A sala de vacinação na Escola Municipal de Ensino Fundamental Irmão Weibert, em São Leopoldo, foi colorida de cima a baixo por uma chuva de papéis picados vermelhos e em formato de coração no momento em que Iasmin Dias Fraga, 17 anos, recebeu sua primeira dose da vacina contra a covid-19. Essa foi a forma que a família da jovem, que tem síndrome de Down e cardiopatias, encontrou para celebrar a imunização tão sonhada após um longo período de isolamento e preocupação.
— Nós queríamos muito essa vacina. Já é quase um ano e meio de isolamento, em que ela não sai de casa pra nada. Muitas pessoas me ligaram nesse meio tempo, achando que ela já tinha tomado a vacina por causa da síndrome de Down, mas ela não podia, pois é menor de idade. Hoje, quando fomos chamadas para a vacinação dela, me emocionei — conta a mãe, Jaqueline Dias, que fez questão dos confetes para que tivessem um vídeo alegre para compartilhar com os amigos do Grupo de Crianças Especiais nas redes sociais.
Na tarde desta quarta-feira (14), São Leopoldo começou a vacinar adolescentes de 12 a 17 anos com comorbidades ou deficiências permanentes. De acordo com a Vigilância em Saúde, o montante de doses da Pfizer de que o município dispõe atualmente permite a seguinte programação: vacinar 50 adolescentes nesta quarta-feira, mais 150 na quinta-feira (15) e outros 50 na sexta-feira (16). Para além disso, a continuidade da campanha depende da chegada de mais ampolas desse imunizante, o único autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a ser aplicado em quem está nesta faixa etária no país.
A dinâmica de vacinação desse grupo contrasta com a que é vista nas demais faixas etárias: a agilidade essencial ao andamento da campanha contra a covid-19 no Estado agora dá lugar a um ritmo um pouco mais lento, que permite que as equipes médicas deem atenção especial aos jovens e às suas demandas.
— É outra lógica, não é aquela dinâmica mais massiva, pois se tratam de crianças com diferentes doenças e condições. São jovens que podem ter dificuldades de locomoção, de ficar em filas e de entender o que está acontecendo. Por isso, estamos buscando oferecer um atendimento mais tranquilo. Os pais devem ter paciência, vai chegar a vez de todos — afirma o secretário municipal de Saúde, Marcel Frison.
O garoto de 12 anos Gabriel Rocha Lima Ellwanger também garantiu a sua dose em São Leopoldo. Ele sofre de displasia pulmonar, doença que fez com que os pais optassem por mantê-lo em ensino remoto, evitando os riscos do contato com outras pessoas em uma sala de aula. A vacina faz com que a família se sinta confiante para planejar a volta de Gabriel ao estudo presencial.
— Estávamos esperando muito essa dose pela segurança dele e pra ele poder voltar a ir para a escola. Conforme ele receber a segunda aplicação, e quando houver um número maior de pessoas vacinadas, vamos avaliar o retorno dele — afirma o pai, André Ellwanger.
Em São Leopoldo, a campanha ocorre somente na escola destinada a esse grupo prioritário. Para ser vacinado, é preciso estar acompanhado de um responsável e apresentar laudo médico que comprove a comorbidade ou a deficiência. É necessário preencher previamente um cadastro online, disponível no site da prefeitura do município — até esta tarde, mais de 300 inscrições já haviam sido computadas. Depois, conforme houver disponibilidade de doses, a Secretaria Municipal da Saúde ligará para os jovens e suas famílias e agendará um horário para comparecerem ao posto de vacinação.
O início da campanha no município do Vale do Sinos veio após a decisão do governo do Estado, na segunda-feira (12), de incluir adolescentes com comorbidades na vacinação contra a covid-19. Na última quinta-feira (8), a Câmara dos Deputados havia aprovado um projeto que inclui os adolescentes com comorbidades ou deficiência permanente no grupo prioritário da vacinação. O texto já passou pelo Senado e aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro.