Na segunda visita a Porto Alegre como ministro da Saúde, Marcelo Queiroga se esquivou de comentar temas polêmicos da CPI da Covid, exaltando o governo de Jair Bolsonaro e a compra de vacinas contra a covid-19 para a população.
Recepcionado pelo cardiologista Fernando Lucchese, Queiroga deu início à agenda em hospitais da Capital no final da manhã desta sexta-feira (2), pela Santa Casa. Abraçados, os médicos — colegas de especialidade — subiram a escadaria do Centro Histórico-Cultural da instituição.
Após reunião com a presença do diretor-geral do complexo, Julio Matos, e de outros convidados, o ministro fez um pronunciamento à imprensa no saguão. Ele elogiou a atuação das Santas Casas e dos hospitais filantrópicos no combate à pandemia e voltou a garantir que toda a população brasileira acima de 18 anos estará imunizada até o final do ano, graças às 630 milhões de doses de imunizante já compradas.
— O que temos a comemorar é o sucesso da nossa campanha — falou Queiroga, salientando a marca de 135 milhões de doses distribuídas pelo país e mais de 100 milhões aplicadas. — Assistimos hoje a um ambiente epidemiológico não digo ainda confortável, mas com redução dos óbitos — completou.
Os números do Rio Grande do Sul foram destacados: o Estado já recebeu 8,7 milhões de doses. Queiroga frisou que todas as vacinas são distribuídas pelo ministério. Nos próximos dias, 676 mil doses devem ser enviadas à Secretaria Estadual da Saúde.
O ministro foi questionado por jornalistas sobre a CPI conduzida pelo Senado para apurar possíveis irregularidades cometidas durante a crise sanitária. Sentado ao lado do senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), ferrenho defensor do "kit covid" e um dos mais ruidosos integrantes da base governista na comissão, Queiroga brincou com um jogo de palavras, dizendo estar mais interessado em CTI, para onde vão os pacientes com quadros graves de covid-19, do que em CPI.
— Meu foco principal é acelerar a campanha de vacinação. Minha preocupação maior é com CTI do que com ações do parlamento — disse.
Em relação ao contrato de compra da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, Queiroga também desviou do tema, repetindo a estratégia de devolver perguntas.
— Quantas doses de Covaxin foram compradas? — questionou. — Ministro da Saúde é ministro da Saúde. Aspectos envolvendo o presidente da República são outra questão. O que ele tem feito fortemente é trabalhar pela saúde do Brasil. O povo brasileiro já reconhece que é um absoluto sucesso.
O ministro comentou que o contrato pelo imunizante, atualmente suspenso, pode até ser cancelado, mas que isso cabe à Advocacia-Geral da União (AGU). Já sobre as suspeitas de pagamento de propina em suposto contrato para aquisição de vacinas da farmacêutica AstraZeneca, Queiroga se referiu a "criaturas do pântano que surgem por aí", sem nomear os envolvidos.
— Surgiu uma denúncia envolvendo um servidor e eu exonerei. E farei isso todas as vezes que surgirem fatos correspondentes. A função do ministro não é culpabilizar ou não, é gerir — comentou, em alusão a Roberto Dias, ex-diretor de Logística do ministério, envolvido em denúncias que vêm sendo apuradas pela CPI.
A edição de uma medida provisória para a liberação de R$ 2,2 bilhões para as Santas Casas do Brasil também foi mencionada na entrevista coletiva. Para a Santa Casa de Porto Alegre, já foi autorizado o repasse de R$ 2,2 milhões.
Antes de deixar a Capital, Marcelo Queiroga passa ainda pelos hospitais Moinhos de Vento e Conceição — neste, a pauta inclui uma atualização dos números do enfrentamento à pandemia (atendimentos e leitos) e um pedido de ajuda financeira para a finalização da obra do centro de oncologia.