Um novo grupo pode ser incluído em breve na campanha nacional de vacinação contra o coronavírus: os adolescentes. Com a entrada da Pfizer no Brasil, a única autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a ser aplicada em quem tem entre 12 e 17 anos, os municípios brasileiros passaram a mirar a faixa etária. São Leopoldo, no Vale do Sinos, abriu nesta segunda-feira (12) um cadastro para que adolescentes com comorbidades e deficiência permanente registrem interesse na imunização.
O plano do município gaúcho é, a partir dessas manifestações, avaliar qual o tamanho do grupo a ser vacinado. Mas também serve como uma pressão no governo federal. Hoje ainda, a prefeitura deve encaminhar um ofício ao Ministério da Saúde pedindo que o grupo seja incluído no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19 (PNO).
- Eles são muito vulneráveis, não só pelo retorno às aulas, mas pelas comorbidades. Antes não tinha vacina autorizada para os adolescentes, mas a Pfizer já fez esse estudo, foi aprovado pela Anvisa. Não há por que não vacinar. Estamos fazendo cadastro e pressionando o Ministério da Saúde para que liberem - diz o secretário de saúde do município, Marcel Frison.
São Leopoldo garante que só vai vacinar os adolescentes quando houver autorização, diferentemente da cidade mineira de Betim. O município, que chegou abrir a campanha para esses jovens no dia 16 de junho, foi barrado pela Justiça, sob risco de multa, já no dia seguinte. O Ministério Público de Minas Gerais moveu ação, e agora a prefeitura aguarda julgamento de recurso para retomar a vacinação da faixa etária.
O governador de São Paulo João Dória, por outro lado, foi mais estratégico: anunciou no domingo (11) que, a partir de 23 de agosto e até 30 de setembro, todos entre 12 e 17 anos deverão estar devidamente vacinados.
Tudo indica que, até lá, o Ministério da Saúde terá feito uma atualização no PNO contemplando essa faixa etária. Na quinta-feira (8) da semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que inclui os adolescentes com comorbidades ou deficiência permanente no grupo prioritário da vacinação. O texto já passou pelo Senado e segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro.
O que dizem os especialistas
Para o médico infectologista Paulo Gewehr, coordenador do núcleo de vacinas do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, os jovens entre 12 e 17 anos com doenças crônicas poderiam ter sido incluídos no PNO no momento em que houve aprovação da Anvisa para que a Pfizer fosse aplicada nesse grupo, no dia 11 de junho. Apesar disso, ele considera que contemplar adolescentes em geral é uma estratégia bem-vinda.
- Com os adolescentes voltando às atividades escolares, circulando mais e tendo mais chances de entrar em contato com o vírus, é importante que estejam vacinados. É para a segurança deles e da família deles, e também para a segurança dos profissionais da educação. Quanto menor a circulação do vírus, melhor - afirma.
Consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, a médica infectologista Raquel Stucchi entende que, em um cenário ideal, os adolescentes deveriam ser vacinados. Como a realidade no Brasil é de poucas vacinas e um grande público para ser imunizado, seria mais inteligente usar as doses disponíveis para completar o esquema vacinal, estratégia importante diante da Delta, variante nova e mais agressiva já presente no país.
- Em relação à proteção contra a Delta, tanto a vacina da Pfizer quanto a AstraZeneca são eficazes quando temos as duas doses completas. Não podemos começar a vacinar adolescentes com as doses que seriam usadas para segunda aplicação na população - argumenta ela.
Segundo a especialista, os adolescentes com comorbidades são grupo de risco, mas não estão entre as faixas etárias que mais precisam de internação quando acometidas pela doença.
- Do ponto de vista epidemiológico, os adolescentes com comorbidades não representam uma fatia grande de internações. Temos que vacinar essas pessoas que estão na faixa de internação muito alta. Se houver vacina para todo mundo, então podemos começar com os adolescentes.
Gewehr concorda com a colega quando o assunto é elaborar estratégias para garantir a segunda dose a todos os que foram contemplados até aqui pelo PNO.
- Estamos vendo uma aceleração da vacinação, mas muitas pessoas não fizeram a segunda dose e outras, nem a primeira. É importante trabalhar o resgate em que não completou o esquema vacinal e avançar, paralelamente, em novos grupos - diz ele.
De acordo com Maicon de Barros Lemos, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS) e secretário de saúde de Canoas, haverá uma reunião na tarde desta segunda-feira com a Secretaria Estadual da Saúde (SES) para discutir o assunto. Questionada, a SES informou que a imunização iniciará para os adolescentes no Estado assim que for permitida pelo PNO e quando forem disponibilizadas mais doses de vacinas.
O Ministério da Saúde também enviou uma nota dizendo que a "a ampliação da vacinação para adolescentes a partir dos 12 anos está em discussão na Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis". A pasta também reforçou que a orientação dada aos Estados e municípios é que, neste momento, a prioridade é vacinar todos os grupos prioritários, acima dos 18 anos, e que já constam no PNO.