Bióloga com mestrado e doutorado em qualidade ambiental pela Feevale, a leopoldense Juliana Schons Gularte, 30 anos, sempre esperou que sua escolha profissional contribuísse com a sociedade. O que talvez fosse inesperado é que essa colaboração viesse de forma tão intensa: Juliana trabalha no laboratório da universidade que processa testes PCR para 40 municípios do Vale do Sinos. Além disso, atua em projetos paralelos, como o de sequenciamento viral das novas variantes do coronavírus e outro que faz isolamento viral para testar o soro de pacientes que tiveram quadros graves de covid-19.
Em um 2020 que parece distante, Juliana defendeu a tese de doutorado e logo em seguida foi engolida pela rotina da pandemia: ela foi selecionada pela ONG norte-americana Dimensions Sciences para receber uma bolsa de três meses a fim reforçar a força-tarefa de diagnósticos de coronavírus na região do Vale.
— Parece que eu nem lembro mais do período pré-pandemia. Antes, eu estava na correria do doutorado. Assim que defendi, começou a função da pandemia. Já prevendo que ia chegar aqui, começamos a nos organizar. Logo que estourou, ali por abril, maio, tivemos um pico de diagnósticos que durou muito tempo. Era uma rotina bem pesada, horas seguidas de trabalho. Com o tempo, conseguimos mais alunos e funcionários e ajustamos os horários — relembra.
Como naquele momento tudo era novidade, além da carga horária, as questões emocionais também pesavam muito. O medo de se contaminar e as mudanças na rotina afetavam a todos. Com o tempo, Juliana e os colegas foram se ajustando e se adaptando para encarar a nova realidade.
Terminados os três meses de custeio da ONG, Juliana conseguiu outra bolsa no pós-doutorado da Feevale, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), para dar prosseguimento ao trabalho.
— Muitas vezes, o pessoal não entende e pergunta: "Mas tu só estudas?". A academia fica distante da sociedade. Mas a pandemia mudou muito as coisas sobre a real importância das nossas pesquisas. Deu para ver uma pequena mudança em como nos enxergam, o que é importante — diz.
O que nem todos sabem é que a suposta vida dedicada “só aos estudos” tem importância indiscutível nessa pandemia e, possivelmente, nas que virão. Para se ter uma ideia, o laboratório em que Juliana trabalha já testou mais de 40 mil amostras, ou seja, ajudou a dar celeridade aos diagnósticos, evitando que pessoas contaminadas pelo coronavírus continuassem circulando:
— Se não estivéssemos aqui, milhares de amostras estariam em outros laboratórios, que, possivelmente, não teriam estrutura para absorvê-los. Tudo o que estamos estudando e aprendendo fica para os próximos surtos, epidemias e pandemias.
Atualmente, o trabalho toma a maior parte da agenda. A execução do sequenciamento do vírus, afirma, reserva muitas descobertas que ajudarão a dar respostas à população. Segundo Juliana, enquanto o vírus mantiver esse ritmo de circulação, aumentam as chances de surgirem novas variantes, como já aconteceu em Manaus e no Reino Unido, por exemplo.