O pequeno lote com 31.780 doses de CoronaVac que começa a ser distribuído nesta terça-feira (4) no Rio Grande do Sul será destinado para aqueles indivíduos que receberam a primeira vacina da remessa de 20 de março. Hoje, 40.470 pessoas completam 45 dias de intervalo entre doses (considerando a data da distribuição). Somam-se a elas mais de 424,2 mil que já passaram do prazo de 28 dias entre doses, elevando o total que aguarda o reforço para 464,7 mil.
A partir da aplicação dessas mais de 31,7 mil injeções, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) pretende concluir o esquema vacinal de 97% das pessoas que receberam a dose 1 (D1) referente ao lote de 20 de março. Ainda assim, faltarão 3%, ou aproximadamente 8,6 mil doses, para esse grupo.
Completam 39 dias entre doses nesta terça aqueles que iniciaram a vacinação em 27 de março, com a remessa recebida no dia anterior. Esse grupo totaliza 223.400 pessoas que aguardam a segunda dose, ou 98%. Na última sexta (30), também venceram os 28 dias de mais de 200,8 mil pessoas que receberam as doses referentes ao lote de 2 de abril.
A SES informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tem previsão de chegada de um novo lote de CoronaVac ao Estado.
Distribuição
De acordo com a planilha de distribuição das vacinas organizada pela SES, desse lote de 31,7 mil doses, apenas três municípios receberão mais de mil doses de CoronaVac: Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas.
Na Capital, que terá disponíveis 4.890 doses, a prioridade desses imunizantes será dada para quem tem 28 dias ou mais de atraso em relação à dose 1. A partir de quarta (5), a vacinação será retomada exclusivamente para pessoas com mais de 60 anos, profissionais de saúde e de apoio que receberam a primeira dose em 8 de abril ou antes, informou a Secretaria Municipal de Saúde. Serão quatro pontos para quem já cumpriu o intervalo de 28 dias ou mais.
Caxias do Sul ficará com 1.110 doses e Pelotas, com 1.080. No fim da lista, figuram 53 municípios que não receberão nenhuma CoronaVac para segunda dose.
Atraso na segunda dose da CoronaVac é prejudicial?
O intervalo entre doses superior ao recomendado pelo fabricante da CoronaVac ainda não tem seus efeitos conhecidos, apontam especialistas. Em bula, o Instituto Butantan, que fabrica essa vacina contra a covid-19 no Brasil, recomenda de duas a quatro semanas entre a dose 1 (D1) e a dose 2 (D2), porém, a escassez do imunizante tem aumentado essa lacuna.
No Rio Grande do Sul, levantamento feito pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) com dados compilados até a última sexta-feira (30) mostrou que faltam 40.470 doses para concluir o esquema vacinal de idosos que receberam o imunizante da remessa distribuída em 20 de março. Nesta terça (4), esse grupo completa 45 dias de intervalo entre doses (considerando a data de distribuição). Os resultados dessa ampliação são desconhecidos:
— É pular no escuro. Podemos pular e ter uma piscina maravilhosa nos esperando. Pode ser que melhore o efeito da vacina, ou pode reduzi-lo. Ninguém sabe — avalia o doutor em Epidemiologia Paulo Petry, que é professor da Faculdade de Odontologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
As incertezas são justificadas pela ausência de estudos que avaliem essa flexibilização nos prazos entre as vacinas, explica Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Conforme o médico, diferentemente de outros imunizantes, como Pfizer e AstraZeneca, a CoronaVac não foi testada com intervalos diferentes. O que se sabe de eficácia diz respeito ao intervalo de duas a quatro semanas usado nos ensaios clínicos. Portanto, não se pode avaliar perdas ou ganhos de um período maior.
— Não estou dizendo que é melhor ou pior. Mas, com a CoronaVac, estamos no campo do desconhecido. Pode ser que seja até melhor, ou pode haver perdas. Não temos essa informação. A recomendação é não atrasar — salienta.
Petry lembra que esticar o período entre doses foge da recomendação do fabricante e pode ser classificado como algo preocupante:
— Isso é ruim, é uma má notícia. Eu ficaria preocupado com esse atraso, pois não se sabe o que pode acontecer.
Kfouri reforça que pessoas que ainda não completaram o esquema, por qualquer razão, devem fazê-lo o quanto antes. Por outro lado, diz o diretor da SBIm, jamais se deve recomeçar o esquema:
— O esquema é terminado com a dose subsequente, independentemente do tempo de atraso.
A SES informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tem previsão de chegada de um novo lote de CoronaVac ao Estado.