O aumento dos anúncios de suspensão do uso da vacina contra a covid-19 produzida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford por diversos países, devido a relatos de possíveis efeitos colaterais, tem gerado uma série dúvidas e questionamentos. Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta terça-feira (16), a diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Cynthia Molina Bastos, afirmou que, até o momento, não há nenhum quadro do tipo que justifique a interrupção do uso do imunizante no Brasil ou no Rio Grande do Sul.
De acordo com ela, a maioria das doses distribuídas no Estado foi da vacina CoronaVac, pois os produtos da AstraZeneca/Oxford foram recebidos em menor quantidade. Além disso, há um espaço maior de tempo entre a primeira e a segunda dose, o que significa que grande parte das pessoas receberam até então somente uma aplicação.
Cynthia reforçou que é preciso separar o que são associações – coisas que acontecem ao mesmo tempo – e o que são situações de causalidade, porque essa é a grande diferença.
— A gente podia dizer agora que tinta de cabelo causa impotência, porque as pessoas que têm cabelo branco são mais velhas e pintam mais o cabelo, ou seja, as coisas acontecem ao mesmo tempo, mas não quer dizer que uma coisa cause a outra. Quando estamos falando de medicamentos, a situação é muito parecida — exemplificou.
A diretora também destacou que são realizadas investigações quando há casos de efeitos adversos e que elas já estão sendo feitas. O tempo para investigar as causas, no entanto, podem variar de três a 10 dias, dependendo da conclusão. Mesmo assim, as suspensões do uso do imunizante são um sinal de cuidado e não um problema em sua visão, considerando que o alerta internacional faz com que os casos sejam revisados:
— Se notou algo diferente, para e estuda com calma essas situações e esses pacientes para ver se tira alguma conclusão em relação a isso. Não temos no país nada desenhado que justifique (a suspensão), a Anvisa não lançou nenhum alerta até o momento e no nosso painel aqui do Estado também não tem.
Segundo Cynthia, a ideia de suspender o uso por precaução é interessante, mas, no Brasil, situações como essa fazem com que as pessoas não queiram se vacinar. Na opinião dela, essa desconfiança está relacionada a questões culturais, que colocam dúvidas sobre algo que ainda não está confirmado.
Ela salientou que não há nenhuma certeza até agora e que a orientação oficial dos órgãos internacionais é para não interromper o uso do imunizante, mas que se trata de uma determinação de cada país:
— A vigilância aqui não se manifestou em relação a parar em nenhum momento, porque não tem associação importante documentada dessa forma.
A diretora ainda explicou que o risco do tromboembolismo vai aumentando com a idade, por isso é mais frequente em pessoas mais velhas, e que há diversas questões epigenéticas, culturais, de movimentação e de padrão que podem influenciar em diferentes desfechos na área da saúde.
Como exemplo, ela citou a aplicação de doses em uma população no inverno, onde as pessoas estão dentro de casa, sem fazer exercícios, favorecendo o tromboembolismo, e em uma população no verão, onde os indivíduos saem para caminhar, fazem atividades físicas, se movimentam mais.
— Em uma população mais idosa e uma população menos idosa, por exemplo, a frequência de ter tromboembolismo é diferente nesses dois perfis. Ou seja, testar o mesmo medicamento em uma população mais jovem pode ter um resultado completamente diferente e o contrário também — concluiu.