Autodenominada pesquisadora gaúcha, Mellanie Fontes-Dutra, 28 anos, é nascida em Aracaju, capital do Sergipe. Veio para o Rio Grande do Sul com a família com apenas um ano de idade, o que lhe confere o título de "supergaúcha". Graduada em Biomedicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a jovem é mestre e doutora em neurociência e faz pós-doutorado em bioquímica, também pela universidade. Com a pandemia, Mellanie precisou abandonar a rotina no laboratório, local onde não coloca os pés há um ano. Aproveitou o tempo em casa para publicar dados do doutorado e trabalhar em gráficos e análises.
— Foi uma adaptação para poder ficar o máximo em casa. Pesquisando e aprendendo — conta.
Para além da dedicação aos estudos, a pesquisadora enxergou a lacuna entre a ciência e a população leiga e decidiu agir. Foi então que idealizou a Rede Análise Covid-19, um grupo formado pesquisadores de diversas áreas que, juntos, trabalham para disseminar informações científicas de enfrentamento à pandemia em linguagem acessível. Atualmente, a rede conta com 80 membros ativos, que se dividem para ajudar como podem: concedendo entrevistas, divulgando o projeto, fazendo análises, entre outras atividades.
Impulsionado pelo sucesso da Rede Análise Covid-19 no Twitter, o perfil pessoal de Mellanie também foi crescendo e ganhando reconhecimento entre os colegas. Em dezembro do ano passado, o projeto Science Pulse, ferramenta que conecta jornalistas aos cientistas que mais se destacam nas redes sociais, elegeu o perfil da pesquisadora como um dos principais influenciadores da ciência no microblog.
— É importante estar nas redes sociais, é relevante e necessário que cientista também esteja. Aproximando-se do cientista, a gente se aproxima da ciência. Com esse entendimento, (as pessoas) passam a defender a ciência, o que é ótimo para criar senso crítico e não se deixar levar pela sedução da desinformação — avalia.
Assim, ocorreu o pulo do gato: o perfil, criado em 2009 e que servia como diário virtual, ganhou viés profissional em 2015, e status de influenciador em 2020.
— Não tinha 2 mil seguidores — relata Mellanie, que hoje contabiliza mais de 39 mil seguidores.
O ponto alto da página, além do fato de divulgar informações de qualidade, é a linguagem simples e clara, adquirida da experiência que teve como professora. Ilustrados com gráficos e GIFs (imagens animadas), os tuítes buscam desmistificar e traduzir as produções científicas sobre a covid-19.
— As pessoas se apropriam das coisas quando entendem e ficam menos suscetíveis à desinformação. Todos os dias, no Twitter ou no Instagram, respondo mensagens: "Mell, aquele remédio é tudo mesmo? Isso faz sentido?". Isso é legal porque cria um ambiente acolhedor no qual a pessoa não se sente constrangida em perguntar — comemora.
A desinformação, aliás, é um dos maiores desafios de Mellanie e dos cientistas em geral. Sobre esse tema, a pesquisadora critica a postura de alguns profissionais que disseminam informações sem comprovação nenhuma e reforça que a sociedade também exerce papel importante ao difundir esse tipo de mensagem. O machismo também é outro ponto que se soma à desinformação e que prejudica as cientistas do sexo feminino, que sofrem ataques constantes nas redes, denuncia Mellanie.
Daqui para frente, opina a cientista influenciadora, a melhor saída para controlar a disseminação do vírus é investir em medidas mais restritivas. Ela diz que a população precisa compreender que esse processo não se resolve em uma semana e que exige paciência para que a situação saia do caos atual.
— A única forma de encarar a pandemia é como sociedade, tendo cidadania. Vacinas são estratégias engajadas pela sociedade. Precisamos cobrar mais imunizantes, precisamos acelerar a imunização e, enquanto fazemos isso, necessitamos aumentar as restrições e fiscalização. Quando priorizamos a saúde, priorizamos todos os demais setores. Essa dualidade entre saúde e economia não existe. Se eu invisto em saúde, eu invisto em economia — defende.