A prefeitura de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, começou, nesta quarta-feira (16), a vacinar estudantes de 12 a 14 anos da rede pública municipal contra a covid-19. A mudança de rumo em relação ao Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, que orienta a vacinação com base nas idades mais avançadas e em grupos com comorbidades, ocorre poucos dias após a autorização pela Anvisa de uso do imunizante da Pfizer em adolescentes de 12 a 15 anos. A medida recebeu críticas de especialistas.
O município ainda não vacinou toda a população acima de 18 anos. Atualmente, o município está imunizando pessoas com 59 anos, pessoas com deficiência permanente e pessoas de 40 a 49 anos com comorbidade, de acordo com o portal G1.
Em entrevista à TV Globo, o secretário municipal de Saúde de Betim, Augusto Viana, disse que, após autorização da Anvisa, a prefeitura fez uma "discussão interna" e decidiu vacinar os estudantes.
— Existem já algumas orientações de que este público é o que mais está sofrendo do ponto de vista de não ter acesso ao ensino de forma presencial. O município já vem avançando para termos o retorno às atividades escolares de forma gradual e, no nosso entendimento, este público, nós temos condições de levar para a sala de aula com segurança e planejamento — disse, acrescentando que pessoas com idade a partir de 12 anos estão entre os principais vetores da doença.
O prefeito Vittorio Medioli afirmou, na terça (15), que a medida visa o retorno seguro das atividades escolares:
— Recebemos um lote de 6 mil doses que correspondem a cerca de 50% do grupo do Ensino Fundamental. Estamos prevendo receber outro lote na próxima semana, decidimos reservar esses lotes da Pfizer, única homologada para essa idade de 12 a 14 anos, para poder garantir a volta às aulas 100% segura — disse Medioli ao Estadão.
Decisão gerou críticas de especialistas
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "a ampliação da vacinação para adolescentes a partir dos 12 anos, com o imunizante da Pfizer, está em discussão na Câmara Técnica Assessora em Imunização e Doenças Transmissíveis".
O texto reforça que, neste momento, a prioridade é vacinar todos os grupos prioritários estipulados no plano nacional, mas os gestores locais do SUS têm autonomia para seguir sua a estratégia de vacinação.
Consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, a professora Raquel Stucci, da Unicamp, condenou o que chama de "descontrole na política de vacinação no país" e achou a ação "equivocada".
— É certo que nós temos um total descontrole na imunização no país, há municípios que não completaram nem a primeira dose nos grupos de risco. A impressão que eu tenho é de que a cidade optou por desviar (vacinas). Acho que estão absolutamente equivocados sobre a importância dessa faixa etária como prioridade para vacinação — disse a infectologista.
O prefeito do município negou que esteja ocorrendo um "desvio" de doses e garantiu que a vacinação dos outros grupos não parou. Medioli acrescenta que sua meta é "uma volta às aulas 100% segura".
A expectativa do município é vacinar todos os 18 mil alunos com a primeira dose em três semanas. O retorno semipresencial dos alunos às escolas de Betim está programado para agosto.