A autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em adolescentes a partir dos 12 anos da vacina contra a covid-19 da Pfizer foi bem recebida por especialistas consultados por GZH. Embora não se saiba se essa aprovação vai resultar na inclusão da faixa etária no plano de imunização, ela traz esperança e abre caminho para alguns grupos específicos que antes não podiam ser incluídos na campanha.
É o caso de crianças e adolescentes com comorbidades, sinalizam os médicos Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, e Ana Paula Burian, pediatra infectologista e membro da Comissão de Calendários Vacinais da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Apesar de não ser maioria absoluta, esse grupo merece um olhar cuidadoso, pois, em caso de infecção pelo coronavírus, podem ter complicações.
— Há crianças com anemia falciforme, ou que nascem com HIV e se tornam portadores crônicos, ou em tratamento oncológico, ou mesmo transplantados. Para eles, será um grande ganho. Então, tem que ter esse olhar. Quando pensamos em covid-19, geralmente os sintomas são de menor gravidade em crianças e adolescentes quando comparados com adultos, mas estamos falando de um público saudável — pontua Ana Paula.
O infectologista do Moinhos de Vento acrescenta que, em razão do retorno às atividades escolares presenciais e das características de interação das pessoas nessa idade, a vacina seria mais uma aliada na proteção, uma vez que os protocolos nem sempre são seguidos na sua integralidade.
— Nesse sentido, a proteção não depende do comportamento, mas, sim, da vacina — observa o médico.
— Adolescentes que se contaminam podem transmitir o vírus quando voltam para suas casas. Se estiverem protegidos, se reduz o risco de transmissão dentro da residência — completa Gewehr Filho.
Para o especialista, a máxima que diz que quanto mais pessoas vacinadas, melhor, pode ser aplicada nesse caso:
— Colocando barreiras de bloqueio entre os indivíduos, o vírus não consegue se espalhar. É o que chamamos de imunidade de rebanho ou proteção de grupo. Sabemos que a população abaixo dos 18 anos tem um percentual relevante, logo, quanto mais estiverem vacinados, melhor.
A fim de evitar a hesitação vacinal (quando um grupo não quer se imunizar) e obter sucesso em uma possível campanha com adolescentes, Gewehr Filho destaca a importância de os pais ou responsáveis buscarem informações sobre a segurança e a eficácia apresentados pelos imunizantes nos estudos. Além disso, recomenda o médico, deve-se esclarecer possíveis dúvidas com profissionais da saúde.
Programa Nacional de Imunizações vai aderir?
Ainda no campo das incertezas no que diz respeito à inclusão dessa faixa etária no programa de vacinação, o que se sabe ao certo é que o Programa Nacional de Imunizações (PNI) dá prioridade para aqueles grupos mais vulneráveis, como foi o caso dos profissionais da saúde e idosos na abertura da campanha.
Ainda que possa impactar positivamente sob o ponto de vista estatístico da vacinação, colocar todos os adolescentes na mira requer um bom planejamento, pondera Ana Paula. Na prática, os estoques dos imunizantes ainda são insuficientes e cada um deles tem peculiaridades na administração.
— A Pfizer pode ser usada em gestantes, puérperas e, agora, a partir dos 12 anos. A CoronaVac poderia ser aplicada em gestantes, mas por falta de estoque fica complicado, portanto, essa estratégia precisa ser pensada em termos de aquisição — diz a médica.
Quem aplica em adolescentes
Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA, órgão semelhante à Anvisa) autorizou o uso do imunizante em crianças e adolescentes de 12 a 15 anos em 10 de maio.
Oito dias depois do aval, mais de meio milhão de norte-americanos nesta faixa etária haviam recebido uma dose. No país, mais de 4 milhões de pessoas abaixo de 17 anos já foram imunizadas contra a covid-19.
Israel também começou a vacinar essa população no último dia 6. Conforme a imprensa local, cerca de 600 mil crianças estavam elegíveis para a imunização, embora algumas abaixo dos 16 anos, pertencentes a grupos de risco, já tivessem recebido as doses antes da liberação e sem registro de efeitos colaterais.
Mais perto daqui, o Uruguai se tornou o primeiro país da América Latina a começar a vacinação de crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos nesta semana. O vizinho também usa o imunizante da Pfizer e tem um universo de 280 mil pessoas para serem vacinadas.