No decorrer da última semana, alguns países anunciaram a suspensão do uso da vacina contra a covid-19 produzida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, devido aos relatos de aumento de coágulos sanguíneos em decorrência do seu uso. No domingo (14), a empresa divulgou um comunicado reafirmando a segurança do imunizante e informando que promoveu uma análise dos dados dos pacientes imunizados e que não foi identificado nenhum risco dessa natureza.
Em entrevista ao programa Gaúcha +, da Rádio Gaúcha, na tarde desta segunda-feira (15), o médico infectologista responsável pelo estudo da vacina no Rio Grande do Sul, Eduardo Sprinz, comentou sobre as suspensões e defendeu que, por enquanto, o produto da AstraZeneca/Oxford é seguro para a população. Segundo ele, as pesquisas sobre o imunizante recrutaram mais de 30 mil voluntários e em nenhum deles a formação de coágulos foi observada.
O infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) afirmou que as doenças que causam esse tipo de problema, chamado pelos médicos de trombose, são menores nas pessoas que já receberam alguma dose da vacina (cerca de 20 milhões) do que na população em geral:
— O que sabemos até o momento é que a vacina é segura, mas existem casos inesperados que ocorreram na Europa. Inesperados porque algumas dessas pessoas teoricamente não eram de risco para ter alteração de trombose, então é isso que vai ser estudado, vai ser visto se tem alguma relação com o lote de vacina ou se simplesmente é obra do acaso.
Sprinz também explicou que geralmente os pacientes com covid-19 são pessoas que já têm outras vulnerabilidades e que a própria doença está associada à tromboembolia ou à formação de coágulos nos pulmões, por exemplo. Isso significa que pessoas contaminadas pelo coronavírus têm mais chances de ter trombose ou coágulos, pois passam por um processo de inflamação em todo o organismo.
Ele garantiu ainda que essas possibilidades, chamadas de efeitos adversos graves, são relatadas aos voluntários da pesquisa, ao Comitê de Ética e Pesquisa e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas que muito provavelmente não tenham nada a ver com a vacinação. Além disso, o médico afirmou que a resposta sobre o que está causando esse aumento de coágulos sanguíneos deve ser descoberta rapidamente.
— Costuma ser rápido porque se sabe, por exemplo, que a vacina por si só não pode estar associada com isso. Então, será que tem alguma coisa que foi colocada a mais que possa fazer com que haja a indução de coágulos? Certamente, na avaliação dos constituintes, ou seja, das substâncias que fazem parte da vacina, será visto se houver alguma incongruência, algo que não está em acordo — esclareceu.
Sprinz ressaltou que, fora os profissionais de saúde, as pessoas que mais estão sendo vacinadas são aquelas mais vulneráveis, que integram algum grupo de risco ou são mais velhas, e, portanto, carregam consigo uma chance maior de formarem coágulos. De acordo com ele, essas complicações infelizmente fazem parte do processo e os episódios não podem fazer com que as pessoas desconfiem da vacina, que, por enquanto, é segura:
— Obviamente precisamos de mais e mais dados para ver se esse ruído vai ser simplesmente um ruído ou se tem alguma coisa diferente que possa estar causando ou aumentando as chances de algum evento embólico, um evento que faça com que a pessoa apresente um coágulo onde não deveria ter.
Por fim, o infectologista reforçou que a vacinação é a grande arma no combate à pandemia e que a população precisa ser imunizada o mais rápido possível, pois o benefício da vacina é “gigantescamente maior” do que o risco.
Ouça a entrevista completa: