A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, credita a melhora recente nos índices da pandemia no Rio Grande do Sul às medidas de restrição de circulação implementadas em 27 de fevereiro deste ano:
— Como se faz para parar a circulação do vírus? Diminuindo a circulação das pessoas, e a forma mais concreta é justamente restringindo. Esta diminuição de casos é uma prova concreta de que as restrições tiveram resultado.
Após três semanas de limitações mais duras ao funcionamento de diversas atividades, Arita defende a forma como as regras foram aplicadas pelo Estado e afirma que não teria "como dizer que, se as medidas fossem mais duras, teria sido melhor o resultado".
Arita cita três motivos para a alta das contaminações pelo coronavírus neste ano: a circulação maior de pessoas no período do verão, a falsa sensação de segurança causada pela chegada das vacinas e a entrada da cepa P.1 no RS. Ela confia que, mesmo com o afrouxamento das restrições com a volta da cogestão dos municípios, a fiscalização deverá ajudar a evitar aglomerações e as consequentes infecções pela covid-19.
Veja trechos da entrevista:
Na avaliação da Secretaria Estadual da Saúde, a melhora nos indicadores da pandemia é resultado direto das medidas restritivas adotadas? Ou há outras explicações?
Houve resultados positivos (com as restrições), aconteceram melhoras expressivas, e a comprovação científica disso está nos números. Se formos fazer os comparativos do mês de fevereiro com março, vemos movimentos interessantes. Primeiro, trabalhamos para aumentar os leitos de UTI porque vimos que a curva de internações estava muito acelerada. Segundo, se observa que, neste período de bandeira preta sem cogestão, o número de casos confirmados estava caindo. Como se faz para parar a circulação do vírus? Diminuindo a circulação das pessoas, e a forma mais concreta é justamente restringindo. Esta diminuição de casos é uma prova concreta de que as restrições tiveram resultado. Agora, é no período mais longo que aparece o efeito no número de internações. Já se observa que há uma diminuição de internações em leitos clínicos, mas nas UTIs ainda é muito lenta essa redução, porque tivemos que acionar a última etapa do plano de contingência, internando pessoas em emergências, blocos cirúrgicos, salas de recuperação, ou seja, usando todas as estruturas para não deixar ninguém sem assistência.
Um dos objetivos centrais do modelo de distanciamento controlado era evitar o colapso do sistema de saúde. Na primeira e na segunda ondas, em 2020, não houve colapso. Mas, agora, em 2021, foi diferente. Quando o modelo apontou risco alto, foram adotadas restrições, mas ainda assim o sistema colapsou. O modelo de distanciamento controlado antecipou o suficiente do que estava acontecendo na terceira onda?
Entendo que há pelo menos três fatores para o comportamento da pandemia em fevereiro, mas que são difíceis de monitorar, porque dependem de comportamentos da população. Primeiro, o verão. As pessoas passaram a circular muito mais, em férias. Um outro fator, a vacinação, que começou em 18 de janeiro. O anúncio da vacina pode ter dado uma falsa impressão de segurança sanitária. E, ainda, a entrada da variante P.1, mais agressiva, e que circulou rapidamente. Eu não concordo que o modelo não nos tenha dado suficientemente o alerta. Agora, outra questão: enfrentamos no final do ano eleição e início do ano com novos prefeitos. Então teve, também, o tempo dos novos prefeitos para que entrassem no modelo do distanciamento controlado com as regras e protocolos. Por isso, inclusive, estamos mudando a relação da cogestão com a fiscalização. Acho que esses ingredientes colaboraram para que o vírus tivesse uma grande transmissibilidade (na terceira onda). E o Rio Grande do Sul não foi diferente de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, o país inteiro.
Especialistas apontam que uma testagem em massa poderia detectar em tempo real mudanças bruscas no comportamento do vírus. Com mais testagem, o Estado poderia ter antecipado o cenário e as medidas de restrição?
Testes à disposição no Estado, existem. O mais demorado é o resultado. Estamos encaminhando à Fiocruz e, às vezes, chega a demorar sete dias. E aí voltamos à questão comportamental: conheço casos de pessoas com sintomas que não foram fazer o teste de antígeno numa farmácia e que circularam igual, foram trabalhar igual. Tem esse fator cultural. Não temos falta de testagem. Temos centrais regionais, que recebem as amostras, organizam e encaminham para análise. Em janeiro diminuiu o número de testes. Por que diminuiu? Não estava tão forte o vírus. As pessoas não foram testar porque não tinham indicação de teste. Como eu faço para testar em massa? Testando todo mundo todas as semanas? Faço nesta semana 5 milhões de testes? E na semana que vem de novo? Ainda sobre a questão da testagem, o governo do Estado tentou comprar testes de antígeno, e acabamos não conseguindo licitar. Também tínhamos outro projeto que não conseguimos implementar, junto ao programa do Dados do Bem, que era para rastrear os contatantes de casos confirmados. Isso poderia ter nos ajudado. Confirma que o Gabriel está com covid? Vamos ver com quem ele circulou na última semana. Isso não foi possível porque o programa acabou não acontecendo. Isso nos daria quando o sinal está amarelo, vermelho e tem que voltar para o preto, do ponto de vista pré-aumento de casos. Quanto à testagem, acho que poderíamos ter avançado.
Os números mostram e a senhora reafirma que as medidas de bandeira preta e suspensão da cogestão adotadas deram resultados positivos. Se as medidas fossem mais duras, os resultados seriam ainda melhores, com uma queda mais rápida nos indicadores?
Todas as medidas que o governo do Estado adota são discutidas no gabinete de crise, baseadas em evidências técnicas e científicas. Não tenho como dizer que, se as medidas fossem mais duras, teria sido melhor o resultado. Não teria como comprovar essa afirmação. Tenho como comprovar os resultados das medidas adotadas. As medidas foram bastante oportunas. Fechamos a partir das 20h tudo. Ficaram abertos só os serviços essenciais. E quero registrar que houve uma grande colaboração de gestores e da área econômica. O resultado que obtivemos foi porque tivemos uma participação do setor econômico, positivamente.
Após três semanas de bandeira preta sem cogestão, o Estado passou à bandeira preta com cogestão. Como está o trabalho para fortalecer as fiscalizações?
A cogestão voltou, mas com o compromisso (de fiscalização) dos municípios. Mais de 400, de 432, já apresentaram os seus planos de fiscalização. O Estado deu um roteiro aos gestores municipais. Os municípios fizeram a elaboração dos planos. E nesse plano devem ficar claros três elementos: o diagnóstico dos estabelecimentos que vão abrir em cada município e quais atividades podem estar flexibilizadas em cada bandeira; segundo, tem que constar a equipe de fiscalização, e, se não tiver fiscais suficientes, o Estado reforça. O parâmetro é um fiscal a cada 2 mil habitantes. E, terceiro, as estratégias que serão implementadas para o exercício da fiscalização. Em paralelo ao plano, criamos um grupo central, integrando Corpo de Bombeiros, Brigada Militar, Polícia Civil, Vigilância em Saúde Estadual, e esse grupo se multiplicou nas 21 regiões covid. Esse grupo vai chamar os municípios e se colocar à disposição para ajudar na fiscalização.