as mãos previamente higienizadas, mas é bom que ela seja ensinada, aos poucos, a executar o processo sozinha.
- O ideal é usar máscara durante todo o tempo passado fora de casa.
- Como o público infantil ainda não está contemplado na campanha de imunização, todos os adultos da família devem se vacinar conforme a ampliação das faixas etárias, como medida de proteção para si próprios e para a coletividade, o que inclui, obviamente, as crianças.
- Todas as demais medidas protetivas valem também para os pequenos: lavar as mãos, manter distanciamento, evitar aglomerações e ventilar ambientes. Dê o exemplo.
- É fundamental manter os cuidados nos encontros com as pessoas que não convivem na mesma casa.
- Em passeios ao ar livre ou em locais fechados, como restaurantes, a máscara só deve ser retirada no momento de ingerir alimentos ou bebidas. É preciso recolocá-la imediatamente depois da alimentação.
- Se o seu filho estiver com sintomas gripais como coriza, tosse, febre, mal-estar e dor no corpo — problemas gastrointestinais também podem aparecer —, não deve ir para a escola. O ideal é procurar orientação médica e, se necessário, fazer o teste para detecção de possível infecção por coronavírus.
- Pais e demais coabitantes devem ficar isolados em casa, assim como a criança sintomática, até que seja descartada a covid-19.
Fonte: Fernanda Varela, infectologista pediátrica, pesquisadora do Hospital Moinhos de Vento e membro da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia